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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
08/12/2006 01/01/1970 2 / 5 2 / 5
Distribuidora

Um Natal Brilhante
Deck the Halls

Dirigido por John Whitesell. Com: Matthew Broderick, Danny DeVito, Kristin Davis, Kristin Chenoweth, Jorge Garcia, Alia Shawkat, Dylan Blue, Sabrina Aldridge, Kelly Aldridge, Fred Armisen.

Todo ano, quando o mês de dezembro tem início, os estúdios começam a lançar os chamados “filmes de Natal”: produções com mensagens agradáveis, otimistas e que buscam realçar a grandeza da raça humana, aproveitando justamente o clima de camaradagem e alegria que marca a época. Há, também, os projetos cujas histórias são ambientadas durante o próprio Natal e que oscilam entre o drama (nada muito deprimente; apenas melancólico o bastante para se contrapor ao final inevitavelmente feliz) e a comédia, que pode girar em torno das confusões provocadas pelas reuniões de família, da mitologia natalina ou mesmo retratar a divertida mesquinhez de indivíduos que, é claro, acabam se rendendo ao espírito contagiante de confraternização. Trata-se de uma tendência de mercado que rendeu clássicos como A Felicidade Não se Compra, Milagre na Rua 34** e O Expresso Polar e obras divertidas como Papai Noel às Avessas, Meu Papai é Noel 1 e 2, Um Homem de Família, Um Duende em Nova York, Feliz Natal, Tudo em Família e (por que não?) Férias Frustradas de Natal. Infelizmente, porém, nem sempre o resultado é dos melhores, como comprovam os péssimos Um Natal Muito, Muito Louco e Sobrevivendo ao Natal, ambos lançados em 2004. Ah, sim: e este Um Natal Brilhante.

Roteirizado por Matt Corman, Chris Ord e Don Rhymer, o longa se passa numa destas típicas cidadezinhas norte-americanas repletas de tradições locais e cujos habitantes estão sempre ajudando uns aos outros. Respeitado por todos, o oftalmologista Steve Finch (Broderick) se orgulha por ser o “homem do Natal” da cidade, sendo consultado com relação a todos os enfeites públicos e presidindo a comissão que organiza os eventos de fim de ano. Metódico e conservador, ele obriga a esposa e os dois filhos a seguirem um calendário rigoroso de atividades natalinas, desde a tradicional fotografia em que todos aparecem usando o mesmo agasalho até os corais de rua. É então que ele ganha um novo vizinho, Buddy Hall (DeVito), um vendedor talentoso capaz até mesmo de convencer um homem a comprar o próprio carro – mas que, apesar disso, sente-se insatisfeito com a própria vida, arrastando a esposa e as filhas gêmeas de cidade em cidade, já que se cansa facilmente de tudo. No entanto, Buddy descobre, em sua nova residência, um objetivo a perseguir: determinado a fazer com que sua casa seja vista do espaço (por um programa similar ao Google Earth), ele passa a enfeitá-la com milhares de luzes, dando início a uma rivalidade com Steve, que enxerga, no vizinho, alguém que pode roubar sua posição de “homem do Natal”.

A partir daí, Um Natal Brilhante passa a seguir a rota previsível dos filmes do gênero, criando situações cada vez mais constrangedoras para o protagonista à medida que este tenta derrotar o adversário. Infelizmente, os incidentes imaginados pelo trio de roteiristas jamais se revelam particularmente engraçados, por mais que a irritante e óbvia trilha sonora de George S. Clinton procure nos convencer de que o que estamos vendo é mesmo divertido. Artificiais ao extremo, as gags falham não apenas em função da falta de timing cômico do diretor John Whitesell (Vovó...Zona 2), mas também por não convencerem o espectador de que poderiam acontecer de verdade, já que sempre percebemos o esforço dos personagens para se meterem naquelas confusões (a seqüência em que Steve fica “preso” no trenó em disparada é um exemplo claro disso). Além disso, é preciso um cineasta de talento para arrancar risadas a partir do humor físico; não basta incluir inúmeras pessoas escorregando e caindo com as duas pernas para cima (clichê inconfundível do gênero) ou efeitos sonoros que fazem com que o impacto de uma bola de neve mais pareça um tiro de canhão.

Não que Um Natal Brilhante não tenha seus bons momentos: há uma tirada engraçadinha envolvendo a chatice do politicamente correto (nos Estados Unidos, exclamar “Jesus!” transformou-se em ofensa religiosa, sabe-se lá por quê) e uma cena realmente divertida que consegue provocar o riso mesmo permitindo que o espectador antecipe facilmente o que irá acontecer (direi apenas que ela envolve três dançarinas em um palco). E, embora isto não seja uma grande vantagem para uma comédia, os efeitos luminosos criados pelo personagem de Danny DeVito representam um espetáculo à parte, o que não deixa de ser, em maior ou menor grau, um ponto positivo do longa.

Mas não há como evitar a constatação de que a premissa do filme é essencialmente falha, transformando a empreitada em fracasso desde o princípio: ao apresentar Steve como o protagonista vitimado pelas maneiras inconvenientes do vizinho, o roteiro tenta transformar o personagem de Broderick na figura com a qual o espectador irá se identificar – e o problema é que, para que isto funcionasse, teríamos que reconhecer, no “sofrimento” do sujeito, um mínimo de razão. Em O Pentelho, o Steven vivido por Broderick tinha seus defeitos, mas nada que justificasse as ações extremas do “vilão” interpretado por Jim Carrey; da mesma forma, em Eleição, o professor Jim McAllister (Broderick mais uma vez) comete um erro ao tentar manipular o resultado da disputa, mas a arrogância de Tracy Flick (Reese Whiterspoon) nos levava a torcer pelo sujeito. Já em Um Natal Brilhante, o tal oftalmologista é um indivíduo irritante, controlador e egoísta – e como Buddy Hall também não é particularmente simpático, ficamos sem ponto de referência e presos a duas figuras igualmente repulsivas. (Aliás, quem poderia imaginar que o jovial “Ferris Bueller” viria a se especializar em personagens tão... “caretas”?)

Para tornar a experiência ainda mais insuportável, Um Natal Brilhante prova desconhecer o conceito de “sutileza” ao martelar sua mensagenzinha na cabeça do espectador: temos que ser espontâneos, devemos aproveitar nossas famílias, blá-blá-blá-blá. Para certificar-se de que compreendemos tudo isso, o roteiro leva a personagem de Kristin Davis a dizer expressamente estas pérolas de sabedoria  – e, caso ainda tenhamos alguma dúvida sobre o tema da história, logo em seguida Steve Finch surge assistindo a uma das cenas mais melosas de Agora Seremos Felizes, quando Judy Garland faz discurso semelhante para Margaret O’Brien. Ah, mas isto não é o bastante e, minutos depois, a “importância da amizade e da confraternização” é novamente ressaltada em uma cena embalada pela trilha melosa.

Aliás, um aviso: caso você seja diabético(a), cuidado ao assistir a Um Natal Brilhante (especialmente o terceiro ato), pois há um grande risco de vir a sofrer uma hiperglicemia provocada pelo excesso de água-com-açúcar.

** Na realidade, Milagre na Rua 34 representa uma rara exceção a esta regra, já que foi lançado em maio de 1947. Na época, o lendário produtor Darryl F. Zanuck, que não gostava muito do filme, decidiu arriscar-se a lançá-lo durante o verão norte-americano por achar que ele teria mais chances numa época em que as crianças estariam em férias escolares. Mesmo assim, o departamento de marketing do estúdio fez de tudo para esconder que o longa se passava no período do Natal.

 07 de Dezembro de 2006

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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