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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
25/12/2008 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
150 minuto(s)

Um Conto de Natal
Un Conte de Noël / A Christmas Tale

Dirigido por Arnaud Desplechin. Com: Catherine Deneuve, Mathieu Amalric, Jean-Paul Roussillon, Anne Consigny, Hippolyte Girardot, Laurent Capelluto, Emmanuelle Devos, Chiara Mastroianni, Emile Berling, Françoise Bertin, Melvil Poupaud, Clément Obled, Thomas Obled.

 

Um Conto de Natal é um filme curioso: embora gire em torno de uma família que traz o mesmo sobrenome dos personagens vistos no excelente Reis e Rainha (e, no caso do tintureiro vivido por Jean-Paul Roussillon, também o mesmo primeiro nome), que o diretor Arnaud Desplechin comandou em 2004, o longa traz vários atores daquela produção interpretando figuras diferentes neste projeto, além de exibir várias experimentações formais em sua linguagem que indicam claramente o interesse do cineasta em estabelecer o caráter particular de sua obra.

 

Escrito por Desplechin e Emmanuel Bourdieu, o roteiro acompanha os conflitos da família Vuillard, que se intensificam quando todos se reúnem para a festa de Natal: diagnosticada com uma doença grave, a matriarca vivida por Deneuve precisa de um transplante de medula para ter alguma chance de sobreviver e, assim, seus filhos e netos se submetem a testes de compatibilidade que acabam se tornando catalisadores de mais confrontos – especialmente quando a ovelha negra da família, Henri (Amalric), retorna ao lar depois de um banimento de cinco anos exigido por sua bem-sucedida irmã Elizabeth (Consigny).

 

Empregando teatro de sombras, rompimentos da quarta parede, narrações em off feitas por vários personagens e até mesmo íris que se fecham sobre certos objetos e pessoas como comentários da narrativa, Um Conto de Natal parece funcionar como uma grande sessão de terapia para a família Vuillard, que aparentemente se reconhece como parte de um filme, empregando-o para explicitar seus pontos de vista e discutir seus dilemas. Aliás, a franqueza com que os membros da família expõem seus sentimentos e pensamentos uns para os outros beira a fantasia: Deneuve, por exemplo, assume que não ama o filho vivido por Amalric, que, em contrapartida, não esconde o desprezo que tem pela mãe – e tudo isto é dito sem grande rancor, mas com uma objetividade que assume a inutilidade de se brigar em função destes sentimentos, já que é muito mais prático reconhecê-los, aceitá-los e seguir adiante.

 

Henri, diga-se de passagem, é um personagem particularmente rico graças à sina que o acompanha desde o nascimento: gerado com o propósito de doar a medula para o irmão doente, ele já se estabeleceu como “inútil” ao se revelar incompatível com o outro – e o fato de, anos depois, descobrir a compatibilidade com a mãe não é algo que o redime, já que, desta vez, é o próprio transplante de medula que pode provocar a morte da personagem de Deneuve (e ela escolhe Henri como seu doador não por amá-lo, mas sim por saber que o procedimento é arriscado também para o filho).

 

Numa família dominada pelas mulheres (não é à toa que, em certo momento, os homens surgem conversando na cozinha), os constantes confrontos acabam estabelecendo, paradoxalmente, uma anômala harmonia – o que, neste sentido, diferencia o filme de Desplechin de outras obras exibidas na 32a. Mostra de SP que, coincidência ou não, também abordam crises familiares: Horas de Verão, Feliz Natal e Um Natal Bagunçado (e reparem que, assim como estes dois últimos, Um Conto de Natal se passa durante as festas de fim de ano, que, não por acaso, parecem propícias para explosões de parentes que se reencontram depois de muito tempo). Ainda assim, esta produção acaba se prejudicando em função de sua longa duração, perdendo o foco em diversos momentos e enfraquecendo, com isto, sua interessante narrativa.

 

De todo modo, é significativo que, em sua introdução, o filme diga que a memória de Joseph (o irmão morto na infância) se apagou ao longo do tempo, já que os Vuillart parecem realmente não perceber que, afinal de contas, seus problemas se originaram do fato de viverem à sombra de uma criança de seis anos que morreu há quatro décadas. 

31 de Outubro de 2008

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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