Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
27/07/2012 01/01/1970 2 / 5 2 / 5
Distribuidora
Imagem Filmes
Duração do filme
118 minuto(s)

Aqui é o Meu Lugar
This Must Be The Place

Dirigido por Paolo Sorrentino. Com: Sean Penn, Frances McDormand, Judd Hirsch, Eve Hewson, Kerry Condon, Harry Dean Stanton, Olwen Fouere, Heinz Lieven e David Byrne.

A primeira imagem que vemos em Aqui é o Meu Lugar é a de um cachorro que, castrado, tem seus movimentos parcialmente impedidos pelo imenso cone que salta de seu pescoço. Esta é, de certa forma, a maneira ideal de iniciar o filme, já que também seu protagonista, antigamente conhecido pelo espírito rebelde, agora vive um momento de imobilidade – embora emocional.

Vivido por Sean Penn, o ex-astro do rock Cheyenne vive numa mansão colossal ao lado da esposa que o acompanha há 35 anos (McDormand) e passa os dias ao lado da jovem gótica/punk Mary (Hewson), tentando convencê-la a namorar um tímido funcionário de um shopping local. Triste e monossilábico, ele sente-se culpado pela morte de dois fãs que se mataram movidos por suas pesadas músicas e, assim, as coisas apenas pioram quando recebe a notícia de que seu pai, com o qual não conversava há décadas, também está à beira da morte. A partir daí, Cheyenne inicia uma viagem solitária pelo interior dos Estados Unidos enquanto tenta encontrar o ex-oficial nazista que humilhou o pai em um campo de concentração e...

Hein? Exato. Se estranhou a abrupta introdução do subgênero road movie no filme e também a motivação por trás da jornada do protagonista, já percebeu um dos principais problemas de Aqui é o Meu Lugar: sua falta de estrutura. Escrito sem planejamento aparente, o roteiro de Sorrentino e Umberto Contarello salta de um tema a outro de maneira desconjuntada ao introduzir novos personagens e questionamentos sem que os já estabelecidos tenham sido desenvolvidos apropriadamente, criando uma narrativa episódica e frustrante por jamais se preocupar em explorar seus próprios temas a fundo – e nem mesmo a natureza de seu envolvimento no desaparecimento do irmão de Mary se torna clara ao longo da projeção, embora seja obviamente importante para o sujeito.

Infelizmente, os problemas na construção dos personagens também dizem respeito às performances em si – e embora Sean Penn seja, sem qualquer sombra de dúvida, um dos melhores atores de sua geração, aqui ele comete um erro básico ao investir numa composição carregada (e claramente inspirada em Ozzy Osbourne) que não deixa espaço para qualquer evolução ou arco dramático. Com o rosto pesadamente maquiado, caminhando vagarosamente e adotando uma fala lenta e pausada que indica provavelmente anos de abusos químicos, Penn adota a mesma cadência do início ao fim do filme, sem perceber que, depois dos vinte primeiros minutos, a novidade de sua caracterização cede lugar ao enfado.

Já a direção de Paolo Sorrentino vai na direção oposta e jamais encontra o tom que pretende seguir: em um instante, parece investir num drama intimista; em outro, no estudo de personagem; mais adiante, numa atmosfera alegórica – e, com isso, fica difícil conciliar cenas que trazem um transeunte vestido de Batman caminhando à noite por um bairro e outras envolvendo um veterano caçador de nazistas. Sim, o propósito do cineasta de criar uma narrativa relativamente alegórica fica clara na própria seleção de figurantes, que frequentemente exibem tipos físicos estranhos e marcantes, mas a pergunta que resta é: alegoria de quê? Qual é a mensagem que Sorrentino pretende transmitir com seu filme?

E é uma pena que Aqui é o Meu Lugar jamais encontre um rumo, já que certamente conta com sua parcela de acertos, a começar pelo excepcional e extenso plano que acompanha uma performance de David Byrne por vários minutos (incluindo um elemento cênico fabuloso) até encontrar Cheyenne na plateia. Além disso, há os detalhes como os porta-retratos virados para a parede na casa de Mary e, claro, o simples fato de a personagem de McDormand sentar-se à cabeceira da mesa, reduzindo o marido a uma apropriada posição de infantilidade. E se a trilha dissonante e incômoda mais chateia do que contribui para o projeto, o hábito de Cheyenne de sempre arrastar uma bagagem ao menos surge como um símbolo que, mesmo óbvio, complementa nossa compreensão acerca do protagonista.

E por falar em obviedades, o diretor Paolo Sorrentino demonstra aqui uma obsessão quase patológica com gruas, usando-as até mesmo em planos de importância secundária como aquele que traz um carro atravessando uma ponte e cujo movimento é capturado enquanto a própria câmera se desloca sobre a estrutura sem razão alguma. Exibindo a mais pura incapacidade de criar um quadro estático, o cineasta parece determinado a provar que o filme contava com um diretor, chamando a atenção para o próprio trabalho mesmo que isto em nada acrescente à narrativa, o que chega a ser divertido.

Mas o mais decepcionante é perceber como Aqui é o Meu Lugar tenta, ao final, dar a impressão de ter chegado a algum lugar através de modificações externas do protagonista que jamais encontram respaldo naquilo que testemunháramos durante as duas horas anteriores – e sugerir que se tornar um tabagista representa amadurecimento por parte de Cheyenne (“Só adultos fumam”) é apenas o coroamento tolo de um roteiro idem.

Crítica originalmente publicada durante a cobertura do Festival do Rio de 2011.

21 de Outubro de 2011

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!