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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
20/06/2004 02/04/2004 2 / 5 2 / 5
Distribuidora
Duração do filme
111 minuto(s)

Um Príncipe em Minha Vida
The Prince and Me

Dirigido por Martha Coolidge. Com: Julia Stiles, Luke Mably, Ben Miller, Miranda Richardson, James Fox, Eliza Bennett, John Bourgeois, Eddie Irvine.

Nas tramas românticas produzidas por Hollywood, as mulheres estão sempre à espera de seu `príncipe encantado`, seja este quem for: um ogro, um garçom cubano, um soldado da Guerra Civil, um tímido escritor ou mesmo um pirata (para citar apenas exemplos recentes). Pois Um Príncipe em Minha Vida resolve levar o conceito ao pé-da-letra e oferece, para a dedicada estudante americana Paige Morgan, um pretendente de sangue genuinamente azul. No entanto, como nem tudo é perfeito, o príncipe dinamarquês por quem a garota se apaixona é um sujeito fútil que decidiu viajar para os Estados Unidos apenas para conhecer universitárias ninfomaníacas e que pouco tem a ver com alguém que pretende dedicar a vida a causas nobres, como fazer parte do grupo Médicos Sem Fronteiras.

Como eu já disse em outras ocasiões, poucos gêneros são tão previsíveis quanto as `comédias românticas` – e Um Príncipe em Minha Vida, infelizmente, não é exceção: convencional do início ao fim, o roteiro escrito por Jack Amiel, Michael Begler e Katherine Fugate (sobrinha de Barbara Eden, estrela da série Jeannie é um Gênio) contém todos os clichês que habitam produções similares: quando o Príncipe Edvard assume o apelido de Eddie e esconde de todos sua ascendência real, percebemos instantaneamente que, em determinado instante, sua amada vai descobrir o segredo e acusá-lo de mentir para ela, gerando um draminha momentâneo e pouco convincente. Da mesma maneira, o trio de roteiristas abusa da boa vontade do espectador ao tentar levá-lo a acreditar que os pais de Eddie deixariam o rapaz trabalhar em uma lanchonete para ganhar o próprio sustento – um absurdo que é utilizado pela história para criar a cena clássica em que um dos amantes ensina o outro a fazer alguma coisa e, para isso, é obrigado a segurar sua mão (aqui, Paige mostra ao príncipe como fatiar um pedaço de peru. Ahhhhhhh...).

Infelizmente, por mais que estejamos condicionados a perdoar este tipo de lugar-comum (que, afinal de contas, faz parte do gênero), Um Príncipe em Minha Vida comete deslizes maiores, impossíveis de serem ignorados: para aproximar Eddie e Paige, por exemplo, a trama inclui uma dificuldade que a garota enfrenta em suas aulas de Literatura, o que a leva a pedir o auxílio do rapaz, versado em Shakespeare. O problema é que, em vez de simplesmente alegar que Paige detesta o bardo inglês ou que tem preguiça de ler, o filme passa do ponto ao explicar que ela não entende o princípio da Metáfora, o que impossibilita o espectador de acreditar que alguém assim seria capaz de se formar no segundo grau (ou, pior ainda, de entrar em uma faculdade). A mocinha não precisava ser Ph.D em Dramaturgia, é claro, mas tampouco deveria ser retratada como alguém com Q.I. inferior ao de Forrest Gump. (A bem da verdade, o filme tenta nos convencer de que Paige é inteligente, mas depois daquela cena na lavanderia, isto se torna impossível.) Por outro lado, Eddie também não é dos mais brilhantes, chegando a considerar profunda a lição de `economia` que recebe de um simplório fazendeiro - e que não passa de senso comum.

Apesar de tudo, Um Príncipe em Minha Vida tem seus momentos divertidos – a maior parte dos quais envolve a relação entre Edvard e seu criado particular, Soren. Determinados a não chamar a atenção dos demais alunos da universidade, os dois não conseguem evitar certos hábitos, como no instante em que o empregado ajuda o patrão a tirar o casaco em uma lanchonete. Pena que o roteiro mais uma vez falhe em reconhecer uma situação com bom potencial cômico e praticamente ignore o fato de que, para observadores distantes, Soren e Eddie pareceriam um casal homossexual (o que poderia dar origem a mal-entendidos interessantes).

Engessada por uma personagem fraca e pouco carismática, a talentosa Julia Stiles pouco pode fazer para compensar o problema, perdendo-se de vez a partir do momento em que o roteiro tenta retratá-la como a `americana espontânea` que não se rende ao pedantismo da monarquia. Já o britânico Luke Mably mostra-se mais convincente em um papel que, devo admitir, é infinitamente mais fácil do que aquele vivido por Stiles. Enquanto isso, Miranda Richardson é desperdiçada em suas poucas participações como a Rainha da Dinamarca, já que limita-se a assumir o posto de obstáculo ao romance do casal principal.

Sem conseguir realizar um filme digno de aplausos desde As Noites de Rose, lançado em 1991, a cineasta Martha Coolidge falha até mesmo em estabelecer a passagem do tempo em Um Príncipe em Minha Vida: embora a trama pareça envolver poucas semanas, acabamos por perceber que no mínimo seis meses se passaram desde o início da história, o que não deixa de gerar certa confusão. Além disso, Coolidge plagia descaradamente a tomada final de O Poderoso Chefão ao mostrar Paige sendo deixada de fora de uma importante reunião, o que compromete ainda mais seu trabalho.

Seja como for, não se preocupe: caso esteja realmente interessado(a) em assistir a uma comédia romântica envolvendo uma plebéia e um príncipe autêntico, o ano de 2004 ofereceu uma outra opção bem mais divertida: Ella Enchanted. Tenho certeza de que, no mínimo, Ella sabe o que é uma metáfora – e isso, pelo menos para mim, já está de bom tamanho.
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20 de Junho de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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