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Cinco adaptações consideradas "impossíveis" Clube dos Cinco

Durante muito tempo, a tarefa de levar o livro On the Road, de Jack Kerouac, para o cinema foi considerada impossívei. Mas Na Estrada, de Walter Salles, está aí em cartaz para provar o contrário. Para este Clube dos Cinco, nós selecionamos outros projetos que também foram considerados "impossíveis", mas saíram do papel, e outros que ainda estão lutando para chegar às telas.

DivulgaçãoNas Montanhas da Loucura, de H.P. Lovecraft – por Heitor Valadão

As obras do escritor H.P. Lovecraft inspiram milhares de cineastas, músicos e escritores, mas poucas de suas obras realmente foram adaptadas para o cinema. Afinal, como colocar de forma visual algo tão horripilante e assustador que a própria imaginação mal consegue conceber? Este é um dos desafios que moviam o diretor Guillermo del Toro, cujo sonho é adaptar Nas Montanhas da Loucura.

No ano passado, del Toro chegou bem perto de alcançar tal sonho. O projeto chegou a ter seu roteiro escrito, diversos designs de criaturas feitos e já começava a busca por locações. O astro Tom Cruise já tinha, extra-oficialmente, aceitado protagonizar o filme. Só faltava a luz verde da Universal Pictures dando aprovação ao orçamento necessário para a gigantesca empreitada: US$ 140 milhões. Mas o estúdio disse "não".

Em tempos de crise financeira, os executivos da Universal não quiseram investir tanto em um filme que só poderia ser realizado para obter nos EUA, no mínimo, a classificação R, onde menores de 17 anos só podem entrar no cinema acompanhados dos pais ou responsáveis. Ou seja, filmes de verdadeiro terror hoje só são feitos quando baratos. Os que têm orçamento maior, infelizmente, acabam caindo no PG-13, onde os adolescentes podem assistir sem medo. E qual é o ponto de fazer um filme de terror que não dá medo?

Del Toro ainda sonha em realizar o filme, mesmo temendo o quanto Nas Montanhas da Loucura pode ter influenciado Prometheus. Só nos resta torcer para que seu próximo filme, Pacific Rim, renda rios de dinheiro e mostre a Universal que o mexicano é digno de confiança.

DivulgaçãoEncontro com Rama, de Arthur C. Clarke – por Renato Silveira

Arthur C. Clarke é mais conhecido pelos cinéfilos por sua colaboração com Stanley Kubrick em 2001: Uma Odisseia no Espaço. O livro foi escrito ao mesmo tempo em que o roteiro do filme foi criado e ambos chegaram ao público no mesmo ano, 1968 (sendo que o livro foi lançado após o filme). O trabalho seguinte de Clarke foi Encontro com Rama (Rendezvous with Rama), publicado em 1972, uma ficção científica tida como ainda mais ambiciosa que 2001 por se desenvolver em cima de ideias filosóficas e questões científicas que entram em detalhes e precisões técnicas muito específicas do gênero.

Apesar de contar com uma história básica que poderia servir de premissa para uma aventura espacial (se é que já não serviu) – “uma equipe de astronautas é enviada em uma missão para explorar uma gigantesca e misteriosa nave que vaga pelo Sistema Solar” – o clássico livro de Clarke está há anos em desenvolvimento e já passou pelas mãos de diversos roteiristas. A tecla em que o ator Morgan Freeman, produtor do projeto, sempre bate quando perguntado sobre o andamento da adaptação é exatamente essa: “Ainda não encontramos o roteiro certo”. Até o momento, já se aventuraram no projeto os seguintes roteiristas: Christos N. Gage e Ruth C. Fletcher (ambos de Cidade dos Vampiros e A Outra Dimensão), Bruce McKenna (das minisséries Band of Brothers e The Pacific), Stel Pavlou (Baladas, Rachas e Um Louco de Kilt), Michael Gilvary (Na Mira dos Assassinos e da série Agentes Fora da Lei/Breakout Kings) e os novatos Scott Brick e Andrew Kahng.

Se existe a dificuldade em encontrar um roteirista, pelo menos um diretor o projeto tem garantido: David Fincher (Se7en, Clube da Luta). O cineasta está ligado ao (im)possível filme há anos e, desde a pós-produção de O Curioso Caso de Benjamin Button, o nome de Encontro com Rama surge em meio aos próximos trabalhos de Fincher. Ele também cita a dificuldade em chegar a um bom roteiro como empecilho para a realização da adaptação. E mesmo tendo colocado A Rede Social e Millennium – Os Homens que Amavam as Mulheres na frente, Fincher ainda afirma que filmará Encontro com Rama. A última previsão do diretor é realizar o projeto depois de sua também protelada versão de 20.000 Léguas Submarinas, que atualmente é tida como mais forte candidata a próximo filme de Fincher.

