Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/01/1970 01/01/1970 5 / 5 / 5
Distribuidora

Líbano
Lebanon

Dirigido Samuel Maoz. Com: Yoav Donat, Reymond Amsalem, Oshri Cohen, Michael Moshonov, Zohar Shtrauss, Ashraf Barhom, Itay Tiran, Guy Kapulnik, Dudu Tassa.

Ambientado durante a invasão do Líbano por forças israelenses em 1982, Líbano é uma espécie de híbrido de Das Boot, que Wolfgang Petersen dirigiu em 1981, e Platoon, realizado por Oliver Stone em 1986. Do primeiro, adota a ambientação claustrofóbica; do segundo, a autenticidade por se tratar de uma obra concebida e dirigida por um veterano de guerra em busca de retratar suas experiências no inferno do combate.

Vencedor do Leão de Ouro em Veneza, em 2009, o filme escrito e dirigido por Samuel Maoz coloca o espectador dentro de um tanque ao lado dos quatro jovens soldados israelenses que o tripulam – e ali ficamos durante praticamente toda a projeção enquanto o chão do veículo é tomado pela água e pela sujeira, o calor e o forte odor de sangue e urina sufocam os personagens e o pânico e a angústia dominam a situação. Tornando-se exponencialmente mais nervosos à medida que as horas passam, os soldados passam a questionar a autoridade de seus superiores e a lógica das ordens recebidas, ao passo que o artilheiro Shmulik (Donat), certamente por desempenhar a mesma função que o cineasta executou na guerra, gradualmente assume a condição de protagonista ao enfrentar a culpa e a indecisão diante da necessidade de apertar o gatilho.

Separados do mundo exterior pelas grossas paredes do tanque, os soldados só entram em contato com a luz do sol e com os sons externos quando alguém entra no veículo – e, nestes momentos, a intensa luminosidade e o barulho de helicópteros e gritos acabam atordoando aqueles jovens em função do contraste com o isolamento que experimentam na maior parte do tempo. Aliás, o design de som da produção é impecável, servindo não só para retratar a realidade dos personagens, mas também como guia para a câmera subjetiva, que assume o ponto de vista da mira de Shmulik e emite pequenos ruídos ao alterar o campo de visão ou a proximidade dos objetos. Da mesma maneira, as comunicações através do rádio servem quase como um narrador, oferecendo informações relevantes de maneira orgânica e econômica.

Sem fazer quaisquer concessões ao espectador, já que a câmera de Maoz (ou melhor: a “mira” de seu alterego) capta sempre os detalhes mais pavorosos do combate, Líbano não poupa o exército israelense ao revelar a utilização de armas proibidas pela convenção de Genebra e ao enfocar momentos aterrorizantes como aquele que envolve uma garotinha e sua mãe em um prédio semi-destruído – e ouvir os soldados informando a “ausência de baixas” depois de testemunharmos um verdadeiro massacre é algo que ofende e choca justamente por percebermos que, de fato, para aqueles indivíduos o que importa é que nenhum de seus companheiros foi ferido, tornando a morte de civis algo praticamente irrelevante.

Beneficiado ainda por performances intensas que se tornam ainda mais fundamentais pelo excesso de planos fechados (algo inevitável em função da ambientação), Líbano oferece um ponto de vista original e sufocante sobre a guerra, merecendo aplausos também pela coragem do caráter confessional de sua narrativa.

Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2010.

28 de Setembro de 2010

Siga Pablo Villaça no twitter clicando aqui!

Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!