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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
06/08/2004 16/07/2004 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
115 minuto(s)

Eu, Robô
I, Robot

Dirigido por Alex Proyas. Com: Will Smith, Bridget Moynahan, Bruce Greenwood, Alan Tudyk, Adrian Ricard, Chi McBride, James Cromwell.

Eu, Robô se passa no futuro; mais precisamente em 2035. Como já seria de se esperar, aquele é um mundo moderno, com estacionamentos que `acomodam` os carros automaticamente; fitas de isolamento da polícia projetadas como hologramas; e andróides que fazem todo o tipo de tarefas para os humanos, desde a coleta de lixo aos prosaicos passeios com os cães de seus donos. Na realidade, os únicos elementos com cheiro de velharia no filme são os vários clichês presentes em sua trama policial: o herói é um detetive indisciplinado que é constantemente repreendido por seu superior e que, em determinado momento, é obrigado a `entregar o distintivo`, já que ninguém acredita em suas teorias e métodos de investigação.

Vivido por Will Smith, Del Spooner odeia os robôs, olhando-os sempre com desconfiança – o que representa um grande problema, já que eles estão por toda a parte. Quando um dos cientistas mais importante da U.S. Robotics, principal empresa de fabricação de andróides, é encontrado morto depois de cair de uma grande altura, o detetive imediatamente passa a desconfiar do robô Sonny, que trabalhava diretamente com a vítima. No entanto, suas suspeitas são rechaçadas por todos os demais policiais, já que contrariam as três leis da robótica, que especificam que nenhum andróide poderá ferir um ser humano. Mas Spooner está decidido a provar que tem razão e, no processo, acaba se aproximando da psicóloga Susan Calvin, funcionária da U.S. Robotics.

Levemente inspirado na obra homônima de Isaac Asimov (ênfase no `levemente`), Eu, Robô aborda temas interessantes, como o próprio conceito de `vida`: um ser inteligente e consciente de sua própria existência pode ser considerado `vivo`? Aliás, a partir de que momento uma máquina com `inteligência artificial` torna-se `consciente`? Discussões como estas, que certamente poderiam parecer absurdas na época em que Asimov criou as Três Leis da robótica (o que comprova sua condição de visionário), hoje se tornam cada vez mais pertinentes graças aos colossais avanços tecnológicos – e a superprodução estrelada por Smith merece créditos por tocar no assunto.

Aliás, o roteiro escrito por Jeff Vintar surpreende justamente ao propor uma radicalização das Três Leis, concebendo um cenário assustador que, sem fugir da lógica de Asimov, encontra novos meios de interpretar as regras impostas aos robôs (não posso falar mais nada, sob pena de entregar pontos importantes da trama). Além disso, Eu, Robô conta com diálogos inteligentes que estabelecem os conflitos entre Homens e Máquinas de forma filosófica, mas também pragmática. Em certo momento, por exemplo, Spooner pergunta para Sonny:

- Um robô conseguiria compor uma sinfonia? Conseguiria pegar uma tela em branco e transformá-la em uma obra de arte?

E a resposta é simples, mas arrasadora em sua lógica:

- Você conseguiria?

Infelizmente, o trabalho de Jeff Vintar ganhou péssimos retoques do medíocre Akiva Goldsman, que foi contratado posteriormente para adequar o roteiro à persona cinematográfica de Will Smith – e são dele as péssimas piadinhas que tiram a força do filme, já que não combinam com o temperamento do detetive Del Spooner, soando artificiais. Como se não bastasse, o próprio Vintar falha ao tornar suas `reviravoltas` previsíveis e ao realizar escolhas narrativas óbvias, como fazer com que os andróides exibam luzes vermelhas sempre que se tornam `maus`.

Por outro lado, Eu, Robô é tecnicamente irrepreensível: dos cenários gigantescos (a maior parte criada em computador, obviamente) à animação dos robôs, o projeto impressiona o espectador – e a direção segura de Alex Proyas (do ótimo Cidade das Sombras) mantém a fluidez da história, destacando-se principalmente nas seqüências de ação.

Trazendo peças de merchandising inseridas de forma nada orgânica no filme (Spooner chega a se gabar de seu `tênis All Star modelo 2004`, acreditem ou não), Eu, Robô desfaz a imersão do público em sua trama sempre que esquece sua natureza narrativa e entrega-se ao comércio descarado, o que acaba sendo um de seus grandes pecados. De todo modo, os resquícios da obra original são o bastante para que possamos sair do cinema razoavelmente satisfeitos. Mas não foi desta vez que o escritor russo ganhou uma transposição adequada para a telona – ao contrário do que ocorreu com Philip K. Dick, Hollywood ainda deve a Asimov seu Blade Runner.
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05 de Agosto de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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