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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/01/1970 01/01/1970 5 / 5 / 5
Distribuidora

Saia Pela Loja de Souvenirs
Exit Through the Gift Shop

Dirigido por Banksy. Com: Thierry Guetta, Shepard Fairey, Banksy, Space Invader e a voz de Rhys Ifans.

O imigrante francês Thierry Guetta, radicado há anos em Los Angeles, só pode ser descrito através de uma palavra: figuraça. Baixinho, gordinho, falando com um forte sotaque e exibindo imensas costeletas e um bigode de ator de filme pornô, Guetta passou a vida obcecado por câmeras, filmando praticamente todos os segundos de sua vida, desde instantes realmente importantes até besteiras como suas idas ao banheiro. Mas foi ao descobrir o movimento de arte de rua encabeçado por grafiteiros que o sujeito encontrou sua verdadeira vocação, passando a registrar a ação destes indivíduos enquanto deixavam suas marcas nas paredes da cidade e decidindo que transformaria tudo aquilo em um documentário.

Tornando-se próximo de figuras como seu primo Space Invader e o designer Shepard Fairey (que se tornaria conhecido por criar a icônica imagem que trazia Barack Obama sobre a palavra “Hope”), Guetta finalmente realizou seu maior sonho ao conhecer o misterioso artista britânico Banksy, que, mesmo reticente, acolheu o francês esquisitão, levando-o para suas ações artísticas de caráter clandestino. Eventualmente, porém, o inglês constatou o óbvio: o sujeito não tinha qualquer condição de transformar aquelas milhares de horas filmadas em algo coerente e, assim, decidiu assumir o controle da empreitada, transformando o bizarro Thierry Guetta em seu protagonista.

E que protagonista: dono de uma loja de roupas em Los Angeles, o francês se tornou bem-sucedido ao comprar peças defeituosas por um preço mínimo e revendê-las por uma fortuna ao apresentá-las como roupas costuradas por designers. Revelando a origem de sua obsessão por filmagem ao explicar que perdeu a mãe muito jovem e decidiu, a partir daí, registrar todos os momentos para a posteridade, Guetta é abraçado pela comunidade dos artistas de rua justamente por oferecer a estes a chance de eternizar as peças que criavam e que normalmente eram removidas com rapidez pela administração pública.

Enfocando as curiosas obras destes diferentes grafiteiros, Exit Through the Gift Shop se torna ainda mais interessante quando o próprio Banksy entra em cena, já que suas instalações se revelam fascinantes tanto conceitualmente quanto em sua execução – e, da mesma forma, seus depoimentos (sempre oferecidos com o rosto encoberto e a voz distorcida) estão entre os mais divertidos e inteligentes do filme: ao descrever, por exemplo, sua reação ao assistir à versão criada por Guetta a partir das imagens originais, Banksy diz sem qualquer traço de ironia: “No fim das contas, ele não era um cineasta, mas uma pessoa com problemas mentais que por acaso tinha uma câmera”. Ainda assim, o grafiteiro-cineasta se mostra generoso o bastante para sugerir que o francês abrace de vez o movimento e se converta num artista de rua – uma sugestão que Guetta leva bem mais a sério do que qualquer um poderia imaginar.

Aliás, os esforços do sujeito para se estabelecer como um nome reconhecido no meio acabam dominando a segunda metade da projeção e remetendo a documentários como Nossa Vida Exposta e Pintora aos Quatro Anos ao despertar questionamentos sobre a natureza da Arte e a falta de lógica em seu dimensionamento financeiro: como, por exemplo, determinar o que é Arte Contemporânea e o que é simplesmente lixo? E, sendo Arte, como estabelecer seu preço? Quem tem autoridade suficiente para julgar estas questões? Qual o papel do hype no processo? E o da especulação feita por marchands?

Com isso, Exit Through the Gift Shop acaba funcionando em vários níveis: não só documenta de fato o surgimento, o auge e o declínio (em função da comercialização) do movimento de arte de rua como ainda se estabelece como um estudo de personagem divertido e revelador sobre o estranho Thierry Guetta – conseguindo, além disso, discutir de forma pertinente as questões abordadas no parágrafo anterior.

E mesmo que, aqui e ali, o filme desperte dúvidas quanto à autenticidade de Guetta, que poderia acabar se revelando apenas mais um projeto de Banksy, devo dizer que particularmente duvido que este seja o caso.  O francês é estranho demais para ser uma fraude.

30 de Outubro de 2010

Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura da Mostra Internacional de Cinema de SP 2010.

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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