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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
14/09/2007 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
91 minuto(s)

Os Mensageiros
The Messengers

Dirigido por Oxide Pang Chun, Danny Pang. Com: Kristen Stewart, Dylan McDermott, Penelope Ann Miller, John Corbett, EvanTurner, Theodore Turner, William B. Davis, Dustin Milligan.

Os gêmeos chineses Oxide e Danny Pang são cineastas indubitavelmente talentosos: mesmo capazes de tropeços constrangedores como o terrível Visões 2 – A Vingança dos Fantasmas (ao contrário do que o título brasileiro indica, o terceiro da série), eles merecem imenso crédito pelo genial The Eye – A Herança e até mesmo por vários elementos eficazes do mediano Visões e do imaginativo Assombração. Aliás, esta estréia dos irmãos em Hollywood inspira sentimento similar, revelando-se um filme falho (especialmente com relação ao seu roteiro), mas que oferece belos exemplos do dom que os cineastas têm para criar planos e cenas perturbadores.

Depois de um prólogo batido no qual vemos uma família sendo atacada por algo jamais visto pelas câmeras (numa feia fotografia em preto-e-branco), somos apresentados pelo roteiro de Mark Wheaton aos Solomon: mudando-se de Chicago em função de problemas financeiros e de uma crise familiar motivada por um incidente revelado somente no final do segundo ato (e que, de tão bobo, não merecia tanto mistério), eles passam a ocupar a fazenda na qual residiam – oh! – as pessoas vistas na introdução do filme. Aos poucos, a jovem Jess (Stewart) começa a testemunhar estranhos fenômenos, mas não consegue convencer seus pais (McDermott e Miller) de que devem sair dali o mais rápido possível. Para seu infortúnio, a única outra pessoa que compartilha suas visões é seu irmãozinho Ben, que, além de ter apenas 3 ou 4 anos, já não fala há alguns meses.

Original, não? Felizmente, apesar da trama mais do que óbvia, Os Mensageiros consegue realizar uma proeza que a maior parte dos exemplares modernos do gênero se mostra incapaz de alcançar: levar o espectador a realmente se importar com o destino da família Solomon. Beneficiado pelas atuações discretas do elenco principal (Miller é a única a ocasionalmente recair no exagero), o longa constrói personagens que soam reais – especialmente Jess, vivida com talento por Kristen Stewart. Fugindo do estereótipo da “adolescente chata” ou mesmo da “mocinha de filme de terror”, Stewart encarna Jess como uma garota que se esforça para consertar o relacionamento com os pais, mas que não deixa de se sentir frustrada quando não é ouvida por estes. Para finalizar, Os Mensageiros conta com um trunfo especial: os garotinhos Evan e Theodore Turner, que interpretam Ben. Incrivelmente expressivos, são eles quem guiam Jess (e o espectador) durante boa parte da narrativa – e confesso que, em diversos instantes, surpreendi-me comparando-os ao pequeno Danny Lloyd, que fez um trabalho também inesquecível em O Iluminado.

Mas se este longa não pode ser realmente comparado à obra de Kubrick, ao menos os irmãos Pang se esforçam para torná-lo interessante. Para isso, buscam criar formas inesperadas de apresentar seus fantasmas para um público que já viu de tudo – e conseguem, como na cena em que a personagem de Miller está arrumando a cama e também na maneira com que utilizam uma imensa mancha de mofo na parede (algo inspirado em Dark Water, mas aqui reimaginado pelos cineastas). Além disso, os Pang mantêm a estratégia de seus trabalhos anteriores, criando planos abertos que permitem que o espectador vislumbre todo o cenário que cerca os atores, despertando uma sensação incômoda de algo poderá surgir a qualquer momento (um recurso oposto ao empregado pela maior parte dos cineastas norte-americanos, que parecem acreditar que um filme de terror deve usar apenas planos fechados). Da mesma forma, os diretores fogem do usual ao conceberem seus enquadramentos, criando closes extremos que cortam os rostos dos atores de maneira assimétrica ou mesmo – em planos mais abertos – enfocando-os apenas do pescoço para cima a fim de incluírem também parte do teto em seus planos. Somados à montagem nervosa, que joga os personagens de um lado a outro do quadro durante os cortes, estes elementos contribuem para tornar Os Mensageiros uma experiência constantemente inquietante.

É claro que, como não poderia deixar de ser, os irmãos Pang também apelam para convenções, o que é lamentável (mesmo que inevitável): vultos que atravessam a tela rapidamente; sombras que surgem ao fundo enquanto vemos a mocinha em primeiro plano; abundantes efeitos sonoros que assustariam até mesmo alguém em estado de coma; e sons de rangidos e respiração que indicam a presença de um espírito – ou de alguém inofensivo, já que o filme também abusa do velho recurso do “Bú! Ha! É um susto falso! Agora se preparem para o verdadeiro!”. Além disso, a subtrama Os Pássaros presente na história acaba se tornando freqüente demais para soar como homenagem, mas muito tola para funcionar de fato como elemento dramático, o que também enfraquece a experiência.

Apresentando um terceiro ato que poderá irritar vários espectadores (particularmente, achei a solução ao menos coerente), o roteiro peca mesmo por seus buracos mais óbvios: quem era, afinal de contas, o sujeito que tenta comprar a fazenda várias vezes? E por que ele queria fazê-lo? Mas ainda mais importante: quem diabos são os tais “mensageiros” mencionados pelo título? E qual é a mensagem que querem entregar?

Provavelmente “Ignorem o roteiro e se concentrem nos efeitos sonoros. Bú!”.

14 de Setembro de 2007

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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