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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
19/07/2002 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
120 minuto(s)

Direção

Barbet Schroeder

Elenco

Sandra Bullock , Ryan Gosling , Ben Chaplin , Michael Pitt , Agnes Bruckner , Chris Penn

Roteiro

Tony Gayton

Produção

Barbet Schroeder

Fotografia

Luciano Tovoli

Música

Clint Mansell

Montagem

Lee Percy

Design de Produção

Stuart Wurtzel

Figurino

Carol Oditz

Direção de Arte

Thomas Valentine

Cálculo Mortal
Murder By Numbers

Dirigido por Barbet Schroeder. Com: Sandra Bullock, Ben Chaplin, Ryan Gosling, Michael Pitt, Agnes Bruckner e Chris Penn.

 

Em maio de 1924, dois jovens estudantes americanos,  Nathan Leopold e Richard Loeb, decidiram provar para si mesmos que seriam capazes de cometer o crime perfeito: para isso, escolheram uma vítima jovem (um garoto de 14 anos chamado Bobby Franks) e planejaram cuidadosamente seu assassinato – e acabaram presos e condenados à prisão perpétua. Em  1948, este sinistro acontecimento inspirou Alfred Hitchcock a dirigir um de seus filmes mais intrigantes, Festim Diabólico, além de também render duas outras produções: Compulsion (1959) e Colapso do Desejo (1992).

 

Infelizmente, Cálculo Mortal, versão mais recente da história de Leopold e Loeb, não consegue ficar à altura de seus antecessores, já que o roteirista Tony Gayton parece ter ignorado que o maior atrativo do incidente reside, justamente, na personalidade degenerada dos dois rapazes, e não nos policiais que os prenderam. Assim, o filme perde um tempo precioso acompanhando a detetive Cassie Mayweather (Bullock) enquanto esta investiga as pistas deixadas pelos assassinos – e o resultado é que Cálculo Mortal desperdiça a oportunidade de analisar a estranha mente que estes possuíam e se transforma apenas em uma versão em tela grande da série de tevê C.S.I.: Crime Scene Investigation. (Talvez – e este é um grande “talvez” – a subtrama envolvendo  as angústias da personagem de Sandra Bullock funcionasse melhor caso Gayton não tivesse se contentado em reciclar o velho clichê do “trauma do passado”, que gasta um precioso tempo de projeção e jamais consegue fazer com que a policial se torne mais “real”).

 

Sem perceber que Cassie deveria ser uma mera coadjuvante da história, o filme ainda procura martelar na cabeça do espectador as estereotipadas características da personagem, como se dissesse: “Vejam, ela não consegue se entregar a homem algum! E repararam como ela vive escondendo o tórax? Não? Então vejam novamente! E observem como ela se comporta friamente, enquanto seu parceiro demonstra grande sensibilidade!”. Com o tempo, esta obviedade do roteiro acaba se tornando irritante, já que impede o espectador de tirar suas próprias conclusões. E o que dizer da cena em que o detetive vivido por Ben Chaplin diz para Bullock: “Você é tão boa para analisar as pessoas... Por que não analisa a si mesma?” – uma fala que deixou de ser original em 1991, quando se tornou um dos momentos mais conhecidos de O Silêncio dos Inocentes.

 

Por outro lado, todas as cenas envolvendo Justin e Richard (leia-se: Loeb e Leopold) são fascinantes: interpretados com grande talento por Michael Pitt e Ryan Gosling, os personagens irradiam inteligência e uma perigosa arrogância, tornando-se, em alguns momentos, mais interessantes que a dupla de assassinos vista em Festim Diabólico (embora o filme de Hitchcock seja infinitamente superior). Além disso, é bom observar que o diretor Barbet Schroeder não se intimida em resgatar a ligação homossexual entre os rapazes, embora esta seja retratada de forma bastante sutil.

 

Mesmo assim, o roteiro ainda encontra uma maneira de diminuir o impacto de sua história ao obrigar um de seus personagens a agir de forma incrivelmente estúpida: depois de planejar cuidadosamente seus atos, Justin simplesmente vomita no local do crime, sem se preocupar com as complicações que isso pode gerar (a falha seria mais perdoável caso tivesse sido cometida por Richard). E mais: Tony Gayton poderia ter criado um motivo mais plausível para que Cassie desconfiasse dos garotos, em vez de simplesmente explicar este fato com um simples “ela não vai com a cara de um deles”. (E não se preocupem: não revelei nada que já não tivesse ficado evidente no trailer da produção.)

 

Como se não bastasse, Cálculo Mortal ainda traz um desfecho decepcionante, desistindo dos jogos mentais disputados por seus protagonistas e apostando em uma das mais velhas convenções do gênero policial: um tiroteio em um local abandonado (uma casa à beira de um penhasco, acreditem ou não).

 

Dizer que Cálculo Mortal é uma decepção é constatar o óbvio. Caso tivesse confiado mais em sua premissa original, o filme poderia ter se tornado realmente memorável. Como ficou, é apenas um passatempo curioso – e, ainda assim, somente quando se concentra nos dois criminosos. Leopold e Loeb eram pessoas desprezíveis, sem dúvida – mas não há como negar que eram igualmente fascinantes.
``

 

20 de Julho de 2002

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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