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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
27/08/2010 01/01/1970 3 / 5 3 / 5
Distribuidora

Direção

Harald Zwart

Elenco

Jaden Smith , Jackie Chan , Taraji P. Henson , Han Wenwen , Yu Rongguang , Wang Zhenwei

Roteiro

Christopher Murphey

Produção

Jada Pinkett Smith

Fotografia

Roger Pratt

Música

James Horner

Montagem

Joel Negron

Design de Produção

François Séguin

Figurino

Han Feng

Direção de Arte

Second Chan

Karate Kid (I)
Karate Kid

Dirigido por Harald Zwart. Com: Jaden Smith, Jackie Chan, Taraji P. Henson, Han Wenwen, Yu Rongguang, Wang Zhenwei.

1984 foi um ano impressionante para o cinema hollywoodiano: se por um lado tínhamos Milos Forman com seu espetacular e ambicioso Amadeus, os irmãos Coen estreando com seu Gosto de Sangue e Sergio Leone voltando ao topo com seu grandiloqüente Era uma Vez na América, por outro éramos presenteados também com produções com um apelo mais popular que nem por isso desrespeitavam o espectador e que funcionavam como entretenimento de primeira linha: O Exterminador do Futuro, Os Caça-Fantasmas, Um Tira da Pesada, A Hora do Pesadelo, A História Sem Fim, This is Spinal Tap, Indiana Jones e o Templo da Perdição, Gremlins, Footloose, Tudo por uma Esmeralda, Top Secret!, Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock e Splash – Uma Sereia em Minha Vida – isto para não citar o cinema fora de Hollywood, que trouxe obras inesquecíveis de Miyazaki e Wim Wenders. Assim, não deixa de ser surpreendente que um dos longas mais eficientes e adorados daquele ano tenha sido justamente aquele que se concentrava na historinha simples de um adolescente (Ralph Macchio, perfeito) que, massacrado por valentões de sua escola, tornava-se amigo de um velho japonês (Pat Morita, indicado ao Oscar) que, sob a frágil aparência, ocultava um imenso conhecimento sobre artes marciais. Estou falando, claro, de Karatê Kid – A Hora da Verdade, que agora ganha uma refilmagem que rejuvenesce o protagonista e seu sensei, mas que, embora funcione em vários aspectos, não chega perto de fazer jus à eficiência do original.

Escrito por Christopher Murphey a partir da história concebida por Robert Mark Kamen em 84, o roteiro gira em torno do garotinho Dre Parker (Jaden Smith, filho de Will e Jada Pinkett e co-produtores do filme), que se muda para a China ao lado da mãe (Taraji P. Henson). Depois de manifestar interesse pela jovem violinista Meiying (Wenwen), ele acaba se tornando vítima dos ataques constantes do violento estudante de kung fu Cheng (Zhenwei) – o que apenas serve para salientar seu isolamento em um país tão diferente daquele no qual cresceu. É então que Dre se torna amigo do solitário zelador Sr. Han (Chan), que decide ensinar kung fu ao garoto para que este possa se defender dos valentões em um torneio que acontecerá dentro de alguns meses.

Descartando sem maiores preocupações o óbvio conflito entre o tipo de luta praticado por Dre e o título do filme (a mãe do garoto chega a dizer “Karatê, Kung Fu, tanto faz!”), o roteiro de Murphey segue de perto a trama original, recuperando diálogos emblemáticos (“Não há mau aluno; apenas mau professor.”), pontos específicos da trama (do interesse romântico do protagonista ao mestre que ensina seus alunos que a “misericórdia” deve ser ignorada) e até mesmo alguns golpes desferidos pelos personagens (como a “rasteira” aplicada no herói em seu primeiro confronto com o vilão). Por outro lado, esta nova versão não se furta de fazer inspiradas brincadeiras com momentos clássicos da obra de John G. Avildsen, como no instante em que Han surge aparentemente tentando capturar uma mosca com dois pauzinhos – e esta irreverência inicialmente parece indicar que, apesar de respeitar o original, o filme irá tentar se estabelecer como esforço independente. Algo que, infelizmente, não se confirma.

Dono de uma carreira no mínimo irregular (seu melhor trabalho é o razoável O Agente Teen; seu pior, A Pantera Cor-de-Rosa 2), o diretor Harald Zwart até consegue criar alguns bons momentos neste Karate Kid: a introdução do longa, por exemplo, é hábil ao retratar a perda de Dre através de marcas deixadas no batente de uma porta e também ao ilustrar a crise econômica que o obriga a partir com a mãe para outro país. Em contrapartida, o cineasta revela suas limitações criativas ao investir em uma elipse boba criada através da fusão do círculo central de uma quadra de basquete com um olho mágico, pecando também pela obviedade ao situar um refletor atrás de Jackie Chan nos instantes em que este compartilha seus conhecimentos com o pequeno Dre (o propósito, claro, é criar uma representação visual da sabedoria do mestre, mas acaba resultando num excesso de flares que deixa até mesmo o Star Trek de J.J. Abrams no chinelo). Além disso, Zwart perde pontos ao bombardear o espectador com um dos clichês mais ofensivos do gênero: a montagem romântica que traz o casal principal se aproximando e se apaixonando enquanto os pombinhos passeiam alegremente por locais pitorescos. (Sim, o original também contava com uma seqüência do tipo – mas há 26 anos.)

