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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
07/05/2004 03/05/2004 1 / 5 2 / 5
Distribuidora
Duração do filme
131 minuto(s)

Van Helsing - O Caçador de Monstros
Van Helsing

Dirigido por Stephen Sommers. Com: Hugh Jackman, Kate Beckinsale, Richard Roxburgh, David Wenham, Kevin J. O’Connor, Shuler Hensley, Elena Anaya, Silvia Colloca, Josie Maran, Will Kemp, Alun Armstrong, Robbie Coltrane.

Os estúdios Universal nunca demonstraram muito respeito pelos inesquecíveis monstros que ajudaram a consagrar no Cinema: para constatar este fato, basta assistir ao pavoroso (no mau sentido) encontro entre o trio Drácula-monstro de Frankenstein-Lobisomem e a dupla de comediantes Bud Abbott e Lou Costello, promovido em 1948 em um longa-metragem há muito esquecido (merecidamente) pelos cinéfilos. Porém, até mesmo Abbott & Costello Meet Frankenstein poderia ser considerado um clássico se comparado a este terrível Van Helsing – O Caçador de Monstros. Aliás, ao longo da projeção desta monstruosidade (com o perdão do trocadilho), eu encolhia na poltrona a cada novo obstáculo enfrentado pelos heróis – não por torcer pelos protagonistas, mas por saber que estes empecilhos serviriam para prolongar ainda mais a duração do filme e, conseqüentemente, minha tortura. Para tentar diminuir meu sofrimento, cheguei até mesmo a inventar um passatempo: contar o número de vezes em que algum personagem abria os braços e soltava um grito – mas depois da décima vez em que isto ocorreu, desisti da brincadeira ao perceber que estava prestes a fazer algo parecido.

É surpreendente, portanto, que a seqüência inicial de Van Helsing seja tão promissora: rodada em preto-e-branco, ela presta uma bela homenagem aos mesmos filmes que, momentos depois, começará a envergonhar. Trazendo Frankenstein berrando um `It’s alive!` idêntico ao proferido por Colin Clive no clássico de 1931, a cena é ágil e interessante, levando o espectador a acreditar que irá assistir a algo de qualidade. Infelizmente, logo em seguida o filme se torna colorido e nos apresenta ao herói, que encontra-se em Paris a fim de enfrentar um... personagem de animação (o tal ser, que tem a voz de Robbie Coltrane, se apresenta como Mr. Hyde, mas é tão mal realizado pela Industrial Light & Magic que parece mais ser um primo caucasiano de Shrek). A partir daí, passamos a acompanhar as aventuras de Van Helsing, que é designado por uma sociedade secreta para destruir o Conde Drácula, que está tentando encontrar um meio de dar vida aos seus milhares de bebês-vampiro (para isso, ele conta com a ajuda de vários anõezinhos que são uma mistura dos Tusken Raiders de Star Wars com os Oompa-Loompas de A Fantástica Fábrica de Chocolates). Para realizar a tarefa, o protagonista conta com a ajuda da bela Anna Valerious e do covarde Frade Carl.

Tentando resgatar o bom humor que transformou A Múmia e O Retorno da Múmia em passatempos relativamente divertidos, o diretor-roteirista Stephen Sommers investe em piadas auto-referenciais e em sátiras que jamais funcionam. Paradoxalmente, sempre que o roteiro aposta no drama acaba gerando risos involuntários (como na cena em que Drácula diz: `Sou vazio e viverei para sempre!` ou no instante em que Anna interrompe uma importante missão para lamentar: `Nunca vi o mar. Deve ser lindo.`). Além disso, Sommers não consegue sequer ser fiel às próprias regras que estabelece: em certo momento, por exemplo, um determinado objetivo deve ser cumprido `entre a primeira e a última badaladas da meia-noite` – algo que o filme prontamente passa a ignorar assim que o primeiro toque é ouvido (o décimo-segundo, ao que parece, jamais chega). Da mesma forma, uma das vampiras mantém uma conversa tranqüila à luz do sol, embora o roteiro explique que isto seria fatal para a criatura. E nem quero abordar a chatíssima relação entre Van Helsing e Anna, que segue todos os clichês imagináveis (eles brigam o tempo todo e demoram a perceber que, na realidade, foram `feitos um para o outro`).

