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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
07/08/2009 01/01/1970 1 / 5 1 / 5
Distribuidora

G.I. Joe: A Origem de Cobra
G.I. Joe: Rise of Cobra

Dirigido por Stephen Sommers. Com: Channing Tatum, Marlon Wayans, Dennis Quaid, Sienna Miller, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Christopher Eccleston, Joseph Gordon-Levitt, Lee Byung-hun, Ray Park, Rachel Nichols, Kevin J. O’Connor, Jonathan Pryce, Saïd Taghmaoui, Arnold Vosloo, Brendan Fraser.

Não é difícil compreender o problema principal de filmes como Transformers 2 e este seu primo G.I. Joe: fascinados pelas possibilidades cada vez maiores oferecidas pelos efeitos criados em computador, diretores como Michael Bay e Stephen Sommers (Van Helsing) parecem se esquecer que, por mais sofisticadas e grandiosas que sejam suas trucagens digitais, uma história só consegue funcionar realmente se, em algum grau, o espectador conseguir estabelecer alguma relação psicológica com o que está ocorrendo na tela. Sim, podemos até apreciar uma explosão intensa ou uma seqüência de ação bem coreografada, mas são os personagens, os elementos humanos da trama (ou no mínimo antropomorfizados), que finalmente servirão como âncoras emocionais e/ou racionais para o público – e, sem isso, teremos apenas uma experiência sensorial que poderá ou não prender nossa atenção por um espaço limitado de tempo, mas que certamente será esquecida quando as luzes se acenderem.

Baseado nos brinquedos comercializados pela Hasbro (sim, a mesma companhia responsável pelos Transformers), G.I. Joe conta com uma trama surpreendentemente rasa – e, ainda assim, confusa – para um filme cujo argumento foi concebido por três pessoas e cujo roteiro foi escrito por mais três: depois de uma cena inicial artificial e dispensável, saltamos para um “futuro não muito distante” no qual uma empresa conhecida pelo acrônimo M.A.R.S. acaba de desenvolver uma tecnologia poderosíssima: robôs minúsculos que, funcionando como uma espécie de “nanocupins”, devoram todo o metal que encontram à sua frente. Depois de vender os bichinhos para a OTAN, o bilionário McCullen (Eccleston) encarrega a bela Baronesa (Miller) e o ninja Storm Shadow (Byung-hun) de roubarem a invenção – e para isso a dupla deverá enfrentar os G.I. Joes, que contam com militares altamente treinados oriundos de vários países e comandados pelo General Hawk (Quaid).

É claro que, com personagens batizados com nomes como Storm Shadow, Snake Eyes, Heavy Duty e Destro, não seria exatamente prudente esperarmos por uma trama das mais complexas – mas o fato é que bons filmes já foram feitos a partir de premissas aparentemente estúpidas graças ao esforço e à inteligência de bons roteiristas. Isto, infelizmente, não acontece em G.I. Joe, que não hesita em usar diálogos pavorosamente batidos como “Eles nunca saberão o que os atingiu” ou “Prometa-me que não deixará meu irmão se ferir, pois ele é tudo o que me resta” – e só de ler a fala anterior, estou certo de que você já sabe exatamente o que acontecerá com o tal irmão. Como se não bastasse, o roteiro não hesita em tratar seus personagens como caricaturas que fazem jus à artificialidade de seus nomes.

Exemplos? Observem, então, como todos os combatentes do sexo masculino se protegem por trás de máscaras e armaduras, ao passo que as integrantes femininas do elenco surgem sempre com o rosto exposto e com sugestivos decotes – mesmo quando caminham lentamente no pólo Norte acompanhadas por homens cobertos de peles, luvas e cachecóis. Como se não bastasse, o terrível roteiro de Stuart Beattie, David Elliot e Paul Lovett ainda insiste em introduzir flashbacks terrivelmente deslocados e inorgânicos em vários pontos da narrativa com o propósito de tornarem os personagens mais tridimensionais, mas sem sucesso algum - como no instante em que dois ninjas se enfrentam e, depois de um rápido e dramático “Olá, irmão!”, somos levados à infância dos dois guerreiros (e é ainda mais estranho que o filme tente retratá-los como ex-amigos agora em confronto, já que logo percebemos que os dois nunca se entenderam). Da mesma maneira, chega a ser insultante, a maneira com que o filme subestima a inteligência do espectador ao introduzir um flashback envolvendo a Baronesa: mesmo dizendo que ela se envolvera com o herói Duke (Tatum) no passado e que costumava ser loira, o longa não hesita em incluir um subtítulo que nos informa que aquela cena se passa “4 Anos Antes”, fazendo questão também de levar Duke a chamar a garota pelo nome (“Ana”) a fim de estabelecer sua identidade.

