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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
04/05/2012 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Mercúrio Produções/Kinesom Filmes
Duração do filme
83 minuto(s)

Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha
Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha

Dirigido por Helena Ignez, Ícaro Martins. Com: Ney Matogrosso, André Guerreiro Lopes, Djin Sganzerla, Sandra Corveloni, Bruna Lombardi, Maria Luisa Mendonça, Simone Spoladore, Arrigo Barnabé, Sérgio Mamberti, Mário Bortolloto, José Mojica Marins, Paulo Goulart.

Dirigido pela viúva de Rogério Sganzerla, estrelado pela filha e pelo genro do cineasta e partindo do roteiro que este escreveu, Luz nas Trevas é uma continuação do clássico do cinema marginal O Bandido da Luz Vermelha, que Sganzerla realizou em 1968 e que trazia Helena Ignez, co-diretora deste projeto, no importante papel da prostituta Janete Jane. Assumindo-se como filme e homenageando a obra do diretor, o longa mostra-se corajoso ao adotar uma linguagem com tendência ao experimental em um contexto dominado por narrativas lineares e historinhas com princípio-meio-e-fim – uma coragem admirável, mas que não elimina seus equívocos.

Trazendo o Bandido da Luz Vermelha (no original, Paulo Villaça; aqui, Ney Matogrosso) vivendo numa cela individual e contando com vários privilégios por ter assumido a autoria de dezenas de crimes que não cometeu (e, portanto, ignorando o final do filme de 68), o roteiro nos apresenta a Tudo-ou-Nada (Lopes), que descobre ser filho do Luz e passa a imitar o pai, usando uma lanterna e lenço vermelhos em assaltos por toda a cidade.

Buscando claramente adotar o estilo visual de Sganzerla (e com sucesso), os diretores transformam este projeto em algo como um neo-cinema marginal, empregando travellings circulares, zooms abruptos, a câmera sempre na mão e uma textura na fotografia que remete diretamente à obra do cineasta – e as citações continuam no letreiro luminoso que traz os créditos que exibem, inclusive, a característica expressão “um roteiro de cinema de Rogério Sganzerla”. Reconhecendo a existência do filme original em seu próprio universo diegético, Luz nas Trevas ainda mergulha na metalinguagem ao incluir cenas de várias obras do cineasta (e um cartaz de O Signo do Caos) e ao contar com um protagonista que não apenas rompe a quarta parede, se dirigindo ao público, como ainda manda o narrador se calar.

Sem abrir mão das paródias que fizeram de O Bandido da Luz Vermelha uma obra auto-referencial e crítica, esta continuação traz atores secundários que reconhecem seus personagens como estereótipos e, assim, investem em performances absurdas e caricatas – e não é à toa que, em certo instante, o delegado que persegue Tudo-ou-Nada recita um longo monólogo composto exclusivamente por clichês e lugares-comuns.

Buscando se estabelecer como um retorno ao período do primeiro longa, mas também como uma produção contemporânea, Luz nas Trevas ainda surpreende o espectador com um design de produção e com figurinos que, mesmo remetendo diretamente aos anos 70 (além das roupas de época, o protagonista filma com uma Super 8 e dirige um Galaxie), exibe em seu background carros modernos e menciona aparelhos de DVD e outros itens modernos, criando um universo curiosamente atemporal.

Já as tentativas feitas pelo roteiro no sentido de estabelecer uma crítica social e política, infelizmente, soam infantis e repetitivas (em vários instantes, alguém cita a corrupção e “os políticos” como males piores do que o protagonista) – e, da mesma maneira, planos rápidos jogados ao longo da projeção, como aquele em que Luz surge segurando uma navalha, não conseguem construir um simbolismo relevante, parecendo viagens temáticas incompletas e mal-sucedidas feitas pelos cineastas.

Seja como for, Luz nas Trevas é um intrigante experimento-homenagem que, mesmo pecando pela falta de coesão, merece créditos pela ousadia e por seus vários acertos.

30 de Outubro de 2010

Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura da Mostra Internacional de Cinema de SP 2010.

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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