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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
16/01/2004 26/11/2003 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
99 minuto(s)

Mansão Mal-Assombrada (I)
The Haunted Mansion

Dirigido por Rob Minkoff. Com: Eddie Murphy, Terence Stamp, Nathaniel Parker, Marsha Thomason, Wallace Shawn, Dina Waters, Marc John Jefferies, Aree Davis.

Estou com saudades de Eddie Murphy. Não do Eddie Murphy `versão-para-toda-a-família` visto em Dr. Dolittle 1 e 2, A Creche do Papai ou O Professor Aloprado 2, mas sim daquele que assumia riscos ao investir no humor politicamente incorreto, como em 48 Horas, Trocando as Bolas e Um Tira da Pesada. Aliás, o único trabalho recente do comediante que consegue nos fazer lembrar do Eddie Murphy da década de 80 é Shrek, no qual ele empresta toda sua antiga irreverência ao hilário burrinho que adora cantar. Será que o ator não percebe que está seguindo os mesmos passos de Robin Williams, que praticamente arruinou sua carreira ao se tornar símbolo dos `filmes-família` e que, nos últimos anos, vem tentando assumir papéis mais sérios justamente para fugir deste estigma?

Em A Mansão Mal-Assombrada, Murphy mais uma vez interpreta um homem que, excessivamente dedicado ao trabalho, encontra-se cada vez mais afastado de sua família - desta vez, o personagem é Jim Evers, um corretor imobiliário. Durante uma visita a uma tenebrosa mansão cuja venda pretende intermediar, Evers acaba se envolvendo em várias confusões provocadas por uma antiga maldição e, enquanto tenta salvar a esposa e os filhos, redescobre a `importância dos laços familiares` (oh!). É claro que, ao longo da projeção, o espectador testemunha vários diálogos `inovadores` sobre `como devemos enfrentar nossos medos` e outras bobagens que podem ser encontradas em qualquer livro picareta de auto-ajuda. Aliás, a família Evers merecia mesmo era ser derrotada pelos fantasmas e se tornar parte da galeria de assombrações da mansão: afinal, mesmo depois de serem surpreendidos por um portão que se abre sozinho (apesar de trancado com um cadeado), de descobrirem um cemitério situado nos fundos da propriedade e de encontrarem um mordomo que aparece do nada e se refere ao patrão como `mestre`, os Evers ainda aceitam passar a noite no lugar. Será que eles nunca viram um filme de terror?

É claro que o roteirista David Berenbaum (responsável pelo divertido Um Duende em Nova York) não tinha uma tarefa fácil: afinal, como adaptar para o Cinema uma atração de um parque temático? Piratas do Caribe foi bem-sucedido neste aspecto, é verdade, mas contava com o trunfo de ser voltado para um público mais velho (foi proibido para menores de 13 anos, nos Estados Unidos). Já A Mansão Mal-Assombrada buscou a classificação `livre` e, talvez por isso, Berenbaum preferiu se ater ao óbvio. Em certo momento, por exemplo, o filho de Jim Evers avista um grupo de fantasmas e diz: `I see dead people` – uma tentativa ridícula de tentar fazer humor através de uma referência nada inspirada a O Sexto Sentido. Pouco depois, é a vez de quatro bustos cantores surgirem na história – mas, mais uma vez, o filme não encontra nada interessante para fazer com os personagens, que saem de cena sem deixar saudades.

Mas o pior mesmo é que Berenbaum utiliza uma das mais batidas convenções do gênero `casa mal-assombrada` e desenterra (com o perdão do trocadilho) a velha trama da jovem que, em outra encarnação, foi o grande amor do vilão. Aliás, o filme inclui até mesmo a cena em que um retrato da falecida é descoberto, revelando a forte semelhança física entre as duas mulheres. Como se não bastasse, A Mansão Mal-Assombrada ainda dedica longos minutos a uma conversa entre o fantasma e sua amada, na qual `tudo é revelado`, o que submete o espectador à tortura de ver dois péssimos atores (Nathaniel Parker e Marsha Thomason) repetindo tudo aquilo que já estamos fartos de saber. Aliás, a coisa toda era tão ridiculamente óbvia que cheguei a acreditar que iríamos descobrir que, na realidade, Eddie Murphy (e não sua esposa) seria a reencarnação da tal garota. Santa ingenuidade: em vez da surpresa, fui bombardeado com mais falas do tipo `Você vai ficar aí sentindo pena de si mesmo?` (eu fiquei) e `Nunca é tarde demais para lutar!`.

Porém, Murphy não é o único a se submeter ao embaraço de participar de uma bomba como esta: chega a ser triste ver um ator do calibre de Terence Stamp assumindo um personagem tão bobo e mal construído como o mordomo Ramsley. Stamp ainda tenta superar o péssimo roteiro ao transformar o sujeito em uma criatura que nos faz lembrar das antigas produções da Hammer, mas sem sucesso. Fechando o elenco, vem Jennifer Tilly, que, com sua voz irritante, geralmente representa um sinal incontestável de que o filme será ruim.

Extremamente longo em seus 99 minutos, A Mansão Mal-Assombrada marca mais um fracasso artístico na carreira do cineasta Rob Minkoff, que, depois de dirigir o inesquecível O Rei Leão, abandonou a animação e se dedicou aos medíocres O Pequeno Stuart Little 1 e 2. Desta vez, ele conseguiu a proeza de comandar uma comédia de horror que não assusta nem faz rir. Um duplo fracasso, portanto.

Observação: se você suportou ficar até o final da projeção, talvez queira conferir a cena (igualmente besta) que aparece após os créditos.
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18 de Janeiro de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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