Esta obviedade de G.I. Joe, aliás, é uma constante ao longo de toda a projeção, já que todas as “reviravoltas” criadas pelo roteiro se mostram terrivelmente previsíveis – e quando um personagem evita esclarecer algo para “não estragar a surpresa”, minha vontade era de gritar para a tela: “Sério, cara? Ok, deixa que eu conto, então.”. Mas talvez isto seja exigir demais de um filme que, mesmo depois de mostrar a Torre Eiffel, faz questão de identificar a localização com um subtítulo que diz: “Paris, França” (talvez para diferenciá-la de “Paris, Hilton”) e que, após estabelecer que os heróis terão que passar por um ambiente cujo chão traz detectores de pressão, se contenta em resolver o problema mostrando Snake Eyes atravessando a sala enquanto planta bananeira – o que representa um verdadeiro achado da Física ao provar que ficamos mais leves quando estamos de cabeça para baixo.

E por falar em peso, G.I. Joe não possui força dramática alguma, retratando, de maneira puramente incidental (mesmo casual), as mortes de centenas de indivíduos durante os confrontos entre mocinhos e bandidos. Parte da responsabilidade por esta falta de peso dramático da narrativa reside justamente no fato de sabermos que a maior parte do que vemos durante a projeção foi criada em computador, já que, do QG dos G.I. Joes à motoqueira que percorre rapidamente as ruas de Paris, tudo demonstra ter sido criado em computador – e se não conseguimos acreditar que são pessoas se arriscando na tela, nosso envolvimento fica inevitavelmente comprometido. Para piorar, os efeitos visuais vistos no filme são, de modo geral, meramente adequados – e o urso polar visto em certo instante (para citar apenas um exemplo) empalidece até mesmo ao ser comparado com seus irmãos das propagandas da Coca-Cola criados há quase 20 anos.

Ainda assim, estes efeitos digitais ao menos são superiores à qualidade das interpretações: sem exibir qualquer resquício do carisma demonstrado no bacana Ela é o Cara, Channing Tatum surge como um protagonista inexpressivo e frágil, ao passo que Marlon Wayans deveria se restringir às porcarias que costuma realizar ao lado dos irmãos, já que encarna Ripcord com todos os tiques de um comediante medíocre, apelando para caretas e gritos quando tenta ser engraçado. E se Dennis Quaid mal tem tempo de fazer o que quer que seja, o talentoso Joseph Gordon-Levitt deveria ter rezado para ter sua participação diminuída, já que é obrigado a encarnar um personagem impossível de ser vivido com qualquer verossimilhança. Já Sienna Miller e Rachel Nichols desempenham bem suas funções -enfeitarem a tela com suas curvas -, enquanto Arnold Vosloo consegue a proeza de se revelar tremendamente irritante sem praticamente abrir a boca, já que Sommers o força a assobiar a mesma melodia em todas as suas aparições apenas para preparar uma revelação (óbvia) no desfecho da narrativa (Vosloo, diga-se de passagem, é apenas um dos atores recorrentes na filmografia do cineasta, que aqui também resgata parcerias com Brendan Fraser e Kevin J. O’Connor, estabelecendo uma espécie de “trupe do embaraço”).

Sem conseguir estabelecer a mínima coerência interna em sua narrativa (os “soldados” criados pelo Doutor supostamente não sentem medo ou qualquer outra emoção, mas ainda assim gritam quando despencam para a morte), G.I. Joe ainda se julga engraçado, embora a maior parte de suas gags atinja o espectador como uma verdadeira bofetada de estupidez (ao ouvir que deverá ir para a França, alguém diz: “Adoro croissants!”). Isto, porém, nem chega aos pés do instante em que Sommers tenta criar algum suspense com relação ao destino de um personagem ao incluir vários segundos de um silêncio supostamente dramático.

Levemente superior a Transformers 2 (apenas por ser bem mais curto e, assim, submeter o público a menos tempo de tortura), G.I. Joe é tão ruim que contamina até mesmo a legenda em português: e quando a palavra “Washington” surge traduzida como “Moscou” em certo momento, pude perceber claramente que até mesmo o tradutor já havia atirado os braços para o alto num gesto claro de desistência diante do espetáculo de mediocridade que fora obrigado a digerir.

De minha parte, digo apenas que cheguei a uma terrível conclusão: a Hasbro é o novo Rob Schneider de Hollywood.

08 de Agosto de 2009

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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