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Cinco identidades roubadas Clube dos Cinco

Em Uma Ladra Sem Limites, Melissa McCarthy (Missão Madrinha de Casamento) é uma impostora que passa a gastar todo o dinheiro do personagem de Jason Bateman (Quero Matar Meu Chefe) ao assumir seu nome, aproveitando-se do fato de ele se chamar Sandy. É uma comédia despretensiosa, mas que nos levou a relembrar verdadeiros clássicos que também têm um roubo de identidade como mola propulsora da trama. Nossa lista ainda inclui um blockbuster e um filme injustiçado.

 

O Sol por Testemunha (Plein soleil, 1960, França/Itália, dir.: René Clément) por Luísa Gomes

Em 1955, Patricia Highsmith lançou O Talentoso Sr. Ripley, primeiro livro de uma série que conta a história do amoral e mercenário Tom Ripley. No romance, Ripley recebe a missão de um rico empresário de trazer de volta para a casa seu filho, que mora na Itália com a namorada. Sem conseguir alcançar sucesso, Ripley retorna e assume a identidade do filho perdido, além de sua boa vida.

O enredo intrigante do livro chamou a atenção do diretor René Clément (Brinquedo ProibidoO Passageiro da Chuva) que decidiu levar o manipulador Ripley para o cinema em O Sol por Testemunha. O escolhido para o papel foi o galã Alain Delon, dando um ar tão carismático para o personagem que se torna quase impossível não torcer por seus planos, mesmo tendo plena consciência da falsidade deles.

Mas não foi só Clément que se interessou pelo personagem literário: em 1999, Matt Damon (Os Infiltrados), também entrou no jogo de dupla personalidade em O Talentoso Ripley, de Anthony Minghella (O Paciente Inglês). Além disso, Dennis Hopper (Veludo Azul) aparece como Tom no filme de Wim Wenders (Asas do Desejo), O Amigo Americano (1977), assim como John Malkovich (Queime Depois de Ler) em O Retorno do Talentoso Ripley (2002).

A Sereia do Mississipi (La sirène du Mississipi, 1969, França/Itália, dir.: François Truffaut)  por Luísa Teixeira de Paula 

O risco de confiar cegamente em alguém com quem você nunca se encontrou pessoalmente, mas trocou inúmeras mensagens – sejam elas nas redes sociais ou à velha maneira de se mandar cartas – é algo que se torna visível já no trailer de A Sereia do Mississipi, de François Truffaut. ”Você coloca um anúncio no jornal. Apenas uma nota. Uma garota que você não conhece lhe responde e você não sabe por quê. E então você percebe duas coisas: você está apaixonado e corre perigo”.

Com uma trilha sonora marcante, o suspense conta a história de Louis Mahé (Jean-Paul Belmondo), dono de uma fábrica de cigarros em uma ex-colônia francesa na África que, a partir de um anúncio no jornal, começa a se corresponder com Julie Roussel (Catherine Deneuve). Apaixonado, ele a pede em casamento. A moça embarca no navio Mississipi para finalmente se encontrar com ele e começar uma vida de sonhos. Mas ela não se parece em nada com a foto que havia mandado ao protagonista anteriormente.

O mistério em torno da figura de Julie e toda a novidade e perigo que ela representa na vida de Louis marcam o tom da narrativa. A pergunta que resta ao espectador é: se ela realmente não é a Jullie que se correspondia com Louis, quem é ela?

Profissão: Repórter (Professione: reporter, 1975, Itália/Espanha/França, dir.: Michelangelo Antonioni) – por Renato Silveira

Este foi o último filme realizado por Antonioni para a MGM (os anteriores foram Blow-Up - Depois Daquele Beijo, de 1966, e Zabriskie Point, de 1970). É mais um trabalho em que o diretor recorre aos temas da insatisfação com a vida e da crise existencial, no entanto, aqui essa experiência é levada mais a cabo, entrando no aspecto do thriller, quase como se fosse um filme de espionagem.

