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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/01/1970 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora

O Errante
Ha'Meshotet / The Wanderer

Dirigido por Avishai Sivan. Com: Omri Fuhrer, Ali Nassar, Ronit Peled, Shani Ben Haim.

Isaac é um jovem em conflito. Filho de um casal ortodoxo para o qual a religião judaica se mostrou determinante há vários anos, quando seu pai abandonou uma vida de crimes para se entregar a Deus, o rapaz vem se sentindo cada vez mais sufocado pelos costumes daquela Fé. Como se não bastasse, um cálculo renal passou a atormentá-lo com fortes dores e uma varicocele ameaça sua fertilidade. Confuso e angustiado, Isaac passa a percorrer as ruas da cidade em busca de algo que nem sequer sabe reconhecer apropriadamente – sua própria identidade.

Dirigido com inteligência por Avishai Sivan, O Errante é um filme que busca, no simbolismo constante, a representação das dúvidas internas de seu protagonista: assim, quando seu sapato revela um furo, Isaac é presenteado com um par usado de seu pai – uma representação literal de seu drama pessoal, já que também no campo religioso é obrigado a seguir os passos do outro (e não é à toa que o calçado logo passa a ferir seus pés). Não que o pai do jovem seja uma figura agressiva ou autoritária: terno à sua própria maneira, o homem demonstra carinho e preocupação constantes para com o filho, chegando a caminhar quilômetros até o hospital para visitá-lo por se ver impedido pelas proibições do shabbat de pegar um táxi naquele dia específico.

Da mesma maneira, o cineasta merece aplausos pelo belíssimo plano no qual vemos o pai dividindo um copo de água com o filho numa cozinha escura, já que é exatamente isto que busca fazer com o garoto através da religião: compartilhar algo que julga “puro” e que possa salvá-los das trevas que poderiam envolvê-los. Além disso, é curioso observar como Sivan constantemente deixa partes significativas de seus atores fora de quadro, como se buscasse salientar a natureza partida, dividida, daquelas pessoas – e mesmo que, aqui e ali, caia na obviedade (como ao trazer Isaac como o único homem em um ponto de ônibus repleto de mulheres), na maior parte do tempo o diretor consegue passar mensagens e idéias importantes de forma sutil e inteligente.

Sim, talvez O Errante sacrifique o ritmo ao investir em longos e silenciosos planos, mas o fato é que, embora isso torne a experiência mais difícil para o espectador, a própria vida do protagonista é refletida naquele silêncio desgastante. Obrigado por praticamente todos os demais personagens a beber água (ou seja: a absorver suas visões de mundo), Isaac já surge no primeiro plano do filme caminhando lentamente por uma passagem cercada de ambos os lado, refletindo sua condição de errante que, apesar deste apelido, nada mais faz do que percorrer os caminhos para ele traçados por outros.

Assim, é uma pena que, no final das contas, Isaac seja um protagonista tão desagradável – especialmente depois de tomar uma atitude, durante o terceiro ato, que impossibilita completamente o espectador de lhe dedicar qualquer simpatia. Posso até compreender a natureza de sua angústia e do seu dilema, mas, depois de passar quase 90 minutos ao seu lado, simplesmente descobri ser impossível torcer para que se encontre. Há pessoas que merecem sofrer – e Isaac acaba se estabelecendo como uma delas.

Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2010.

27 de Setembro de 2010

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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