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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
12/09/2008 01/01/1970 2 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
100 minuto(s)

Perigo em Bangkok
Bangkok Dangerous

Dirigido por Oxide Pang Chun, Danny Pang. Com: Nicolas Cage, Shahkrit Yamnarm, Charlie Yeung, Panward Hemmanee, Nirattisai Kaljaruek, Dom Hetrakul.

 

De modo geral, eu admiro os trabalhos dos irmãos Danny e Oxide Pang – e mesmo que nem todos os seus filmes sejam tão brilhantes quanto The Eye – A Herança ou intrigantes quanto Assombração, certamente há momentos dignos de aplausos em esforços medianos como Visões e Os Mensageiros (já Visões 2 – A Vingança dos Fantasmas é indefensável). Infelizmente, Perigo em Bangkok, que a dupla refilma a partir de um razoável longa que comandou em 99, representa um tropeço maior em sua carreira, já que, além da história e das atuações falhas, nem mesmo as opções estéticas e narrativas dos Pang conseguem se sobressair desta vez.

 

Quando o filme tem início, ouvimos a narração sem vida do assassino Joe (Cage), que se encontra prestes a fazer mais uma vítima (e para garantir que não tomaremos antipatia imediata do protagonista, os cineastas fazem questão de escalar um ator com cara de mau para levar o tiro, deixando claro que este merece seu destino – exatamente como o viciado em heroína cujo braço cheio de marcas expõe sua natureza descartável). Depois de explicar as quatro regras fundamentais de sua profissão, Joe revela que está se preparando para um “último trabalho” (alerta de clichê! alerta de clichê!) e que, para isto, viajará até Bangkok, onde se encarregará de eliminar quatro alvos em troca de uma fortuna. Logo, porém, ele se torna mais próximo de seu assistente tailandês (Yamnarm) do que o ideal e também se apaixona por uma balconista surda-muda (Yeung), o que o deixa vulnerável diante dos poderosos inimigos.

 

Começando a exibir uma preocupante tendência à repetição, a dupla de cineastas praticamente abre o filme com seu já tradicional plano que traz o protagonista diminuído e solitário no canto inferior do quadro – algo que os irmãos sempre empregam como forma de ilustrar o isolamento de seus personagens (e é interessante notar que seus protagonistas quase sempre são indivíduos solitários). A partir daí, os Pang, ao lado do diretor de fotografia Decha Srimantra, seu parceiro habitual, apostam numa paleta de cores triste e opressiva que, carregando no azul e no verde, transforma a capital tailandesa num lugar sujo, superpovoado e nada convidativo. E ainda que desta vez os criativos planos dos diretores praticamente não se façam presentes, ao menos há um único quadro que se aproxima do espetacular, quando, num contra-plongé sob a água, vemos o fundo de um barco enquanto este é perfurado pelas balas do assassino.

 

Mas, como já apontei, este é um exemplo isolado. No restante da projeção, os irmãos demonstram um descuido imenso em sua mise-en-scène, como no confuso tiroteio no escuro galpão e o absurdo de Joe praticamente se tornar invisível apenas porque se escondeu atrás de um capanga feito prisioneiro. Da mesma forma, a beatificação do político que o protagonista é encarregado de matar soa terrivelmente maniqueísta, passando pela foto em que o sujeito surge ao lado de sorridentes criancinhas até chegar ao local em que este deve ser morto e que remete indiscutivelmente à Dealey Plaza que serviu de palco para o assassinato de Kennedy. E se a ligação que se estabelece entre Joe e Kong já peca pela falta de plausibilidade (o próprio matador se pergunta por que não matou o outro, oferecendo, como resposta, uma desculpa esfarrapada), o envolvimento com Fon, então, se configura totalmente absurdo, chegando a incluir uma musiquinha romântica quando o casal se encontra pela primeira vez.

 

Fon, aliás, parece apenas uma referência mal costurada ao longa original, cujo protagonista era surdo-mudo: se já é ridículo apresentar a garota como uma funcionária encarregada de lidar com o público (e não é à toa que ela não é das mais eficientes), ainda pior é a forma sexista com que os Pang a transformam numa caricatura da asiática submissa que, sempre silenciosa, se limita a olhar para seu homem com admiração irrestrita enquanto ri tímida e castamente (faltou apenas que a bela Charlie Yeung levasse a mão à boca ao soltar um característico “hihihihi!”). Enquanto isso, Nicolas Cage, exibindo um corte de cabelo incompreensível, encarna Joe de maneira monocórdia, mantendo a expressão sempre cerrada ou triste enquanto recita seus diálogos sem vigor ou interesse aparente. Mas o pior é perceber que, ao conhecer Fon, Joe se transforma imediatamente numa pessoa completamente diferente, tentando fazer gracinhas ao queimar a boca com tempero (o que diverte imensamente sua companheira, que deve rir até dos filmes do Rob Schneider) e olhando para os lados, durante uma apresentação da namorada, enquanto busca atrair, orgulhoso, uma reação das pessoas ao seu redor – algo particularmente estranho para alguém que sempre valorizou tanto a própria privacidade.

 

Bolando planos sempre absurdos que contam com a estupidez alheia (por que a polícia interrogaria uma testemunha importante e que tem a cabeça a prêmio em uma sala cuja janela, além de não ser à prova de balas, ainda aponta diretamente para um prédio sem segurança?), Joe ainda insiste em discutir as regras que lhe foram ensinadas por um sujeito que jamais é mencionado com clareza – outra referência obscura ao original. Chegando a dar uma gravata numa vítima cuja morte deveria parecer acidental (parabéns, Einstein), o protagonista ainda se revela estúpido o bastante para se tornar confidente de um sujeito que ele sabe não ser digno de confiança – e mesmo que Kong não seja inteiramente culpado pelo que acontece no terceiro ato, é a decisão absurda de Joe de se aproximar do assistente que provoca tudo aquilo.

 

Sem estrelar um filme realmente consistente desde os injustamente ignorados O Senhor das Armas e O Sol de Cada Manhã (ambos de 2005), Nicolas Cage parece determinado a sabotar a própria carreira – e muitos outros atores já teriam, em seu lugar, sido rebaixados a produções lançadas diretamente em DVD. Ou será que ainda o veremos estrelar um Motoqueiro Fantasma 2 produzido pelos responsáveis por American Pie 5 – O Último Stifler Virgem? Eu não ficaria totalmente espantado. 

12 de Setembro de 2008

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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