Demonstrando ter herdado o carisma do pai (algo já evidenciado em À Procura da Felicidade), Jaden Smith encarna Dre com uma expressividade admirável: irreverente e bem-humorado, o garoto contrapõe estas características aos instantes em que surge amedrontado e confuso, soando ainda mais real ao tentar conter o choro em sua primeira briga com Cheng. Enquanto isso, Taraji P. Henson faz milagre com o papel menor da mãe do protagonista, estabelecendo-a como uma mulher carinhosa e protetora que, ainda assim, não hesita em esbravejar diante do desleixo do filho. No entanto, o destaque do filme acaba ficando por conta de Jackie Chan, que, talvez pela primeira vez em sua carreira, abraça um personagem dramático que exige mais do que seu bom-humor e sua simpatia habituais – e é preciso reconhecer que o sujeito se sai maravilhosamente bem: exibindo uma postura cansada e derrotada, Chan traz seu carisma costumeiro e suas habilidades físicas impressionantes ao papel, mas acaba surpreendendo mesmo em uma cena particularmente dolorosa na qual o Sr. Han revela seu passado ao pequeno discípulo (e é uma pena, portanto, que o roteiro, para ilustrar sua dor, estabeleça um ritual tão ridículo como o de reconstruir o carro, já que isso compromete o impacto da revelação).

Este “ritual”, porém, não é o único tropeço de Karate Kid: depois de estabelecer a dor de Miyag... digo, do Sr. Han, o filme simplesmente resolve seu drama pessoal ao mostrá-lo agradecendo a Dre pela “lição” aprendida através de (não perguntem) bambus amarrados em seus pulsos: “quando a vida nos derruba, podemos escolher entre permanecer caídos ou levantar” – uma frase genérica e piegas que estaria mais à vontade num livro de auto-ajuda do que na boca de um suposto sensei. Como se não bastasse, o roteiro comete o gravíssimo erro de flertar com o misticismo ao trazer Dre visitando uma espécie de monastério repleto de mestres em treinamento e no qual não apenas bebe de uma fonte que supostamente o torna “invencível” como ainda inclui a estranha visão de uma mulher hipnotizando uma serpente.

O que nos traz, claro, à seqüência final que compreende o torneio: depois de brindar o espectador com uma impecável cena de luta na qual Jackie Chan usa os golpes de seus oponentes contra eles mesmos, o diretor Harald Zwart renega esta promessa ao enfocar as lutas do campeonato com a irritante câmera espasmódica e com os cortes constantes que impedem que o público admire com clareza a coreografia dos combates, resultando numa colossal decepção, já que este deveria ser o clímax da narrativa. Como se não bastasse, o uso de efeitos digitais para intensificar a força dos golpes acaba tornando tudo ainda mais implausível, já que seria absurdo aceitar que crianças tão jovens fossem capazes de desferir socos e chutes tão poderosos – ou mesmo resistir à força destes, posto que até mesmo um adulto desmaiaria sob tamanho impacto. (E o uso de – juro! – replays em câmera lenta é simplesmente patético, mesmo que seja justificado pela infra-estrutura do torneio.) Com isso, Karate Kid não cumpre a promessa de catarse que surgiria como resultado das lutas de Dre, que surgem mais como ficção científica do que como embates reais – o que é ressaltado pelo instante patético (para dizer o mínimo) em que o garoto influencia o adversário a repetir seus movimentos.

Valendo ao menos pelo belo uso das locações e pela ótima dinâmica entre Jaden Smith e Jackie Chan, Karate Kid é uma modernização apenas razoável do filme de 1984 – e é triste percebermos que esta “modernização” pode ser sintetizada através da substituição da maravilhosa trilha sonora do original (composta por Bill Conti) pela canção-tema que aqui surge na voz medíocre e infantil de Justin Bieber, torturando o público com crueldade. Ao que parece, os realizadores seguiram o lema do impiedoso treinador dos Cobra Kai e decidiram que a piedade é para os fracos.

Observação: As fotos de bastidores que surgem durante os créditos finais e revelam Will Smith e Jada Pinkett nos sets acabam servindo como prova da perigosa auto-indulgência dos produtores, que trataram uma amada franquia como um projeto familiar.

27 de Agosto de 2010

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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