Morgan Freeman também bate o pé e sempre afirma em entrevistas que Encontro com Rama será feito. O site de sua produtora, a Revelations Entertainment, mantém até hoje uma página para o projeto, classificado como “em desenvolvimento”.

DivulgaçãoO Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien – por Tullio Dias

Recriar o fantástico (e imenso) universo criado por J.R.R. Tolkien para as telas era um desafio para os grandes estúdios. Publicado originalmente em 1954 e 1955, a trilogia carrega a curiosidade de ter feito muito mais sucesso que a obra que lhe deu origem: O Hobbit foi lançado em 1937 e Tolkien recebeu a missão de contar mais sobre a vida dos hobbits, o que acabaria resultando nos três volumes de O Senhor dos Anéis. Todo o sucesso dos livros tornou inevitável o desejo de Hollywood em lançar uma adaptação e tentativas foram feitas.

Em 1978 foi lançada uma animação que tentou juntar A Sociedade do Anel com As Duas Torres e o resultado ficou muito abaixo das expectativas dos fãs. O ponto positivo é que a popularidade da obra de Tolkien cresceu e rendeu um novo lançamento, desta vez mostrando os eventos de O Retorno do Rei, em 1980. Já para uma adaptação live action, houve até mesmo o inusitado interesse dos Beatles em estrelar o filme, que teria direção de ninguém menos que Stanley Kubrick. Como o livro era uma das obras mais lidas durante o movimento de libertação dos anos 60, não deixava de ser uma ação inteligente da banda de John Lennon (que assumiria o papel de Gollum) ficar à frente do projeto, que acabou sendo rejeitado pelo próprio Kubrick. Para o diretor de 2001 – Uma Odisseia no Espaço a narrativa criada por Tolkien era grande demais para conseguir ser condensada em um longa-metragem.

O sonho da Terra Média nos cinemas parecia destinado a habitar apenas as mentes dos fãs espalhados ao redor do mundo, mas foi justamente um desses fãs que mudou todo o rumo da história. Peter Jackson iniciou seu envolvimento com a obra em 1995, para iniciar as filmagens apenas quatro anos depois. Todo o trabalho demorou mais de 400 dias, mas o resultado é que Jackson e sua equipe criativa souberam dosar bem as necessidades de um filme com as de um fã, e acabaram com qualquer comentário sobre a impossibilidade de transportar para as telas uma história tão densa quanto a de O Senhor dos Anéis, hoje considerada uma das principais adaptações literárias da história do cinema.

Os três filmes faturaram juntos 17 prêmios da Academia (foram 11 estatuetas apenas para o último filme) e fizeram tanto sucesso que Jackson e sua equipe retornaram para mais uma maratona de filmagens para a produção de O Hobbit.

DivulgaçãoWatchmen, de Alan Moore – por Larissa Padron

Entre 1986 e 1987, a DC Comics lançaria uma série em quadrinhos de 12 edições que ficaria na história por abordar uma trama mais adulta que não mostrava super-heróis como seres inverossímeis, além de constantemente questionar a ética de suas ações. Watchmen foi escrita por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons e, somando a excelente recepção de público e crítica, recebeu diversos prêmios literários, incluindo o fato de ser a única história em quadrinhos a entrar na lista de melhores romances da Revista Time.

Mesmo com uma adaptação cinematográfica sendo cobrada pelos fãs, a obra não era nada fácil de adaptar. A série conta com certa bagagem dos leitores de quadrinhos, já que traz personagens semi-desconhecidos que já existiam anteriormente, mas não se preocupa tanto em explicar suas origens (com exceção de Rorschach), além de Alan Moore introduzir vários apêndices na história.

No entanto, em Watchmen – O Filme (2009), os roteiristas David Hayter (X-Men: O Filme) e o estreante Alex Tse, junto ao diretor Zack Snyder (300 e Madrugada dos Mortos) conseguiram o ótimo feito de se manterem fiéis à difícil história original e mesmo assim realizar um longa elogiado tanto para os mais leigos quanto para os mais entendidos em quadrinhos.

Snyder concede uma estética sombria ao filme, necessária à distópica história, mantendo seu tom adulto e conseguindo até mesmo incluir as discussões filosóficas criadas por Moore, optando apenas por descartar os vários apêndices. Mas, não totalmente, já que, alguns anos mais tarde, o diretor lançou a The Ultimate Cut, uma versão que também dá espaço aos pequenos detalhes vistos nas revistas.