A insatisfação do repórter David Locke (papel de Jack Nicholson) é tamanha qe ele de fato troca de vida. Ao retornar para o quarto do hotel em que está hospedado próximo ao Deserto do Saara, onde ele está para cobrir a crise política no Norte da África, Locke encontra Robertson, um homem inglês que ele conheceu há pouco tempo, morto em sua cama. É quando ele decide assumir a identidade do colega, até porque eles se parecem muito fisicamente, e forja a própria morte.

É um filme sobre estar farto da profissão, da vida, do mundo, sobre querer algo mais, ir além, transcender. E o sublime plano-sequência final sintetiza perfeitamente a libertação que Locke procura. Destaque também para outro fabuloso plano-sequência, na cena em que Locke conversa com Robertson na varanda do quarto.

Ouça o nosso podcast especial dedicado à obra de Michelangelo Antonioni.


A Outra Face (Face/Off, 1997, EUA, dir.: John Woo) por Heitor Valadão 

Quando alguém tem sua identidade roubada, normalmente tudo é feito através de falsificação de documentos, hacking de computadores e, às vezes, até a situação colabora, quando ninguém conhece uma determinada pessoa que é substituída por outra. Mas poucos filmes levaram tal troca tão ao pé da letra quanto John Woo em A Outra Face, seu filme mais celebrado enquanto o diretor trabalhou em Hollywood.

John Travolta é um agente do FBI que, para descobrir onde está uma bomba deixada por um criminoso, troca literalmente de rosto com tal bandido, vivido por Nicolas Cage. Assim, o público passa a ver Travolta como o criminoso Castor Troy e Cage como o agente Sean Archer. Mas, claro, só o público. Cage vai ter que provar à qualquer custo que é, na verdade, o herói da história enquanto Travolta se aproveita de seu novo posto em toda ocasião possível.

Femme Fatale (2002, França, dir.: Brian De Palma) – por Renato Silveira

Mistério e sensualidade transbordam em Femme Fatale, mais um de vários filmes de Brian De Palma que foram malhados no lançamento e, posteriormente, alcançaram o status de cult. Mas reduzi-lo a esse termo é bobagem, pois é um filmaço.

Rebecca Romjin interpreta Laure, uma ladra de joias que abre o filme colocando em prática seu plano de usurpar diamantes durante o Festival de Cannes – local mais do que apropriado para De Palma situar a ação, considerando que seus filmes sempre prestam tributo ao próprio cinema.

Além da elaborada joia em forma de serpente, Laure rouba a identidade de uma mulher que é assombrosamente parecida com ela, Lily, também interpretada por Rebecca Romjin. É evidente a homenagem a Alfred Hitchcock, um dos ídolos de De Palma. A partir daí, Laure assume a vida de Lily, mas tem sua farsa ameaçada pelo fotógrafo Nicolas Bardo, personagem de Antonio Banderas. 

MENÇÃO HORS CONCOURS


Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958, EUA, dir.: Alfred Hitchcock) – por Larissa Padron

Atenção! O texto a seguir contém spoilers!

Numa das traduções mais estraga-prazeres da história, Um Corpo que Cai recebeu o título A Mulher que Viveu Duas Vezes em Portugal, mas poderia facilmente se chamar a A Mulher de Múltiplas Identidades também.

Na trama, Scottie (James Stewart) é contratado para investigar Madeleine (Kim Novak), a esposa de Gavin (Tom Helmore), que está influenciada pelo fantasma de Carlota. Scottie se apaixona por Madeleine, mas a culpa
acaba fazendo ela se jogar do alto de uma igreja, causando sua morte. Mas este é só um dos finais, já que ainda descobrimos que tudo não passava de um plano de Gavin para herdar o dinheiro da esposa, que foi quem morreu de fato, pois aquela por quem Scottie se apaixonou na verdade é Judy, contratada por Gavin para que seu plano perfeito pudesse ter uma testemunha perfeita. Confuso não? Mas as identidades também são.

