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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
03/10/2008 01/01/1970 2 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
93 minuto(s)

Busca Implacável
Taken

Dirigido por Pierre Morel. Com: Liam Neeson, Maggie Grace, Famke Janssen, Xander Berkeley, Katie Cassidy, Jon Gries, Arben Bajraktaraj.

 

Embora já esteja escolado na arte das falsas promessas feitas pelos trailers e tenha aprendido, com o tempo, a evitar que minhas expectativas sejam influenciadas por estas peças publicitárias (cheguei a escrever uma Conversa de Cinéfilo sobre o assunto há oito anos), confesso que a campanha de Busca Implacável me deixou esperançoso com relação a este filme: depois de ouvir, pelo telefone, sua filha sendo seqüestrada em Paris, o ex-espião vivido por Liam Neeson percebe que um dos bandidos pegou o aparelho e, sem hesitar, explica para o sujeito que tem um “conjunto particular de habilidades” e que, caso a garota não seja libertada imediatamente, ele irá caçá-lo e matá-lo. A maneira fria e segura com que Neeson fazia seu pequeno discurso me fez acreditar que Busca Implacável representaria uma boa experiência no mínimo em função de seu protagonista.

 

Eu estava certo. E errado. De fato, Bryan (o personagem de Neeson) é o que há de melhor neste longa co-escrito por Luc Besson e seu parceiro Robert Mark Kamen. Por outro, não há muito mais que faça o filme valer a pena. A história até que começa bem, apresentando de forma objetiva seu herói como um homem solitário que abandonou a carreira de espião para tentar se reaproximar de Kim (Grace), sua filha adolescente. Ainda que esquemático, este primeiro ato funciona ao estabelecer Bryan como um sujeito metódico que, reconhecendo ter perdido sua família em função da exigente profissão (sua esposa, vivida por Janssen, agora é casada com o milionário interpretado por Berkeley, da série 24), tenta se adaptar a um cotidiano vazio que parece ser totalmente empregado para agradar a filha. Como ele paga as contas? O que ele faz no restante de seu tempo livre, já que parece encontrar a garota uma vez ou outra? O roteiro não tenta responder a estas questões, que, embora sejam importantes para tornar a narrativa mais plausível, não afetam de fato a primeira parte da projeção.

 

O que importa – e, neste aspecto, o filme se mostra bastante eficaz – é que Bryan demonstra inteligência e rapidez de raciocínio, como fica evidente na cena em que ele explica para a filha (aflita e do outro lado do Atlântico) que ela inevitavelmente será capturada, mas que, mantendo a calma, ela deverá gritar todas as características físicas dos bandidos. Assim, por admirarmos o brilhantismo e a frieza do protagonista, o filme é desculpado temporariamente por sua inverossimilhança – até o instante, claro, em que percebemos que os roteiristas não fazem a menor idéia de como continuar a história, apelando para uma série de “coincidências” que tiram o mérito investigativo de Bryan e o depositam aos pés do senhor deus ex machina.

 

Infelizmente, isto não é exatamente uma surpresa: como apontei em meu texto sobre Bandidas, Besson é um realizador terrivelmente irregular – seja como roteirista, produtor ou diretor – e estabelecer uma parceria com Kamen foi o golpe de misericórdia em seus fãs, já que este último escreveu, em seus 27 anos de carreira, um único roteiro realmente decente (Karatê Kid, em 1984, embora eu também aprecie elementos do segundo filme). Assim, para apresentar ao espectador o passado de Bryan, os roteiristas criam uma cena embaraçosa na qual o protagonista conversa com três ex-companheiros enquanto todos contam, uns para os outros, um caso no qual os quatro estiveram envolvidos (num dos exemplos clássicos de como uma exposição não deve ser feita). Para piorar, Besson e Kamen não se preocupam em explicar por que Bryan não solicita a ajuda dos amigos ao viajar para Paris e, de quebra, ainda pintam a melhor amiga de Kim como uma jovem promíscua e mentirosa - o que, obviamente, serve de prenúncio de um destino não muito promissor.

 

Mas se sua amiga surge como a típica vítima dos monstros dos filme de terror, Kim é encarnada por Maggie Grace (da série Lost e agora morena) como uma mocinha virgem e inocente – e a caracterização da atriz é constrangedoramente embaraçosa, já que, além dos vestidinhos de criança, ela se comporta como uma garotinha de 5 anos de idade, correndo desajeitada e afobadamente quando está feliz e fazendo biquinho quando ouve um “não”. Na realidade, cheguei a cogitar a possibilidade de que Kim tivesse alguma deficiência mental, mas, pelo visto, o problema é mesmo a atriz, não a personagem. Em contrapartida, Liam Neeson compõe um tipo durão que surge sempre convincente nas seqüências de luta – e não é novidade ver o ator, tão acostumado aos papéis de mentor, encarnar com facilidade uma figura que deve exalar segurança e inteligência. E vê-lo atirar em inocentes ou matar bandidos pelas costas serve, ao menos, como um descanso do politicamente correto que hoje impera em Hollywood.

 

Já o diretor de fotografia Pierre Morel, que estreara tão bem na função de cineasta em B13 – 13º. Distrito (basicamente uma empolgante ode ao parkour), aqui parece entregar que todos os ótimos momentos de ação daquele filme se deviam a David Belle e sua equipe de atletas, já que, neste aspecto, Busca Implacável é pedestre, soando particularmente confuso na longa e aborrecida seqüência de perseguição de carros.

 

Prejudicado também por um desfecho artificial que mais parece ter sido acoplado ao filme depois de uma sessão-teste negativa, Busca Implacável só não representa um desperdício maior de tempo porque dura breves 88 minutos (sem os créditos). O trailer merecia um filme melhor. 

03 de Outubro de 2008

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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