Como se não bastasse, a obsessão de Sommers por efeitos visuais mais uma vez compromete seus esforços, já que Van Helsing oferece uma autêntica overdose de imagens criadas em computador – e, como já afirmei em outras ocasiões, acho simplesmente impossível torcer por um personagem que se converte magicamente em um boneco digital sempre que entra em ação (e os `heróis virtuais` desta produção chegam a ser piores do que aqueles vistos em Demolidor e Fúria em Duas Rodas). Aliás, o mesmo vale para os cenários: a seqüência em que vemos uma carruagem descontrolada à beira de um precipício (obviamente criado em computador) provoca tanta tensão quanto ver o Coiote cair no despenhadeiro depois de perseguir o Papa-Léguas. Para piorar, Sommers parece tentar compensar a falta de inteligência do filme através do volume do som: POUCOS FILMES CONSEGUEM SER TÃO BARULHENTOS QUANTO VAN HELSING. (A frase em maiúsculas te incomodou? Então espere até ver... ou melhor, ouvir este longa.)

Assumindo seu primeiro papel solo depois de brilhar como o Wolverine de X-Men e X-Men 2, Hugh Jackman é uma surpresa desagradável como o personagem-título deste projeto, já que não exibe um milésimo do carisma visto na franquia dirigida por Bryan Singer. Enquanto isso, Kate Beckinsale (que deve realmente odiar lobisomens, já que enfrenta a criatura pela segunda vez em pouco mais de um ano) comprova aquilo que eu já havia dito sobre Anjos da Noite – Underworld: fica ótima usando roupas apertadas. Pena que seu sotaque em Van Helsing seja tão grotesco (embora não chegue a incomodar como o do cardeal visto no primeiro ato da história). E se David Wenham (o Faramir de O Senhor dos Anéis) consegue despertar nossa simpatia com a caracterização desengonçada do Frade Carl, o mesmo não pode ser dito sobre Kevin J. O’Connor, cujo Igor não chega aos pés do engraçado Beni que o ator viveu em A Múmia.

Mas o maior embaraço do filme reside mesmo na péssima performance de Richard Roxburgh, que cria um dos piores Dráculas da história do Cinema: aparentemente acreditando ainda estar nos sets de Moulin Rouge, no qual viveu o cartunesco (e bacana) Duque de Monroth, o ator adota trejeitos exagerados e exibe uma dicção ridícula, transformando o Conde Drácula em uma versão vampiresca do Frajola (é a segunda vez que cito um integrante dos Looney Tunes nesta análise – e, embora adore os amalucados personagens da Warner, não posso deixar de pensar que isto é um mau sinal para Van Helsing). Porém, Roxburgh não está só: as três `atrizes` que vivem as noivas do vilão se mostram igualmente irritantes com suas risadinhas abomináveis e suas caretas patéticas.

Demonstrando uma capacidade incalculável de constranger todos os envolvidos em sua realização, o filme conta, ainda, com uma lamentável trilha sonora do geralmente talentoso Alan Silvestri – que chega até mesmo a plagiar trechos da bela trilha criada por John Williams para Indiana Jones e a Última Cruzada (preste especial atenção nos momentos `dramáticos` do longa).

Apesar de tudo, Van Helsing conseguiu me assustar uma única vez: no momento em que percebi que Stephen Sommers tinha a intenção de repetir o que fizera em A Múmia e criar uma franquia estrelada pelo personagem de Hugh Jackman. É por isso que peço a ajuda de todos os caçadores de monstros que estão lendo este artigo: por favor, evitem que esta aberração alcance uma boa bilheteria e, com isso, viabilize um Van Helsing 2. Esta é uma ameaça muito mais assustadora do que dez Dráculas e cem Lobisomens juntos.
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7 de Maio de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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