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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
27/09/2013 01/01/1970 2 / 5 / 5
Distribuidora
Universal
Duração do filme
96 minuto(s)

R.I.P.D. - Agentes do Além
R.I.P.D.

Dirigido por Robert Schwentke. Com: Ryan Reynolds, Jeff Bridges, Mary-Louise Parker, Kevin Bacon, James Hong, Marisa Miller, Stephanie Szostak, Robert Knepper, Larry Joe Campbell.

Pegue Homens de Preto, acrescente um romance inspirado em Ghost e uma piada central tirada de O Céu Pode Esperar e, para encerrar, traga uma ameaça usada no clímax de Os Caça-Fantasmas. Remova toda a graça, qualquer invencionismo e invista num visual desinteressante. O resultado será basicamente este R.I.P.D. – Agentes do Além, que, além de pouco fazer com uma premissa com certo potencial, ainda joga fora a melhor ideia cômica do roteiro, demonstrando incapacidade de perceber e valorizar até mesmo seus poucos pontos positivos.

Inspirado em quadrinhos de Peter M. Lenkov e roteirizado por Phil Hay e Matt Manfredi (responsáveis por O Terno de Dois Bilhões de Dólares e a refilmagem de Fúria de Titãs), o longa acompanha o policial Nick (Reynolds), que, depois de ser morto de forma traiçoeira por seu parceiro Hayes (Bacon), descobre-se numa versão inesperada do pós-vida, quando é convocado para servir em um departamento de polícia responsável por perseguir e conter indivíduos que se recusaram a deixar a Terra depois de falecidos, permanecendo em seus antigos corpos que, por uma razão qualquer, só revelam seu caráter deformado quando expostos a temperos indianos. (Ei, não me olhem assim; eu sou só estou resumindo a trama para vocês!) Sentindo falta da esposa (Szostak), Nick ainda é obrigado a aguentar os modos pouco sociáveis de seu parceiro Roy (Bridges), um velho e impulsivo xerife.

Sim, a premissa inclui tolices irritantes (basta negar-se a partir depois de morto para permanecer na Terra? Mesmo?), mas há algo ali que poderia render uma narrativa divertida. Infelizmente, os roteiristas não se preocupam em explorar o universo que estão nos apresentando, não dedicando tempo algum ao funcionamento do departamento que emprega os heróis e à lógica por trás deste. Vemos, por exemplo, uma pequena penitenciária, mas jamais sabemos quem julgará aqueles monstros, o que acontecerá a eles em seguida ou por que assumem formas tão diferentes uns dos outros. Eles mantêm as aparências que tinham antes de morrer (isto é; quando não são expostos à comida indiana) ou assumem novas? Por que só podem ser destruídos com tiros na cabeça? O que há naquela munição? O que ocorrem quando são baleados: são destruídos ou vão para o “Inferno”? Nada disso interessa ao filme, que, como o personagem de Bridges, parece resolver qualquer complicação da história baleando-a na cabeça imediatamente.

Ainda assim, há elementos dignos de interesse em Agentes do Além: é curioso, por exemplo, ver policiais mortos em diversas épocas trabalhando lado a lado, mas – de novo – o longa apenas apresenta a ideia sem se preocupar em explorá-la com cuidado – e mesmo as diferenças nas táticas de Roy e Nick se devem mais às personalidades conflitantes (e unidimensionais) dos personagens do que ao período em que viveram. De forma similar, o roteiro procura extrair humor da dinâmica dos dois homens, mas sem grande inspiração: enquanto Reynolds se limita a demonstrar impaciência com o parceiro, Bridges aposta numa caracterização forçada que, dependendo de um sotaque forte e do queixo projetado para a frente, remete mais a uma “composição” de Adam Sandler do que a do ator responsável por figuras icônicas como o Dude, o caçador de recompensas Rooster Cogburn ou mesmo o “Starman”.

Apelando para clichês como o dos policiais suspensos por seus superiores depois de provocarem o caos na cidade em que trabalham, o filme ainda tenta fazer gracinha com trocadilhos óbvios (“Eternal Affairs”) em vez de apostar naquela que seria a ideia com maior potencial cômico e claramente inspirada em O Céu Pode Esperar: o fato de os vivos enxergarem Nick e Roy como um velho oriental e uma loira escultural, respectivamente. Sim, aqui e ali temos um ou outro momento pontual no qual a ideia é explorada, mas na maior parte do tempo Agentes do Além parece se contentar em nos mostrar os “avatares” dos heróis como se isto já fosse divertido o bastante.

Dirigido por Robert Schwentke (responsável pelo razoável Plano de Vôo, o ótimo Te Amarei para Sempre e o mediano RED: Aposentados e Perigosos), Agentes do Além peca ao tentar emular até mesmo o estilo de Homens de Preto, usando grandes angulares com frequência para conferir um visual levemente distorcido e desequilibrado à narrativa (Barry Sonnenfeld, vale lembrar, é tarado por esse tipo de lente, embora saiba usá-las bem melhor que seu colega de perversão Tom Hooper). Prejudicado também por efeitos visuais no máximo medíocres, o projeto constantemente nos faz notar o caráter nada verossímil de seus vilões computadorizados, o que ainda elimina qualquer possibilidade de ameaça – por mais que Kevin Bacon se esforce para criar um antagonista digno de nota.

Para um filme com tantas fontes de inspiração, Agentes do Além é surpreendentemente carente de ideias.

26 de Setembro de 2013

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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