Snyder foi quem levou o filme às telas, mas a adaptação de Watchmen passou por várias mãos antes. A primeira tentativa de adaptação surgiu logo após a publicação dos quadrinhos, mas foi engavetada pela Fox após Moore se recusar a escrever o roteiro. O projeto foi transferido para a Warner, onde Terry Gilliam (Medo e Delírio) ficou encarregado da direção. Não deu certo e novas tentativas foram feitas pela Universal e pela Paramount, com Darren Aronofsky (Cisne Negro) e Paul Greengrass (O Ultimato Bourne) sendo ligados à direção. As coisas não caminharam muito (apesar de Greengrass ter se dedicado bastante à pré-produção) e os fãs passaram a acreditar que somente uma minissérie para TV poderia dar conta do recado no fim das contas. Mas Watchmen, então, voltou para a Warner em 2005 e, enfim, saiu do papel com Snyder no comando. 

DivulgaçãoThe Orchid Thief, de Susan Orlean – por Renato Silveira 

A jornalista Susan Orlean deu uma verdadeira dor de cabeça ao roteirista Charlie Kaufman (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, Sinédoque, Nova York) quando a Columbia Pictures o incubiu da tarefa de adaptar o livro The Orchid Thief para as telas. Diante de uma missão impossível e sofrendo de bloqueio criativo, Kaufman, então, deu outro rumo ao projeto: resolveu transformar no tema do filme a sua enorme dificuldade em escrever o longa baseado no livro não ficcional de Orlean.

E foi assim que surgiu Adaptação, um filme sobre uma adaptação “impossível”. Dirigido por Spike Jonze, com quem Kaufman colaborou anteriormente em Quero Ser John Malkovich, Adaptação traz Nicolas Cage no papel de uma versão ficcionalizada do próprio Kaufman, que surge na tela acompanhado de um irmão gêmeo que muita gente acreditou existir (afinal, Donald Kaufman também recebe o crédito de autor do roteiro). No filme, Kaufman se utiliza da metalinguagem para falar sobre seus problemas com a depressão e a tarefa de adaptar The Orchid Thief e, ao mesmo tempo, faz uma sátira da indústria cinematográfica com o personagem do irmão gêmeo, que consegue ser bem-sucedido ao escrever e vender o roteiro de um thriller picareta.

Adaptação acabou transcendendo a simples versão filmada de The Orchid Thief, projeto originalmente encabeçado por Jonathan Demme (O Silêncio dos Inocentes, O Casamento de Rachel), em 1994, bem antes da publicação do livro, que só se deu em 1998 (Adaptação é de 2002). Susan Orlean se baseou em um artigo que ela mesma escreveu para a revista The New Yorker em 1995, quando acompanhou o colecionador de plantas raras John Laroche em sua determinação em encontrar e clonar a chamada Orquídea Fantasma. No filme, a narrativa do livro é subvertida por Kaufman, que modifica a relação da autora do livro, interpretada por Meryl Streep, com Laroche, vivido por Chris Cooper, também em um formidável exercício metalinguístico.

MENÇÃO HONROSA DUPLA

A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, e A Confederacy of Dunces, de John Kennedy Toole – por Larissa Padron 

Atlas Shrugged (lançado no Brasil como A Revolta de Atlas), best-seller publicado pela autora Ayn Rand em 1957, teve seus direitos comprados para uma adaptação cinematográfica no longínquo 1992 (pela fortuna, na época, de U$S 1 milhão) e desde então sua adaptação batalhou muito para sair do papel.

Para narrar a complexa história de um distópico Estados Unidos tomou-se a decisão de transformá-lo em uma trilogia. O primeiro filme, Atlas Shrugged: Part I, dirigida por Paul Johansson (da série One Tree Hill) chegou aos cinemas no ano passado e não arrancou bons comentários da crítica e nem teve boa bilheteria. Mas é claro que tendo investido tanto dinheiro no projeto, os produtores não vão desistir. A segunda parte está prevista para outubro deste ano nos Estados Unidos, desta vez sob a direção de John Putch (da série Cougar Town). Clique aqui para ler as notícias do desenvolvimento do projeto e conferir toda a luta para realizá-lo.

O mesmo dilema de A Revolta de Atlas ocorre com A Confederacy of Dunces, do vencedor do Pulitzer (póstumo) John Kennedy Toole, publicado em 1980. Os estúdios tentam realizar o longa desde 2003 e diversos diretores já passaram pelo projeto, como Steven Soderbergh (A Toda Prova) e David Gordon Green (Segurando as Pontas).

Mas parece que em breve nós veremos nos cinemas a história de Ignatius J. Reilly, um preguiçoso intelectual que gosta de criticar tudo. A Paramount recentemente contratou James Bobin (Os Muppets) para a direção e Zach Galifianakis (Um Parto de Viagem) como protagonista.

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