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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
30/07/2010 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora

Salt
Salt

Dirigido por Phillip Noyce. Com: Angelina Jolie, Liev Schreiber, Chiwetel Ejiofor, Daniel Olbrychski, Daniel Pearce, Andre Braugher, August Diehl, Hunt Block.

Salt é uma fantasia anacrônica da Guerra Fria que, com seus espiões russos ameaçando o american way of life, poderia perfeitamente ter sido produzida na década de 70 caso não dependesse tanto de efeitos visuais e não fosse tão otimista no desenvolvimento de sua trama. Sim, há algumas semanas uma célula composta por espiões russos infiltrados nos Estados Unidos foi descoberta e presa, o que poderia trazer um semblante de contemporaneidade ao filme – mas a idéia de que estas pessoas pudessem oferecer alguma ameaça real era tão risível que, depois de alguns dias, elas foram simplesmente deportadas de volta à Rússia em troca de alguns prisioneiros norte-americanos. Assim, amarrado a uma premissa absurda e ridícula por natureza, resta a Salt apenas a opção de funcionar como um exemplar eficiente de ação, já que seu componente thriller é sabotado pelo mundo real – e, neste sentido, o filme de Phillip Noyce se sai admiravelmente bem.

Escrito por Kurt Wimmer (o diretor-roteirista do subestimado Equilibrium e responsável pelos roteiros do bom Os Reis da Rua e do fraco Código de Conduta), Salt tem início na Coréia do Norte, onde a bela personagem-título (Jolie) é torturada sob a suspeita de ser uma espiã ianque – algo que ela falsamente nega, dando origem ao jogo de ambigüidades que tomará conta das duas horas seguintes de projeção. Tempos depois, já de volta ao seu cubículo na CIA, ela é chamada para interrogar um possível desertor russo (Olbrychski), que, para surpresa de todos, revela que a moça é uma espiã treinada na infância pela extinta União Soviética a fim de se infiltrar na sociedade norte-americana e desempenhar uma ação terrorista no momento apropriado. Perseguida pelos próprios colegas, Salt inicia uma fuga desesperada enquanto mantém todos (perseguidores e espectadores) na escuridão com relação aos seus verdadeiros objetivos.

Dono de uma carreira eclética e repleta de obras eficazes (desde os dramas O Americano Tranqüilo e Geração Roubada até thrillers de ação como Jogos Patrióticos), o cineasta australiano Phillip Noyce volta a trabalhar com Angelina Jolie onze anos depois do desastroso O Colecionador de Ossos, mas agora com resultados bem mais satisfatórios: conduzindo as várias seqüências de ação com uma energia considerável, mas sem carregar na montagem entrecortada ou no excesso de movimentação da câmera, o diretor permite que o público acompanhe o que ocorre na tela sem a necessidade de recorrer ao saco de vômito (um acessório que deveria ser fornecido obrigatoriamente nas sessões dos projetos de Michael Bay e Tony Scott). Ciente da natureza absurda da trama, Noyce tampouco tenta conferir um peso dramático maior do que o necessário à narrativa, sendo capaz de retratar os esforços de sua heroína com intensidade, mas sem qualquer indício de solenidade diante dos conflitos vivenciados por esta – algo que poderia transformar o projeto numa experiência patética. Ainda assim, Noyce aqui e ali brinca com elementos visuais que ecoam o tema da história, como ao incluir reflexos que sugerem a dualidade de um ou outro personagem, mas mesmo então o cineasta não carrega na mão.

O que se revela a decisão acertada, já que o roteiro de Wimmer é dolorosamente previsível, permitindo que o público antecipe suas “reviravoltas” com facilidade (só será surpreendido por certas “revelações” o espectador que nunca tiver assistido a um único filme de espionagem) - e embora até flerte com certas possibilidades intrigantes em seu segundo ato, Wimmer logo abandona estas idéias em prol de exposições óbvias e de flashbacks excessivos e desnecessários, o que é uma pena. Aliás, a obviedade constante da trama é refletida com perfeição pela trilha igualmente genérica de James Newton Howard, que vem se revelando o Luc Besson da composição para Cinema, oferecendo um grande trabalho a cada dez bobagens facilmente esquecíveis. Por outro lado, a fotografia do veterano Robert Elswit se mostra bastante eficaz ao conferir um tom frio à narrativa - algo que se contrapõe corretamente (mas também com certa obviedade, convenhamos) à superexposição das seqüências de flashback, que também surgem numa paleta mais quente. E se os efeitos de maquiagem envolvendo próteses merecem menção por esconderem o rosto marcante de Angelina Jolie em determinados momentos (estamos falando de uma superespiã, afinal de contas), o fato é que tampouco são completamente convincentes, resultando numa aparência estranha que atrairia a atenção imediata de qualquer um que se aproximasse da personagem (o que, claro, vai de encontro ao propósito de empregar o disfarce).

E por que um diretor deveria esconder o rosto de Angelina Jolie? Uma das poucas grandes estrelas incontestáveis do cinema contemporâneo, a atriz possui uma beleza que, por si só, parece justificar completamente o projeto – e não é à toa que Noyce constantemente emprega travellings circulares que trazem, como único objetivo, a revelação gradual dos traços perfeitos da protagonista (e em vários outros momentos o diretor cria planos nos quais Jolie parece simplesmente posar para a câmera). Exalando sensualidade, Jolie – e, conseqüentemente, sua personagem – não hesita em usar este atributo a seu favor, transformando o mero gesto de obstruir a lente de uma câmera de segurança em algo capaz de elevar a pressão do público masculino (ela emprega a calcinha na tarefa). Com uma expressão sempre fria e determinada e exibindo um vigor físico invejável, a atriz converte Evelyn Salt numa heroína praticamente indestrutível – e a facilidade com que vence os obstáculos à sua frente chega a comprometer o pouco de tensão que a trama poderia oferecer. Fechando o elenco, Liev Schreiber e Chiwetel Ejiofor surgem corretos como os principais perseguidores de Salt, ao passo que Andre Braugher parece estar fazendo um favor pessoal a Noyce ao aceitar surgir numa aparição inexplicável, já que entra mudo e sai calado do filme.

Merecendo créditos também pela encenação de uma morte que envolve um par de algemas e surpreende pela brutalidade, Salt é ágil o bastante para divertir, curto o suficiente para não entediar e estúpido na medida certa para não se levar a sério sem, com isso, ofender a inteligência do público. Não é um grande filme, é verdade, mas quem disse que estrelas como Jolie precisam disso para prender nossa atenção? Basta que se posicionem diante da câmera e façam o mesmo que vêm fazendo desde o início do Cinema: fascinem pelo carisma e/ou pela beleza. E, neste aspecto, Salt é impecável.

29 de Julho de 2010

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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