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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
24/08/2012 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Warner Bros.
Duração do filme
123 minuto(s)

Rock of Ages - O Filme
Rock of Ages

Dirigido por Adam Shankman. Com: Julianne Hough, Diego Boneta, Alec Baldwin, Russell Brand, Mary J. Blige, Bryan Cranston, Paul Giamatti, Catherine Zeta-Jones, Angelo Valderrama, Malin Akerman, Will Forte, T.J. Miller, Eli Roth e Tom Cruise.

Rock of Ages é basicamente uma versão de Burlesque com canções capazes de inspirar nostalgia mediana – desde que você não se importe com o AutoTune. (E, sim, eu sei que o musical da Broadway precede o péssimo filme estrelado por Cher e Christina Aguilera, mas prefiro perder a cronologia do que a alfinetada.) Por outro lado, ainda que seja prejudicado por todo tipo de problema narrativo, o longa ao menos traz algumas boas intepretações que ajudam a diminuir o sofrimento do espectador – e Tom Cruise e Alec Baldwin merecem nossa gratidão eterna por isso.

Escrito de forma esquemática por Justin Theroux, Allan Loeb e Chris D’Arienzo a partir da montagem teatral concebida por este último, Rock of Ages gira em torno da jovem Sherrie (Hough), que deixa sua pequena cidade para tentar fazer sucesso como cantora em Hollywood – uma história tão original quanto subtramas batidas como a de um amor adolescente ameaçado por um mal entendido ou a da mulher que tenta destruir um velho amor depois de ter sido abandonada por este na juventude (e é admirável, de certa forma, que o trio de roteiristas também inclua estes elementos na história). Conseguindo trabalho em uma famosa casa de shows que agora se encontra à beira da falência, a moça se envolve com o aspirante a cantor Drew (Boneta) e conhece o lendário Stacee Jaxx (Cruise), cujo empresário Paul (Giamatti) não hesita em tomar todos os centavos angariados pelo bonachão dono do estabelecimento, Dennis Dupree (Baldwin).

Este fiapo de trama, claro, é mera desculpa para amarrar (mal) os números musicais inspirados em canções de sucesso da década de 80 – e sempre que um novo personagem surge (e como o filme tem personagens dispensáveis!), a solução encontrada pelo roteiro para apresentá-lo reside em mais uma música cujas letras remetem tangencialmente aos seus dilemas. Para piorar, o filme parece acreditar que o espectador realmente se importa com o romance da dupla principal, não percebendo que a narrativa despenca sempre que se concentra na Barbie e em seu namorado Justin Bieber em vez de apostar nas performances infinitamente mais interessantes oferecidas por seus colegas mais experientes de elenco. Além disso, para um roteiro escrito a seis mãos, chega a espantar que o medo do palco manifestado por Drew jamais se concretize, já que o rapaz não parece enfrentar problema algum em usar sua voz desinteressante diante do público. Para piorar, é no mínimo implausível ambientar uma história na década de 80 e esperar que acreditemos que o rock’n’roll poderia ser tratado como uma doença em um mundo pós-Elvis, Beatles, Rolling Stones, The Doors e companhia.

Dirigido pelo sempre incompetente Adam Shankman, Rock of Ages ao menos demonstra que o cineasta percebeu os erros cometidos em Hairspray – o que, claro, apenas o leva a cometer erros diferentes desta vez. Se naquela obra ele pecava pela falta de imersão nos números musicais, enfocando-os em planos sempre abertos e com a câmera imóvel, tratando o espectador cinematográfico como uma pessoa presa à visão de alguém numa plateia teatral, desta vez ele vai na direção radicalmente oposta, apostando em quadros fechados e cortes constantes que, associados à movimentação frequente da câmera, tornam as coreografias incompreensíveis e desinteressantes. Como se não bastasse, algumas de suas decisões criativas são simplesmente injustificáveis, como ao decidir iniciar um número musical enquanto o mocinho urina e lava as mãos – algo que não serve nem como subversão das convenções do gênero ou como tentativa de humor. E se ignorei a cronologia no primeiro parágrafo em prol de um efeito de argumentação, Shankman faz algo parecido numa montagem que mostra o envolvimento da protagonista no cotidiano da boate, incluindo uma festa de aniversário que lhe é oferecida pelos colegas de trabalho – algo no mínimo problemático, já que supostamente apenas dois ou três dias se passam entre sua contratação e o show de Stacee Jaxx.

Jaxx, diga-se de passagem, representa um bem-vindo retorno de Tom Cruise à carreira de ator depois de anos investidos em performances que dependiam muito mais de seu vigor físico (Missão: Impossível 3 e 4) de muletas de interpretação (Operação Valquíria) ou de maquiagem (Trovão Tropical) do que da composição cuidadosa de um personagem. Causando impacto desde sua excelente entrada em cena, Cruise transforma o vocalista da Arsenal em um indivíduo que oscila entre a depressão, a auto ilusão e os delírios de grandeza – e sua fragilidade vocal é mais do que compensada por sua entrega absoluta aos números musicais. Da mesma maneira, o veterano Alec Baldwin cria com Russell Brand o arco mais eficiente (e inesperado) do filme, ao passo que Paul Giamatti se diverte claramente com o empresário canalha que passa a maior parte do tempo em seu imenso e primitivo telefone móvel enquanto tenta posar de descolado com seu rabo-de-cavalo grisalho e mal cuidado. Por outro lado, se Catherine Zeta-Jones tem seus consideráveis talentos como dançarina desperdiçados pelas fracas coreografias e pela direção pavorosa de Shankman, Bryan Cranston mais uma vez desaponta em uma participação insignificante num projeto mediano (sim, estou repetindo o que disse em meu texto sobre O Vingador do Futuro; se Cranston não tentará criar algo memorável no Cinema, não perderei tempo tentando encontrar novas maneiras de descrever seu fracasso nas telonas).

Contando com um desfecho novelesco (com direito a plano-detalhe da barriga de uma grávida e improváveis finais felizes), Rock of Ages é previsível a ponto de permitir que o público antecipe em vários segundos o inevitável plano que revelará o letreiro de Hollywood. Mas isto não deveria ser surpresa, já que, como regra, qualquer filme que dependa das reações de animaizinhos para gerar risos acaba se apresentado como uma besteira descartável.

E não estou falando do babuíno que sempre acompanha Tom Cruise, mas da ponta do desprezível cineasta Eli Roth. O primata ao menos é simpático.

26 de Agosto de 2012

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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