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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
27/09/2003 19/06/2002 5 / 5 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
122 minuto(s)

Albergue Espanhol
L` Auberge espagnole

Dirigido por Cédric Klapisch. Com: Romain Duris, Judith Godrèche, Audrey Tautou, Cécile De France, Kelly Reilly, Cristina Brondo, Federico D´Anna, Barnaby Metschurat, Kevin Bishop.

Albergue Espanhol é um filme que faz jus ao mundo globalizado em que vivemos: escrito e dirigido pelo francês Cédric Klapisch, o longa acompanha o jovem Xavier, que deixa a França para morar um ano na Espanha, onde concluirá seu curso de Economia e aprenderá a língua do país (com o objetivo de conseguir um bom emprego que lhe foi prometido por um amigo de seu pai). Inicialmente abalado pelas dificuldades de se viver em uma cidade que não conhece, Xavier aluga um quarto em um apartamento no qual residem outros seis estudantes - todos de países diferentes.

Uma das grandes forças de Albergue Espanhol diz respeito, aliás, ao seu elenco, já que cada personagem é interpretado por um ator de nacionalidade diferente - o que confere uma autenticidade indiscutível à interação entre os jovens estudantes e às discussões que estes mantém: não é difícil imaginar, por exemplo, que os bastidores da produção tenham sido palco de interessantes conversas sobre a identidade cultural de cada um dos atores, cujas diferentes línguas certamente devem ter criado uma verdadeira sinfonia de sotaques (ao longo do filme, ouvimos conversas em francês, inglês, espanhol, dinamarquês e catalão). Da mesma forma, a química entre os intérpretes encontra reflexo no companheirismo de seus personagens, que estão sempre dispostos a ajudarem uns aos outros - algo que fica claro na seqüência em que todos dão início a uma corrida desesperada para avisar a estudante britânica sobre a chegada de seu namorado antes que este a surpreenda na cama com um americano (o desfecho da cena, vale dizer, resulta numa das maiores gargalhadas do ano).

Inteligentes e articulados, os jovens de Albergue Espanhol enfrentam com irreverência e inventividade os desafios impostos por uma nova cultura (no caso, a espanhola) e pela própria diversidade étnica de sua pequena república: ao lado do telefone, por exemplo, eles penduram um cartaz que informa a maneira correta de atender as ligações dos parentes dos estudantes em cada uma de suas línguas natais. E o que é melhor: ao contrário de boa parte das produções que giram em torno de universitários, este filme retrata o cotidiano de seus personagens de forma verossímil: eles são vistos estudando, fazendo trabalhos para a universidade e se comportando como jovens comuns (em determinado momento, bêbados depois de uma noitada, eles formam uma rodinha e cantam No Woman, No Cry ao som do violão. Mais real, impossível.).

Em meio a tudo isso, acompanhamos o crescimento de Xavier, que gradualmente se torna um sujeito mais seguro e decidido - e a ampliação de seus horizontes acaba comprometendo o relacionamento com Martine, a namorada que deixou na França (e que é vivida por Audrey Tautou, afastando-se cada vez mais de Amélie Poulain). E quando o rapaz começa a manifestar interesse por uma mulher casada, o diretor Cédric Klapisch é bem sucedido ao demonstrar, sem utilizar palavras, que a fascinação de Xavier não é fruto de uma paixão avassaladora, mas sim resultado de sua carência emocional e sexual - o que é perfeitamente natural.

Outro ótimo elemento do roteiro é a inclusão de um jovem inglês que insiste em fazer generalizações sobre cada país, utilizando frases do tipo: `Vocês, franceses, são sempre...`; `Os espanhóis adoram...`; e assim por diante - chegando a causar sérios constrangimentos ao imitar a cadência da fala de alguns estudantes e ao usar Hitler como `símbolo` do comportamento dos alemães. Interpretado com talento por Kevin Bishop, o rapaz não é um mau sujeito; apenas não consegue perceber o preconceito contido em suas brincadeiras e a fragilidade de suas opiniões (quem não conhece alguém assim?).

Finalmente, Albergue Espanhol não funciona apenas como retrato da globalização e do choque de culturas, mas também como a jornada pessoal de um jovem rumo à definição de sua vida: confuso sobre o homem que quer ser, Xavier não é muito diferente do Benjamin Braddock vivido por Dustin Hoffman em A Primeira Noite de um Homem, já que ambos devem lidar com as expectativas do mundo adulto ao mesmo tempo em que tentam identificar suas próprias ambições.

Não deixe de conferir.

``

28 de Outubro de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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