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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
03/09/2004 07/08/2004 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
101 minuto(s)

Yu-Gi-Oh!: O Filme
Yûgiô: Gekijô-ban

Dirigido por Hatsuki Tsuji. Com as vozes de Dan Green, Eric Stuart, Wayne Grayson, Darren Dunstan, Tara Jayne.

Assistir a Yu-Gi-Oh!: O Filme é como acompanhar uma partida do jogo que o inspirou, com a única diferença que, sempre que alguém revelar uma de suas cartas, o espectador deverá imaginar a figura ali estampada em tamanho gigantesco. Aliás, é bem provável que tudo faça mais sentido desta maneira, já que a `trama` deste longa de animação é absurda demais para ser levada a sério: os minutos iniciais até incluem uma narração pomposa sobre um `quebra-cabeça que existe há milênios` e um tal `jogo das sombras` que pode provocar o fim do mundo (eu acho), mas creio que até mesmo o tal narrador desiste de compreender o que está acontecendo, já que desaparece depois de um tempo. Assim, várias perguntas ficam sem resposta: quando o personagem-título monta a pirâmide, por exemplo, ninguém explica onde ele conseguiu as anotações que consultou ao resolver o enigma. Bom, talvez ele as tenha recebido das criaturas de A Vila, que estreou nos cinemas brasileiros no mesmo dia que este filme.

Dirigido pelo estreante Hatsuki Tsuji, Yu-Gi-Oh! gasta a maior parte de seus 90 minutos de duração enfocando duelos de cartas entre seus personagens: porém, aqui a brincadeira se torna mais `real` graças a equipamentos que os oponentes utilizam para criar representações holográficas das criaturas fantásticas desenhadas em seus baralhos – e cada ataque pode até mesmo ferir os jogadores (cujos life points surgem constantemente na tela, com o objetivo de permitir que os espectadores compreendam o que está acontecendo).

Tecnicamente limitado, o filme não é esteticamente melhor do que uma animação produzida para a televisão: os cenários são pouco inspirados e o esquema de cores jamais foge do básico. Insistindo no recurso de telas divididas (revelando a preguiça do diretor em encontrar novas maneiras de retratar o confronto dos duelistas), o longa obviamente inclui alguns dos fetiches característicos dos animes (e, conseqüentemente, mangás), como as inevitáveis colegiais de minissaia. Porém, é até vergonhoso incluir Yu-Gi-Oh! no mesmo gênero de obras-primas como A Viagem de Chihiro e Millenium Actress, já que seu roteiro é terrivelmente medíocre, chegando a ter, como vilão, o velho e bom Anubis, que já ameaçou o mundo em produções como O Retorno da Múmia e Stargate. Além disso, este é o tipo de filme que traz diálogos rasos sobre `o poder da amizade` ou simplesmente ridículos, como no momento em que o narrador diz: `Às vezes, nem mesmo a eternidade dura para sempre!` (uma frase que poderia ter saído de uma obra de Ed Wood).

Estrelado por personagens histéricos que parecem estar atuando em uma novela mexicana (é raro ver um herói de animação canastrão, mas é isso que acontece aqui), Yu-Gi-Oh! torna impossível, para o espectador, acompanhar o que está acontecendo, já que suas regras parecem ser inventadas de improviso: quando alguém diz algo como `Meu Bebê-Dinossauro ataca sua Menina-Enfermeira!`, o oponente apenas responde `Pois eu sacrifico meu Homem-Caramelo, meu Robô-Espacial e minha Fada-Dopada para invocar o Super-Réptil-Azulado!` e vence a rodada. Aliás, não há uma única jogada que não seja extensamente explicada pelos duelistas, que descrevem até mesmo os danos causados ao inimigo: `Quando você destruiu meu Cachorro-Sarnento-Voador, ativou seu poder especial, permitindo que eu convocasse outro em seu lugar! Com isso, você perde 300 life points e é obrigado a jogar fora cinco de suas cartas!`.

E se você acha que isto é ruim o bastante, é porque não viu o filme: ao longo da projeção, os planos malignos de Anubis são explicados nada menos do que quatro ou cinco vezes por personagens diferentes – e todos fazem questão de esclarecer que tudo começou `há cinco mil anos`, como se isto fosse algo muito importante. Ou interessante. Para piorar, o roteiro desiste de tentar fazer sentido depois dos primeiros quinze minutos e, no terceiro ato, se embaralha todo (com o perdão do trocadilho), misturando o mundo real e as criaturas saídas das cartas.

De todo modo, Yu-Gi-Oh! cumpre seu objetivo: incentivar a criançada a comprar mais decks deste card game. Se sua trama faz sentido ou não, é algo que parece não interessar ao filme. E se você discordar desta análise, já vou avisando: publicar um comentário negativo no fórum abaixo ativa um poder especial, permitindo que meu Rei-Lagarto e minha Sereia-Laser invoquem a Ultra-Kael, tirando 500 de seus life points e te obrigando a concordar com meus próximos 150 artigos.

Ou algo no gênero.
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03 de Setembro de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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