Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
15/08/2008 01/01/1970 1 / 5 2 / 5
Distribuidora
Duração do filme
113 minuto(s)

Zohan - O Agente Bom de Corte
You Don''t Mess with the Zohan

Dirigido por Dennis Dugan. Com: Adam Sandler, Rob Schneider, John Turturro, Emmanuelle Chriqui, Ido Mosseri, Nick Swardson, Lainie Kazan, Kevin Nealon, Chris Rock, Mariah Carey, John McEnroe, George Takei, Bruce Vilanch.

 

Ao longo dos anos, passei a temer por minha sanidade sempre que a vinheta da Happy Madison, produtora de Adam Sandler, surgia antes de algum longa-metragem. Responsável por exatamente dois filmes acima da média (o ótimo Como se Fosse a Primeira Vez e o bom Click) entre os cerca de vinte que já realizou, a empresa de Sandler volta a bombardear o espectador em Zohan – O Agente Bom de Corte – e qualquer esperança que eu pudesse ter acerca deste projeto já foi dizimada com o primeiro quadro que surge na tela e que traz, num plano-detalhe, a virilha (previsivelmente inchada com uma prótese) do ator.

 

Inexplicavelmente convencido de seu magnetismo sexual (um estranho fenômeno que percebi em Eu os Declaro Marido e... Larry!), Sandler encarna, aqui, um agente israelense adorado pelas mulheres e invejado pelos homens – algo estabelecido na seqüência inicial, que, de tão absurda, parece prestes a se revelar como uma fantasia do protagonista (e o fato de ser “real” já indica a estupidez do roteiro e da direção). Cansado de arriscar a vida num conflito que não parece ter fim, Zohan decide simular a própria morte e viajar para os Estados Unidos, onde tentará realizar o sonho de se tornar um cabeleireiro bem-sucedido. Ironicamente, porém, o único salão que se mostra disposto a contratá-lo é aquele comandado por uma bela jovem palestina, Dalia (Chriqui), que, por algum motivo, não se importa em ver seu estabelecimento ser transformado em um motel, já que Zohan, além de cortar os cabelos das idosas clientes, ainda insiste em satisfazê-las sexualmente – o que, é claro, não impede Dalia de se interessar pelo empregado michê e vulgar (o que pode ser mais atraente para uma mulher do que um homem que transa com qualquer mulher que cruza seu caminho e que ainda insiste em fazer constantes referências sexuais no ambiente de trabalho?).

 

Mais uma vez comprovando sua versatilidade no que diz respeito à sua falta de talento, Sandler assina o roteiro ao lado de Robert Smigel, veterano do Saturday Night Live, e de Judd Apatow, cujo envolvimento com este projeto é um verdadeiro mistério, já que seu bom timing cômico não dá o menor sinal de vida ao longo da projeção. Apelando (como de hábito) para um humor homofóbico e para estereótipos que ofendem sem fazer rir, o ator se mostra particularmente ridículo na concepção do pesado sotaque de seu personagem, que, como judeu, tenta arrancar gargalhadas através da utilização de palavras hebraicas e das constantes (e estúpidas em sua falta de graça) referências ao húmus.

 

Tornando-se embaraçoso em seus intermináveis e mal-sucedidos esforços para fazer rir, O Agente Bom de Corte arrasta-se cena após cena investindo em gags que oscilam entre a imbecilidade e o constrangedor – e o desespero de Sandler chega a incomodar, já que o ator parece incapaz de reconhecer a falta de potencial das situações “cômicas” nas quais se envolve, estendendo-as além do aceitável (observem, por exemplo, a cena em que ele luta com uma peruca). Como se não bastasse, o picareta Dennis Dugan, que, parceiro habitual de Sandler, jamais conseguiu dirigir um filme que prestasse em sua longa e ridícula carreira, apela até mesmo para aquele recurso que invariavelmente simboliza o colapso artístico de um filme: as tomadas que se concentram nas reações “engraçadinhas” de animais. Incapaz de criar um único plano interessante e sem a menor compreensão de como empregar a decupagem para fazer humor, Dugan é o símbolo máximo de como Hollywood inverte as regras da seleção natural, freqüentemente favorecendo os menos aptos.

 

Mas não é só: incluindo pontas de algumas das figuras menos engraçadas do cinema norte-americano (Chris Rock, Kevin Nealon, Dom DeLuise, Bruce Vilanch, Henry Winkler) e desperdiçando o potencial de outras mais promissoras (Kevin James, George Takei), o longa ainda traz John Turturro numa performance tão ruim quanto aquela vista em Transformers – mas que, ainda assim, parece digna de Oscar quando comparada à atuação de Mariah Carey, que, interpretando a si mesma, ganha muito mais tempo de tela do que deveria, surgindo artificial e provando que, como atriz, sabe mesmo como rechear um vestido.

 

Porém, é ao tentar fazer um discurso político que Zohan e Sandler realmente se complicam: demonstrando que seu humor adolescente faz jus à sua maturidade intelectual, o ator trata o conflito entre israelenses e palestinos quase como uma simples questão de incompatibilidade de gênios, tentando ganhar relevância ao incluir pérolas de sabedoria como “há ódio de ambos os lados” e “esta guerra tem que parar”. Onde está o Nobel da Paz?

 

Longo a ponto de se transformar em instrumento de tortura (onde está a Convenção de Genebra?), Zohan – O Agente Bom de Corte é, possivelmente, o pior filme da carreira de Adam Sandler – e se considerarmos que estamos falando do gênio por trás de O Paizão e Little Nicky, esta constatação se torna mais do que deprimente; torna-se apavorante.

 

 14 de Agosto de 2008

Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!