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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/05/2009 01/01/1970 2 / 5 2 / 5
Distribuidora
Duração do filme
107 minuto(s)

X-Men Origens: Wolverine
X-Men Origins: Wolverine

Dirigido por Gavin Hood. Com: Hugh Jackman, Liev Schreiber, Danny Huston, Lynn Collins, Kevin Durand, Will.i.Am, Dominic Monaghan, Taylor Kitsch, Daniel Henney, Hakeem Kae-Kazim, Tim Pocock, Ryan Reynolds.

 

Depois de se estabelecer como uma série extremamente ambiciosa do ponto de vista temático graças às inúmeras e brilhantes alegorias que permeavam sua narrativa (sim, também admiro muito o terceiro filme), a franquia X-Men ganha seu primeiro capítulo realmente decepcionante neste Wolverine, que, ao abandonar completamente o rico subtexto da trilogia original, revela-se como um mero caça-níqueis que, com o intuito de explorar o potencial comercial dos mutantes, aposta na ação contínua e descerebrada para atrair os fãs aos cinemas sem se preocupar sequer em amarrar estas seqüências com um roteiro minimamente coerente ou interessante. Ora, ao explorar a origem do personagem vivido por Hugh Jackman, o mínimo que poderíamos esperar do longa seria que este acrescentasse algo de relevante à trajetória do mesmo, mas o fato é não há absolutamente nada aqui que contribua para tornar Wolverine mais interessante ou psicologicamente complexo do que já era nos filmes anteriores – o que nos traz de volta à pergunta: há algum motivo para que este projeto exista a não ser o dinheiro?

           

Escrito pelos irregulares David Benioff (A Última Noite, Tróia, A Passagem, O Caçador de Pipas) e Skip Woods (A Senha: Swordfish e Hitman – Assassino 47), X-Men Origens: Wolverine tem início no Canadá, em 1845, quando o jovem James Logan descobre seus poderes mutantes ao testemunhar a morte daquele que ele julgava ser seu pai. Num impulso de raiva, ele acaba enterrando suas garras no corpo do assassino, que, então, confessa a paternidade antes de morrer – numa revelação que também expõe o laço fraternal entre Logan e o nervoso Victor Creed. A partir daí, Creed e Logan (Schreiber e Jackman) partem numa jornada que os leva aos Estados Unidos, onde se envolvem em várias guerras durante o século seguinte sem jamais envelhecerem ou sofrerem conseqüências físicas dos vários ferimentos que acumulam durante as batalhas. Finalmente, eles são recrutados por William Stryker (Huston) para integrarem uma equipe especial de mutantes até que, farto de testemunhar tantas barbáries, Logan decide se desligar do grupo e passa a levar uma existência pacífica ao lado da bela Kayla Silverfox (Collins) – isto é, até que Stryker e Creed ressurgem em sua vida.

           

Enquanto na trilogia original os personagens secundários eram desenvolvidos cuidadosamente, enfrentando seus próprios dilemas em função de suas mutações, aqui eles são apresentados como curiosidades unidimensionais com potencial para a comercialização de bonecos e outros produtos relacionados (ou, na hipótese mais otimista, como possíveis protagonistas de novos filmes). Além disso, se antes tínhamos atores do calibre de Ian McKellen, Anna Paquin, Halle Berry, Famke Janssen, Kelsey Grammer e Alan Cumming compondo o elenco, agora temos figuras inexpressivas como Taylor Kitsch, Daniel Henney, Kevin Durand, Lynn Collins e Tahyna Tozzi – e, infelizmente, duvido muito que estejamos testemunhando o surgimento de algum grande astro entre os que figuram desta lista. Aliás, até mesmo um ator competente como Dominic Monaghan (O Senhor dos Anéis, Lost) surge perdido em Wolverine, levando a mão artificialmente à cabeça sempre que seu personagem realiza algum efeito telepático (aparentemente, sua telecinese só funciona no tranco) – e o que dizer sobre a participação de Ryan Reynolds, um sujeito carismático que aqui encontra-se totalmente apagado?

