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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
21/09/2007 01/01/1970 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
117 minuto(s)

Hairspray - Em Busca da Fama
Hairspray

Dirigido por Adam Shankman. Com: Nikki Blonsky, John Travolta, Christopher Walken, Michelle Pfeiffer, Amanda Bynes, Queen Latifah, Zac Efron, James Marsden, Brittany Snow, Elijah Kelley, Allison Janney, Jerry Stiller.

Não é a primeira vez que um filme origina um musical da Broadway que, por sua vez, acaba sendo adaptado para o cinema em uma versão repaginada. Antes de Hairspray, já tivemos o exemplo bem-sucedido de A Pequena Loja dos Horrores, que de terror barato (e curioso) dirigido por Roger Corman transformou-se em obra-prima de Frank Oz, e o desastre de Os Produtores, que revelou-se uma releitura descartável de Primavera para Hitler. Pois Hairspray não se encontra em nenhum destes extremos: embora empalideça diante do original de 1988, o longa comandado por Adam Shankman tem vários bons momentos e valores de produção que merecem fartos elogios.

Escrito por Leslie Dixon a partir do musical criado por Mark O’Donnell (que, por sua vez, inspirou-se no roteiro de John Waters), o filme conta a história da jovem Tracy Turnblad (Blonsky), uma gordinha vivaz que, no início da década de 60, sonha em participar do “Corny Collin’s Show”, um programa de televisão que traz jovens dançando ao som dos últimos sucessos do rock’n roll. Depois de alcançar seu objetivo, porém, ela é obrigada a enfrentar os ciúmes da invejosa Amber Von Tussle (Snow), que não aceita o fato de seu namorado, o popular Link Larkin (Efron), se encantar com a novata. Ao mesmo tempo, Tracy demonstra sua revolta com a segregação racial em sua cidade e se esforça para que o programa passe a adotar a integração, permitindo que negros e brancos dividam a pista de dança.

Mantendo-se relativamente fiel ao filme original, este novo Hairspray difere pontualmente ao aumentar a importância de Velma Von Tussle, mãe de Amber, e ao criar mais obstáculos para a entrada de Tracy no programa de Corny Collin – o que, convenhamos, é uma boa medida, já que um dos problemas do longa de 1988 era tornar tudo fácil demais para a garota, o que o enfraquecia dramaticamente. Por outro lado, a grande diferença entre as duas versões consiste na transformação de um “filme com músicas” para um musical tradicional: e, no processo, a trilha recheada de clássicos do rock compilada por John Waters é substituída por canções originais através das quais os personagens expressam seus sentimentos.

Péssima troca. No lugar de clássicos de Chubby Checker e outras gravações nostálgicas como “Duke of Earl” e “Shake a Tail Feather”, ouvimos uma trilha terrivelmente irregular que, além de várias músicas medíocres, ainda se mostra aborrecidamente auto-indulgente, já que praticamente todos os personagens coadjuvantes ganham uma oportunidade de protagonizar seus próprios números, desviando o foco da narrativa e deixando o filme longo e com ritmo frouxo. E se a mensagem política complementava perfeitamente o filme de Waters, aqui soa defasada, frágil e intrusiva – e a chatíssima seqüência musical estrelada por Queen Latifah em uma passeata comprova isso.

Por outro lado, o novo Hairspray supera seu antecessor em praticamente todos os aspectos técnicos: da direção de arte que combina elementos de época com uma lógica visual mais estilizada aos penteados absurdos das personagens femininas, esta nova versão jamais deixa de impressionar. Em contrapartida, o diretor Adam Shankman, coreógrafo veterano e péssimo cineasta (A Casa Caiu, Doze é Demais 2, Operação Babá), demonstra uma falta de imaginação alarmante, concebendo os números musicais da maneira mais tradicional possível, dando preferência a quadros imóveis em planos gerais e conjuntos e cortando ocasionalmente para um ou outro plano mais fechado ou para um plongé que revele o movimento sincronizado dos dançarinos. Observando as danças sempre à distância, Shankman mantém sua câmera no papel de um espectador em um teatro, ignorando a possibilidade de torná-la mais ativa ou reveladora – e chega mesmo a cometer erros primários, como permitir que, em uma rápida cena ambientada no corredor da casa dos Turnblad, Christopher Walken cubra John Travolta ao fundo, bloqueando nossa visão do ator.

Travolta, por sinal, converte-se numa mera curiosidade em Hairspray, já que mostra-se inexpressivo e claramente limitado pela pesada maquiagem, tornando-se uma diversão apenas por estar travestido. Aliás, não consigo compreender a necessidade de escalar um homem para o papel de Edna: no original, havia um propósito por trás da decisão de escalar o travesti Divine: além de amiga de John Waters e velha parceira de trabalho, ela representava um comentário social e moral pelo simples fato de viver uma conservadora dona-de-casa dos anos 60 (e a mesma lógica levou Waters a escalar Deborah Harry e Sonny Bono como o casal Von Tussle) – e, neste sentido, é até lógico que o também homossexual Harvey Fierstein tenha encarnado Edna na Broadway. Porém, Travolta é adepto de uma religião conservadora (para não dizer absurda) que, entre outras coisas, condena a homossexualidade. Assim, sua escalação apresenta-se como mero truque de marketing para despertar a curiosidade do público, o que é lamentável. (E, para piorar, não temos nem mesmo o prazer de vê-lo dançando como nos velhos tempos, já que Shankman o amarra a coreografias chatíssimas que não representam qualquer desafio para um ator que construiu a carreira a partir de seu talento para a dança.)

Já Michelle Pfeiffer explora ao máximo a oportunidade de encarnar uma vilã – e também relembra a juventude (ela estreou justamente na continuação de Nos Tempos da Brilhantina) ao soltar a voz num dos poucos números realmente bons do filme, “Miss Baltimore Crabs”. Já Queen Latifah tem a tarefa ingrata de assumir o papel originado pela lendária Ruth Brown, mas acaba demonstrando carisma apesar da já citada seqüência envolvendo uma passeata. E se Zac Efron e Britanny Snow pouco têm a fazer, Amanda Bynes mais uma vez demonstra imenso carisma como a engraçadinha Penny Pingleton. Finalmente, a estreante Nikki Blonsky (que se parece com a Ricki Lake do original!) surge como a grande descoberta do projeto, mostrando-se expressiva e surpreendentemente segura para alguém com a difícil tarefa de carregar um filme nas costas.

Caso tivesse 20 minutos e alguns números musicais a menos, Hairspray poderia ser uma surpresa tão divertida quanto o original (que tampouco é um clássico). Inchado como ficou, porém, é apenas um passatempo pouco memorável.

Observação: Alguns integrantes do filme de 1988 surgem em pontas ao longo desta versão: John Waters aparece logo no início, como um pervertido que abre a capa-de-chuva para se expor para Tracy; Ricki Lake surge como a única mulher entre os jurados na apresentação final; Shawn Thompson (o Corny Collins original) pisca na tela como um repórter de TV; e Jerry Stiller (o pai de Tracy em 88) agora encarna o sr. Pinky, estilista das gordinhas.

20 de Setembro de 2007

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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