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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
14/01/2011 01/01/1970 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
80 minuto(s)

Direção

Sylvain Chomet

Elenco

Jean-Claude Donda , Eilidh Rankin

Roteiro

Sylvain Chomet

Produção

Philippe Carcassonne

Música

Sylvain Chomet

Montagem

Sylvain Chomet

Direção de Arte

Bjarne Hansen

O Mágico
L´illusionniste ou The Ilusionist

Dirigido por Sylvain Chomet. Com as vozes de Jean-Claude Donda, Edith Rankin.

Depois de estrear na direção de longas com o maravilhoso As Bicicletas de Belleville, em 2003, o cineasta francês Sylvain Chomet retorna sete anos depois com um projeto curioso: baseado em um roteiro inédito deixado pelo mestre Jacques Tati, este O Mágico não só resgata o texto do diretor como ainda busca emular elementos de suas obras, além, claro, de contar com um protagonista que é sua imagem perfeita. Neste sentido, esta produção estabelece paralelos curiosos com Luz nas Trevas, sobre o qual também escrevi durante a Mostra de Cinema de São Paulo e que fazia uma experiência-homenagem similar com o diretor Rogério Sganzerla.

Protagonizado por um mágico talentoso, mas antiquado, cujo número vem despertando aplausos apenas moderados de uma platéia mais interessada em rock’n’roll e em apresentações que tragam alguma excitação, o filme acompanha o ilusionista enquanto este viaja à Escócia em busca de novos espectadores. Depois de se apresentar em um pub, ele atrai a atenção de uma adolescente que trabalha no local e que, acreditando estar diante de um mágico real, decide acompanhá-lo em suas viagens, mostrando-se interessada em presentes caros que o pobre artista se esforça para comprar a fim não só de manter a ilusão, mas também para continuar a ser admirado pela menina, a quem parece encarar como uma espécie de filha.

Trazendo pouquíssimos diálogos (como num autêntico filme de Tati), O Mágico volta a provar o talento de Chomet como animador ao exibir um imenso apuro técnico em uma narrativa que depende exclusivamente das imagens para prender o espectador – e não só o design dos personagens é fascinante, mas também seus movimentos, desde a esquelética cantora de vaudeville que caminha com um gingado que parece quase partir-lhe a coluna até o palhaço depressivo que, mesmo sem maquiagem, exibe os traços de um clown, passando, claro, pelo próprio protagonista, que surge como uma representação perfeita de Jacques Tati (ou de seu monsieur Hulot), incluindo até mesmo seus maneirismos (como os braços esticados para baixo e as mãos constantemente contraídas). E como não se encantar com o balançar de um pequeno barco nas águas turbulentas de um lago, com as gotas de água que parecem atingir a “câmera” durante uma tempestade ou com o movimento do kilt de um velho escocês ao vento?

Com uma direção de arte que confere uma clara melancolia aos cenários sem, contudo, deixar de torná-los calorosos a fim de refletir o prazer que o mágico e a garota sentem na companhia um do outro, o longa também encanta por seus belíssimos efeitos de cores e luzes ao retratar a cidade durante a noite ou ao trazer o personagem-título deitado em seu sofá enquanto o placar luminoso do lado de fora projeta um brilha característico sobre seu corpo. Da mesma maneira, o design sonoro da produção torna-se digno de prêmios ao trazer aquele universo à vida através de detalhes como o bater de um encanamento envelhecido ou o leve zumbido de uma lâmpada elétrica. Em contrapartida, a trilha sonora do próprio Chomet, ainda que evocativa, peca pelo excesso, parecendo determinada a criar um tom melancólico por conta própria.

Sem jamais buscar divertir como As Bicicletas de Belleville, já que até mesmo suas gags visuais revelam-se mais inocentes do que engraçadas, este O Mágico parece reconhecer a triste situação de seu protagonista e abraçá-la sem reservas – mesmo celebrando o humor de Tati ao, por exemplo, levar o ilusionista a entrar num cinema que exibe Meu Tio. E se o mestre francês é a principal referência do filme, não é, porém, a única, já que Chomet também se mostra interessadíssimo em transformar a adolescente que acompanha o personagem-título em uma versão da Alice de Lewis Carroll, incluindo não só uma cópia do vestido azul da garota como também um coelho fujão – e como a menina que visita o País das Maravilhas, a jovem escocesa parece acreditar estar diante de uma criatura de natureza mágica, fantástica, fugindo da realidade à sua volta através de uma fantasia implausível.

E que eventualmente resulta apenas em dor e decepção, comprovando que, sem ter o público infantil como alvo de seu trabalho, Chomet não hesita em abraçar a triste melancolia de um mundo no qual a magia definitivamente não existe.

Observação: há uma cena adicional após os créditos finais.

04 de Novembro de 2010

Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura da Mostra Internacional de Cinema de SP 2010.

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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