           

Porém, o mais provável é que Wolverine seja um destes projetos que já nascem destinados ao esquecimento: afinal, como podemos nos deixar envolver por uma narrativa cujo final já conhecemos em função dos filmes anteriores? E que tipo de tensão o longa poderia gerar depois de estabelecer com tamanha insistência a indestrutibilidade de seu protagonista? Sim, é curioso ver Logan brincando de casinha com Kayla e brigando com o irmão, mas... e daí? Isto é realmente suficiente para justificar 107 minutos de projeção? Como se não bastasse, o roteiro ainda insiste em tentativas patéticas de humor, como no momento em que os mutantes surgem num elevador enquanto são obrigados a escutar uma daquelas musiquinhas insípidas ou na constrangedora cena em que Wolverine destrói um banheiro acidentalmente ao aparentemente se transformar num inspetor Closeau com esqueleto de adamântio.  E o que dizer da seqüência no ginásio de boxe e que envolve uma luta que, além de não fazer o menor sentido do ponto de vista narrativo, ainda falha miseravelmente ao tentar provocar o riso do espectador. Da mesma forma, fica difícil levar a sério o medo que Logan sente de aviões se, logo depois de expressar este pânico, ele salta do aparelho sem qualquer problema. (E prefiro nem comentar a referência boba a Superman através da figura de um casal de velhinhos que auxilia Logan.)

           

O pior, no entanto, é perceber que o roteiro não se preocupa em desenvolver com cuidado nem mesmo os pontos principais de sua trama: por que Victor mostra-se tão determinado a eliminar o irmão? E por que volta atrás? E depois atrás novamente? Devemos apenas aceitar que se trata de um vilão, de um “mutante mau”, e pronto? Quais são suas motivações? Por sorte, Liev Schreiber encarna o personagem com uma intensidade que faz jus à de Jackman, tornando Victor interessante apesar da fragilidade com que este é construído pelo roteiro. Da mesma forma, Jackman já consegue interpretar Wolverine no piloto automático, retratando a natureza simultaneamente animalesca e humana do personagem com eficiência. Fechando o elenco, Danny Huston faz um trabalho correto como Stryker, mas só (embora seja impossível imaginá-lo como uma versão mais jovem de Brian Cox, o que representa um problema lógico de continuidade na franquia).

           

Responsável pelo supervalorizado Infância Roubada e pelo correto O Suspeito, o cineasta sul-africano Gavin Hood faz o possível com o fraco material que tem em mãos, mas o fato é que seu momento mais inspirado reside justamente nos créditos iniciais, quando acompanhamos as experiências de Logan e Victor na Guerra Civil Norte-Americana, na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais e no Vietnã: empregando uma montagem enérgica que cria ótimas elipses e freeze frames impactantes, esta seqüência representa o ponto alto do filme, sendo uma pena, portanto, que ela chegue ao fim antes dos primeiros 15 minutos de projeção. Além disso, Hood exibe um apego exagerado aos efeitos visuais, empregando-os até mesmo para exibir o exterior de um avião em meio ao vôo (seria tão difícil assim filmar um avião real?). Os efeitos digitais de Wolverine, aliás, são terrivelmente irregulares, o que compromete várias de suas seqüências de ação – e que deveriam se estabelecer justamente como ponto forte do projeto.

           

Num período em que os filmes protagonizados por super-heróis vêm surpreendendo por sua maturidade e eficiência, Wolverine representa um retrocesso não apenas dentro de sua própria franquia, como também para todo o gênero.

 

Observação: há uma cena adicional durante os créditos finais e outra depois destes; ambas tolas e descartáveis. Como todo o filme, diga-se de passagem.


Observação 2: o filme foi lançado com cópias que trazem cenas adicionais diferentes após os créditos finais, além daquela que ocorre durante os créditos. Elas são as seguintes (e não leia caso não deseje conhecê-las: durante os créditos, um jipe do exército alcança Stryker, que continua a caminhar sob o comando de Kayla, e o informa de que ele está sendo procurado pela morte do general. Já depois dos créditos, há duas possíveis cenas: em uma, Wolverine surge em um bar no Japão, bebendo - e quando alguém lhe pergunta se ele bebe para esquecer algo, ele diz que "bebe para lembrar". Na outra cena, a mão de Deadpool (o mutante Arma XI) alcança sua cabeça (que havia sido separada de seu corpo) e seus olhos se abrem, olhando diretamente para a câmera.

 

30 de Abril de 2009

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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