Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
12/04/2013 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Universal
Duração do filme
126 minuto(s)

Oblivion
Oblivion

Dirigido por Joseph Kosinski. Com: Tom Cruise, Olga Kurylenko, Andrea Riseborough, Morgan Freeman, Zoe Bell, Nikolaj Coster-Waldau, Melissa Leo.

Oblivion é uma ficção científica pós-apocalíptica que traz uma trama envolvendo conspirações, intrigas, segredos e dúvidas existenciais em uma narrativa que adota uma história de amor como seu centro absoluto e que marca o filme do primeiro ao último frame. Justamente por querer abraçar tantas possibilidades, o longa acaba enfrentando problemas de ritmo, mesmo criando, no desenrolar de suas mais de duas horas de duração, um universo triste e convincente.

Dirigido por Joseph Kosinski a partir de seus quadrinhos e roteirizado pelo cineasta ao lado de Karl Gajdusek (Reféns) e Michael Arndt (Pequena Miss Sunshine, Toy Story 3), o filme se passa em 2077, quando a Terra se encontra devastada depois de uma guerra contra uma raça alienígena. Com a maior parte da humanidade agora morando em uma lua de Saturno, o planeta tem poucos habitantes: além dos “saqueadores”, remanescentes hostis dos aliens que insistem em tentar sabotar instalações importantes deixadas pelos humanos, nosso mundo conta apenas com a atuação de Jack Harper (Cruise) e sua companheira Victoria (Riseborough), que fazem a manutenção dos drones usados para proteger os maquinários. Mantendo contato com a base humana apenas através dos chamados em vídeo feitos por uma certa Sally (Leo, cujos modos excessivamente afáveis sugerem um estranhamento vital), Jack acaba fazendo descobertas importantes sobre a natureza de seu trabalho ao resgatar uma astronauta cujo rosto já lhe surgira de forma recorrente em sonhos.

Iniciando com uma longa narração expositiva feita pelo protagonista – e que mais tarde é praticamente repetida em sua íntegra quando ele encontra Julia (Kurylenko) -, Oblivion deposita em Tom Cruise a responsabilidade de carregar o filme sozinho em uma performance solitária e basicamente física. Não se trata de um desafio novo para o ator, cuja intensidade e entrega ao papel mais do que compensam a mesmice de sua composição, sendo interessante como aos poucos aprendemos bastante sobre Jack a partir não só de suas decisões (como não compartilhar com Victoria o fato de sua nave ter falhado, algo típico do herói hollywoodiano), mas também de seu conforto diante da geografia e do clima hostis do planeta. Além disso, é curioso perceber como o sujeito insiste usar, sempre que possível, roupas diferentes do uniforme que traz a logomarca de seus empregadores – e, em certo instante, ele chega a vestir uma camisa cujo padrão quadriculado remete diretamente à roupa usada por Julia em seu sonho.

Isto contrasta diretamente com Victoria, cujos figurinos sempre em cor branca ou chumbo também são complementados por um pequeno broche no formato triangular – o que reflete seu apego às regras e sua fidelidade aos patrões. Da mesma maneira, o design de produção investe num branco asséptico não só no complexo que abriga o casal, mas também em suas roupas, equipamentos e veículos, remetendo a uma estética Apple também presente no finíssimo e elegante encosto da cadeira usada por Victoria em sua estação de trabalho. Isto, claro, se contrapõe às roupagens escuras e sujas e aos equipamentos envelhecidos dos “saqueadores” – cujos capacetes parecem se inspirar no Predador ao evocarem uma expressão animalesca e raivosa.

Ambientado em um universo criado através da escolha acertada de locações e de abundantes efeitos visuais, a Terra de Oblivion é um local apropriadamente devastado, mas suficientemente belo para justificar o amor do herói pelo lugar. Enquanto isso, a fotografia de Claudio Miranda (que já havia trabalhado com Kosinski em Tron: O Legado) adota uma paleta fria e dessaturada em boa parte do tempo, retomando parte do calor nas sequências ambientadas em uma cabana e, claro, nos flashbacks (aqueles coloridos) ocasionais. Além disso, Miranda faz uma homenagem divertida a Apocalypse Now ao introduzir o personagem de Morgan Freeman, que surge como uma espécie de Coronel Kurtz em meio às sombras e banhado por uma leve chama.

Apropriada, também, é a inclusão de Um Conto de Duas Cidades na prateleira de Jack, já que a narrativa de Dickens traz elementos temáticos que podem facilmente estabelecer paralelos com outros vistos em Oblivion, já que ambos lidam com sacrifícios pessoais e um conceito particular de ressurreição (e, claro, não seria impossível comparar os alienígenas à aristocracia francesa pré-Revolução, ao passo que os humanos seriam a plebe explorada e, claro, uma versão pós-apocalíptica dos jacobinos). Por outro lado, o roteiro constantemente perde o foco temático, exagerando em repetições (em certo instante, Julia descreve um evento passado e, então, vemos tudo em um extenso flashback) e em longas e desinteressantes sequências de batalhas entre humanos e drones.

Trazendo referências também ao ótimo Lunar e ao menos duas citações explícitas de 2001: Uma Odisseia no Espaço (o “olho” de Hal e o “Bebê Estelar” flutuando no espaço), Oblivion não oferece uma narrativa coesa o suficiente para criar o impacto dramático necessário, mas é ambicioso o bastante para não descartar as boas ideias que tem, mesmo que acabe explorando-as desajeitadamente.

09 de Abril de 2013

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!