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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
13/05/2005 21/11/2003 5 / 5 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
120 minuto(s)

Direção

Park Chan-wook

Elenco

Min-sik Choi , Ji-tae Yu , Hye-jeong Kang , Byeong-ok Kim , Dae-han Ji , Dal-su Oh

Roteiro

Park Chan-wook , Chun-hyeong Lim , Jo-yun Hwang

Produção

Dong-Joo Kim

Fotografia

Chung-hoon Chung

Música

Yeong-wook Jo

Montagem

Sang-beom Kim

Design de Produção

Seong-hie Ryu

Figurino

Sang-gyeong Jo

Direção de Arte

Seong-hie Ryu

Oldboy
Oldboy

Dirigido por Chan-wook Park. Com: Min-sik Choi, Ji-tae Yu, Hye-jeong Kang, Byeong-ok Kim, Dae-han Ji, Dal-su Oh.

Oldboy é uma tragédia grega produzida na Coréia do Sul. Inicialmente enfocando o desejo de vingança de seu protagonista, o filme aos poucos mergulha em uma trama repleta de reviravoltas que, a cada nova revelação, leva o espectador a compreender um pouco melhor a mentalidade doentia de seu vilão e a dimensão absolutamente horrenda de seus planos para destruir a vida do pobre herói.

Herói? Corrijo: anti-herói. Vivido com intensidade por Min-sik Choi, o infeliz Oh Dae-su é um indivíduo fraco que, entregue ao álcool, perde o aniversário da própria filha e, depois de aparentemente se meter em uma briga de bar, é levado para a delegacia mais próxima, onde continua a agir de forma pouco social (uma seqüência hilária, diga-se de passagem). Depois de liberado graças à ajuda de um amigo, no entanto, ele acaba sendo seqüestrado e colocado em cativeiro – situação que irá durar nada menos do que quinze anos. Sem saber quem o aprisionou nem o motivo, Dae-su tem apenas uma televisão para lhe fazer companhia – e, de acordo com suas palavras, o aparelho lhe serve como `relógio, calendário, escola, lar, igreja, amiga... e amante`. A tevê funciona, também, como uma espécie de Abade Faria (o mentor de Edmond Dantès em O Conde de Monte Cristo – que chega a ser citado em Oldboy), alimentando a mente e a alma de Dae-su e impedindo que este enlouqueça enquanto planeja sua vingança contra seus captores.

A partir daí, o ótimo roteiro (escrito a oito mãos) dedica-se a estudar as conseqüências psicológicas do longo isolamento imposto ao herói, que, ao encontrar uma pessoa depois de quinze anos sozinho, parece retornar a uma condição quase animalesca, cheirando o outro e forçando-o a acariciar seu rosto – numa ilustração tocante de sua imensa carência. Porém, assim que se acostuma à liberdade recém-conquistada, Dae-su resolve testar se `o treinamento imaginário de 15 anos pode ser posto em prática`, já que passou todo aquele período esmurrando as paredes (observe suas articulações calosas – um detalhe que o filme não esquece) e praticando artes marciais. Esta curiosidade culmina em um dos melhores momentos de Oldboy, quando, em um longo plano sem cortes, vemos o protagonista enfrentar raivosamente uma série de marginais numa luta desajeitada que parece cansativa e real como poucas do gênero.

O filme, aliás, não economiza na violência, levando o espectador a se encolher na poltrona diversas vezes (principalmente aqueles que têm medo de dentista). Ainda assim, o competente diretor Chan-wook Park extrai humor da natureza violenta da história, o que explica a fascinação que Quentin Tarantino demonstrou por este projeto depois de vê-lo no Festival de Cannes de 2004. E, enquanto a fotografia sombria e triste de Jeong-hun Jeong confere um tom quase noir à produção, a trilha composta por Yeong-wook Jo (com `contribuições`de Vivaldi) surge melancólica e evocativa, acentuando a infeliz trajetória de Dae-su. Além disso, Oldboy ainda é beneficiado pela montagem extremamente fluida, que prima pelas passagens de cena criativas e dinâmicas.

Fortalecido também pelas performances de seu elenco principal, o filme guarda suas maiores armas para o ato final, quando finalmente compreendemos toda a extensão dos planos de seu vilão – que, de forma fascinante, parece perceber que exagerou na dose (uma reação que, confesso, não me lembro de ter visto antes no Cinema). Aliás, quando percebi para onde a trama caminhava, confesso que cheguei a sussurrar para mim mesmo (e perdoem-me pela vulgaridade): `Puta que pariu. Puta que pariu. Puta que pariu.`. Sim, eu poderia ter dito algo mais elegante, como `Oh, Céus, não creio no que meus olhos me dizem!`, mas nada poderia expressar meu choque melhor do que um `puta que pariu` em alto e bom som.

Dividindo com Casa de Areia e O Segredo de Vera Drake (que estrearam na mesma semana no Brasil) a coragem de mandar o espectador para fora do cinema com uma sensação de esgotamento e frustração pelo destino dos personagens, Oldboy acompanha uma transição que certamente não deve ter soado muito satisfatória a seu pobre anti-herói: de homem consumido pelo ódio, Dae-su tornou-se uma pessoa condenada pela memória.

Mas sejamos sinceros: como narrativa cinematográfica, sua trajetória é sempre formidável.
``

13 de Maio de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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