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FROZEN - UMA AVENTURA CONGELANTE Vestindo o Filme

A nova animação da Disney, Frozen - Uma Aventura Congelante, não só é um belo filme como é um deleite aos olhos. Os diretores são Jennifer Lee e Chris Buck e a história é baseada no conto A Rainha da Neve, do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen. A maior diferença entre o original e essa versão fica por conta da relação entre as duas protagonistas, que no longa-metragem passam a ser irmãs.

O designer de produção David Womersley e o diretor de arte Michael Giaimo, juntamente com uma grande equipe de artistas e modeladores, construíram o reino fantástico de Arandelle, onde vivem as irmãs Elsa (que vem a ser rainha) e Anna. Embora trate-se de uma fantasia, os elementos encontrados no filme são livremente inspirados na Escandinávia, especialmente na Noruega. Além disso, as silhuetas das vestimentas o situam em torno da década de 1840. Nesse período, as roupas estavam divididas entre as tradicionais, de cunho regional e popular, e a moda internacional, influenciada pelos grandes centros de então, Paris e Londres. Essa mistura transparece nas decisões tomadas aqui.

A roupa do príncipe Hans é um misto de traje típico com moda estrangeira. Embora o modelo, especialmente da casaca, seja bastante próximo ao primeiro, as botas, corte vitoriano ajustado das calças e a cauda o ligam à segunda, sendo comuns nas cortes europeias da época.

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À esquerda e ao centro, exemplos de trajes típicos noruegueses.
À direita, esboço de moda masculina datado de 1840.

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Arte conceitual e modelo final do príncipe Hans.

Já os trajes de Kristoff são baseados nas roupas tradicionais do povo lapão (ou sami), indígenas habitantes do norte da Escandinávia, que possuem muitas camadas de pele e couro. A túnica, presa acima dos quadris, cria uma espécie de saiote.

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Exemplos de trajes tradicionais dos homens lapões.

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Arte conceitual e modelo final de Kristoff.

Os lapões também utilizam botas características, com pontas curvas, que foram usadas como referência.

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À esquerda e centro, botas laponas. À direita, as de Kristoff.

Seus trajes para cerimônias e rituais possuem cores marcantes, predominando o azul e o vermelho, que também estavam presentes nas artes conceituais iniciais do personagem, assim como nas de Anna.

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Trajes sami masculinos e femininos.

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Artes conceituais de Anna e Kristoff.

A Princesa Anna, no dia da coroação de sua irmã, usa um vestido verde que segue o corte da moda internacional da época. Uma das alterações feitas, para torná-lo mais palatável ao olhar atual, foi livrá-lo das mangas, que existiriam caso fosse feito de maneira fiel ao período. Ainda assim, o formato das alças remete ao modelo de ombros caídos e o acabamento em "V" na parte inferior do corpete, bem como o volume da saia, garantem a silhueta adequada.  

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À esquerda, exemplo de vestido da década de 1840. Ao centro, vestimenta da realeza
do mesmo período, em retrato da jovem Vitória, rainha do Reino Unido.
À direita, vestido de Anna, que utiliza elementos da época de forma estilizada.

Posteriormente, Anna passa a utilizar um modelo popular, baseado no bunad, traje tradicional norueguês, que varia de acordo com a região do país. Tem direito a luvas, capa e gorro. As cores demonstram a personalidade aberta e expansiva da personagem.

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Exemplos de bunad femininos diversos.

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Arte conceitual e modelo final de Anna.

No dia de sua coroação, Elsa utiliza um vestido que transmite um senso de constrição, completamente coberta e sufocada, com uma paleta de cores entristecida.

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Arte conceitual e modelo final de Elsa com o vestido da coroação.

Mais adiante, ela passará a usar um vestido que não restringe seus movimentos e com elementos que deixam claro que abraçou seu dom. A silhueta não é de nenhum período específico, mas não precisa ser, pois, embora em geral a história esteja localizada em termos espaço-temporais, ainda trata-se de uma fantasia. A cor e o tecido recoberto de cristais remetem ao gelo e a capa é feita de um tecido translúcido com desenhos de fractais de neve.

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Arte conceitual e modelo final de Elsa com vestido utilizado posteriormente.

As linhas dos bordados dos corpetes de ambas as irmãs são perceptíveis e eles são devidamente inspiradas pelos corpetes usados nas roupas da região, além terem influência nas volutas do rosemaling, pintura decorativa norueguesa.

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Exemplos de bordados encontrados em vestimentas tradicionais.

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Exemplos de uso de rosemaling.

O que mais impressiona no figurino é o trabalho que foi colocado na criação de texturas e detalhes críveis para as vestimentas. Couro, pele e lã são perceptíveis, bem como bordados, fitas e mesmo as linhas das costuras são visíveis a olho nu no cinema.

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Tule, lã, cristal, couro, pele, cetim, bem como bordados,
costuras e apliques: a qualidade das texturas em Frozen.

Ao assistir ao filme fica patente todo o trabalho de pesquisa e de criação que nele foi colocado. Com um padrão de detalhamento de roupas na modelagem tridimensional como nunca se viu antes, Frozen, sem dúvida, estipula novos patamares de perfeccionismo na concepção de personagens animados. 

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Sobre o autor:

É antropóloga e doutoranda em Antropologia Social pela USP, apaixonada por cinema e autora do blog Estante da Sala.

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