Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/06/2007 01/01/1970 2 / 5 / 5
Distribuidora

Premonições
Premonition

Dirigido por Mennan Yapo. Com: Sandra Bullock, Julian McMahon, Courtney Taylor Burness, Shyann McClure, Nia Long, Amber Valletta, Jude Ciccolella, Marc Macaulay, Kate Nelligan e Peter Stormare.

Mistura indigesta de filmes descartáveis como Os Esquecidos e Paixões Paralelas, este vazio Premonições atira para todos os lados em seus esforços desesperados para agradar a todo tipo de espectador: sem conseguir se definir como suspense, ficção científica ou drama, o longa finalmente revela seu vácuo criativo ao entregar-se a uma pregação pseudo-espiritual tola e superficial que acaba por enterrar de vez qualquer possibilidade de que pudéssemos levá-lo a sério.

Escrito por Bill Kelly, cujo único trabalho anterior fora o bobinho De Volta para o Presente (lembram-se de quando Alicia Silverstone ainda era uma “estrela”?), o filme traz Sandra Bullock como Linda Hanson, uma dona-de-casa que passa os dias cuidando das duas filhas e do marido, um sujeito com um desses empregos genéricos das produções de Hollywood que servem apenas para torná-lo “ausente” e envolvê-lo com uma igualmente genérica assistente/secretária loira (aqui vivida por Amber Valletta, que parece assumir sempre o mesmo papel em todo projeto do qual participa). Levando uma existência vazia, Linda é uma mulher deprimida – algo sinalizado pelas duas vezes em que ela surge segurando um cigarro, o que invariavelmente indica um vilão ou um personagem decadente – e, é claro, as coisas não se tornam melhores quando ela recebe a notícia de que seu marido morreu em um acidente de carro na tarde anterior. Depois de um dia de sofrimento, porém, ela finalmente adormece – apenas para acordar no dia seguinte e descobrir o sujeito tomando café tranqüilamente na cozinha. Confusa, ela julga ter tido um pesadelo, mas é obrigada a desconfiar de que algo muito estranho está acontecendo quando, na manhã seguinte, desperta em uma casa repleta de parentes e amigos que vieram prestar solidariedade à viúva.

Até aí, tudo bem: apesar de esquemático na apresentação de toda a situação, o roteiro até consegue criar um mistério intrigante, embora Linda pareça aceitar tudo com excessiva naturalidade (e por que ela não conta para alguém o que está ocorrendo?!). Infelizmente, a “lógica” por trás das idas e vindas da protagonista acaba se tornando óbvia antes da metade da projeção, tornando a experiência frustrante para o espectador, que é obrigado a esperar pacientemente até que Linda o alcance – algo que a moça demora um pouco mais do que o ideal para fazer, precisando até mesmo de desenhar uma tabela em uma grande folha de papel para conseguir raciocinar claramente (um recurso obviamente utilizado pelo roteirista para explicar sua “intrincada” trama para o público, evidenciando sua crença de que somos tão estúpidos quanto sua heroína).

Mas o pior é perceber que nem mesmo o próprio Bill Kelly consegue acompanhar o desenvolvimento da história que concebeu, já que o roteiro eventualmente se perde totalmente, exibindo furos que fariam até mesmo Michael Bay bater na própria testa e perguntar “Como é que eles não viram isso?!”. Alguns exemplos (e talvez você prefira pular o restante deste parágrafo até assistir ao filme, embora eu não vá revelar nada de realmente importante): por que o rosto da filha mais velha de Linda aparece intacto no início da projeção se depois descobrimos que ela já o havia machucado na porta de vidro? Por que o corretor de seguros diz que Linda ampliou os benefícios do seguro de vida do marido se vemos que isto não aconteceu (e não, não adianta dizer que ela “mudou” o “futuro”, pois eventualmente descobrimos que este não é o caso)? Por que ela é levada para um hospício se isto é virtualmente ignorado posteriormente? Não é à toa que o personagem de Peter Stormare (uma escalação terrivelmente incorreta, diga-se de passagem) diz que a protagonista está “lidando com algumas inconsistências” – é como se o roteirista estivesse alertando a si mesmo sobre a trama que criou.

Ainda assim, há roteiros ruins que até conseguem gerar filmes toleráveis graças ao trabalho de um diretor inspirado. Infelizmente, este não é o caso do alemão Mennan Yapo, que confere ao longa um visual insosso, não se preocupando sequer em estabelecer diferentes tratamentos estéticos às diferentes realidades vividas por Linda (algo que até mesmo um amador teria tentado fazer para dar alguma vida ao projeto) – e a única exceção a esta abordagem preguiçosa surge nos flashbacks dessaturados... e desnecessários. Yapo até tenta bancar o artista ao incluir imagens recorrentes de um quebra-cabeças (um simbolismo óbvio que deve tê-lo levado a um orgasmo auto-congratulatório), mas a cena-chave que comprova sua falta de talento é mesmo aquela em que vemos Sandra Bullock correndo atrás de algo que caiu do caixão do marido, num dos momentos mais involuntariamente hilários da carreira da atriz.

No entanto, o mais lamentável é constatar que, apesar de todos os seus problemas, Premonições quase se torna interessante durante alguns minutos em seu terceiro ato, quando a protagonista passa a enfrentar um dilema moral infinitamente mais intrigante do que tudo que víramos até então. Porém, exatamente quando eu começava a me inclinar na direção da tela, curioso, o filme decidiu ser o momento de parar tudo para tentar explicar por que Linda se tornara capaz de acordar em realidades diferentes – uma “explicação” não apenas absolutamente desnecessária, já que já havíamos aceitado aquilo como fato há mais de uma hora, como terrivelmente estúpida, considerando que ela envolve o surgimento abrupto de um padre que, além de oferecer uma pregação imbecil sobre “Fé”, ainda tira do bolso um livro já cuidadosamente marcado em casos similares ao da heroína, como se tivesse antecipado a visita e pesquisado ocorrências anteriores daquele “fenômeno”.

E se isto já não tivesse conseguido me tirar do sério, certamente o último plano do filme (com direito a freeze frame e tudo mais) o faria. Pena que não tenho o poder da premonição; se tivesse, teria sido capaz de escrever este texto sem ser obrigado a enfrentar 110 minutos da mais pura estupidez.

31 de Maio de 2007

Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!