O recém-eleito melhor filme de todos os tempos pela revista Sight & Sound pode ser definido como um longa sobre distúrbios de identidade, já que Judy finge ser Madeleine, fingindo ser Carlota, e deve fingir ser Madeleine
de novo mesmo após o fim do plano, para conquistar o amor de Scottie.

Aliás, pode-se dizer que Hitchcock é um obcecado pelo tema “confusões de identidade”, já que Norman Bates “assume” sua mãe em Psicose, e Henry Fonda é confundido com um ladrão em O Homem Errado, baseado em
uma história verídica.

Mais identidades roubadas:

Desconhecido (Unknown, 2011, EUA/Reino Unido/França/Alemanha/Japão/Canadá, dir.: Jaume Collet-Serra). Liam Neeson interpreta um bioquímico que sofre um acidente de carro enquanto está em Berlim para participar de uma conferência. Ele entra em coma e, quando acorda, com falhas na memória, descobre que outra pessoa assumiu sua identidade e que sua esposa não o reconhece.

Cine Majestic (The Majestic, 2001, EUA/Austrália, dir.: Frank Darabont). Nesta homenagem aos filmes de Frank Capra, Jim Carrey vive um roteirista na Hollywood de 1951 que é acusado de ser comunista, em plena época da "caça às bruxas. Ao ver sua carreira desmoronar, ele se embriaga, pega o carro, sofre um acidente e acorda, sem memória, em uma cidade onde é confundido pelos habitantes com Luke Trimble, que eles acreditavam ter morrido na guerra. Mesmo hesitante, ele acaba assumindo a nova vida.

Uma Secretária de Futuro (Working Girl, 1988, EUA, dir.: Mike Nichols). Tess (Melanie Griffith) é uma secretária determinada a subir na vida. E ela dá um jeito de se promover quando a dona de sua firma (Sigourney Weaver) quebra a perna enquanto praticava esqui. Não satisfeita em usar o nome, a roupa e até o Valium da chefe, ela ainda tenta roubar seu namorado (Harrison Ford).

Roubando Vidas (Taking Lives, 2004, EUA/Austrália, dir.: D.J. Caruso). Neste thriller, Angelina Jolie trabalha para o FBI e precisa encontrar um serial killer que assume a identidade de suas vítimas. Ela recebe a ajuda de um vendedor de obras de arte (Ethan Hawke) que viu o assassino agir.

Paixão à Flor da Pele (Wicker Park, 2004, EUA, dir.: Paul McGuigan). Josh Hartnett interpreta um jovem executivo de Chicago que pensa ter visto sua ex-namorada (Diane Kruger), que simplesmente o deixou e desapareceu alguns anos antes quando a chamou para se mudar para Nova York com ele. Ao ir atrás dela, o rapaz descobre que, apesar de idêntica à sua antiga paixão, ela é outra mulher (Rose Byrne).

Sommersby - O Retorno de um Estranho (Sommersby, 1993, França/EUA, dir.: Jon Amiel). Acreditando que seu abusivo marido, Jack Sommersby (Richard Gere), morreu na Guerra Civil, Laurel (Jodie Foster) tem que se virar para administrar sua propriedade sozinha. Mas ele volta, só que muito mudado. Agora ele é um marido e pai carinhoso, o que leva as pessoas a desconfiar de que ele é outra pessoa se passando por Jack.

VIPs (2010, Brasil, dir.: Toniko Melo). Baseado na história real de Marcelo do Nascimento Rocha, o filme traz Wagner Moura como o impostor que se fez passar por Henrique Constantino, filho de Nenê Constantino, dono da companhia aérea Gol. Usando a identidade do bilionário, ele chegou a ser entrevistado pelo apresentador Amaury Jr. em seu programa de TV. Um documentário sobre Marcelo também foi feito. E, claro, as comparações com Prenda-me Se For Capaz, de Steven Spielberg, são inevitáveis, embora o personagem de Leonardo DiCaprio fabrique suas diversas identidades.

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