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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
15/07/2005 22/06/2005 3 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
101 minuto(s)

Herbie: Meu Fusca Turbinado
Herbie: Fully Loaded

Dirigido por Angela Robinson. Com: Lindsay Lohan, Michael Keaton, Justin Long, Breckin Meyer, Cheryl Hines, Jimmi Simpson, Jill Ritchie, Thomas Lennon, Matt Dillon.

Ainda que a série originada em 1968 com Se Meu Fusca Falasse jamais tenha gerado um filme realmente excelente, devo confessar que sempre tive simpatia pelo pequeno Herbie. Não, não sou um daqueles fanáticos por fuscas e nunca possuí um destes carros (quando comecei a dirigir, já não eram fabricados; minha admiração por Herbie deve-se à sua personalidade, ao jeito atrevido e infantil com que sempre lidou com os obstáculos que surgiam em seu caminho (literalmente, em algumas circunstâncias). Assim, quando comecei a assistir a este Herbie: Meu Fusca Turbinado e percebi que a diretora Angela Robinson optara por usar cenas dos filmes anteriores durante os créditos, aplaudi mentalmente a inteligente decisão: de imediato, ela (re)estabelecera o universo fantasioso da história, preparando os novos espectadores para uma história que jamais se prende às regras do mundo real.

E como poderia ser diferente? Afinal, o fusca com o número 53 estampado em sua lataria se notabilizou por ter vida própria, causando inúmeros problemas para aqueles que o dirigiam mas também trazendo muitas alegrias para seus donos. Aliás, é difícil imaginar como alguém poderia abrir mão de um carro tão especial, mas isto é o que aparentemente aconteceu, já que, quando este longa tem início, Herbie encontra-se em um ferro-velho e prestes a ser destruído. (Ao apresentarem a `decadência` do carro através de recortes de jornais exibidos ao longo dos créditos iniciais, os roteiristas Thomas Lennon, Ben Garant, Alfred Gough e Miles Millar evitam ter que esclarecer exatamente as circunstâncias de seu infortúnio, o que não deixa de ser uma saída inteligente). É então que ele é comprado pela jovem Maggie Peyton por apenas 75 dólares (o mesmo valor pago por ele em Se Meu Fusca Falasse), não demorando muito até que a garota perceba ter algo especial em mãos – principalmente se considerarmos que ela faz parte de uma família de pilotos da Nascar...

Não é preciso dizer que Herbie logo demonstra seu talento para corridas, vencendo carros teoricamente muito mais velozes do que um fusca 63 – e é uma pena que o roteiro não consiga explicar por que, então, ele havia se tornado um perdedor anos antes. Da mesma forma, é no mínimo estranho que, entre tantos corredores profissionais, ninguém se lembre do velho 53. Em vez de perderem tempo com o fraco draminha familiar entre Maggie e o pai ou mesmo com a dispensável subtrama romântica envolvendo a garota e o mecânico Kevin, os roteiristas poderiam ter dedicado mais atenção a estas questões, aumentando a coerência não apenas do filme, mas de toda a série.

Esta falta de lógica interna na trama, diga-se de passagem, afeta até mesmo a relação entre Herbie e seus coadjuvantes humanos: afinal de contas, em que momento Maggie e Kevin compreendem que o fusca é um `ser inteligente`? Em determinada cena, por exemplo, o rapaz faz questão de afirmar que Herbie é apenas um carro, mas, segundos depois, diz que o fusca está `nervoso` em função da corrida que se aproxima – e esta mesma incongruência também surge algumas vezes nas atitudes de Maggie. Com isto, o espectador enfrenta dificuldades para forjar uma identificação com a situação dos personagens de carne-e-osso, já que nunca sabe se estes têm conhecimento da verdade sobre Herbie ou não. E por que estabelecer a habilidade do carrinho em `ler a mente` da nova dona, uma skatista, e de realizar manobras típicas daquele esporte se isto não vai ser utilizado de forma mais eficaz pela história?

Felizmente, o ritmo sempre dinâmico adotado pela diretora Angela Robinson evita que o público se detenha por muito tempo nestes problemas narrativos – principalmente em função da insistência da cineasta em estabelecer o personagem-título como uma figura tão real quanto os demais integrantes do elenco: observem, por exemplo, como ela faz sempre questão de incluir pequenos zooms nos rostos de todos os principais pilotos, antes de cada corrida, combinando-os a um zoom similar em Herbie, colocando-o em pé de igualdade com os demais. E os planos subjetivos que simulam a visão do carro também seguem esta mesma lógica – embora, aqui, Robinson acabe exagerando na dose. Finalmente, a diretora volta a acertar ao ilustrar a diferença gritante entre a tecnologia dos automóveis modernos e o ultrapassado Herbie, utilizando a montagem de forma divertida ao retratar o piloto Trip Murphy manipulando um computador acoplado ao seu carro enquanto Maggie simplesmente aperta alguns botõezinhos no velho painel do fusca.

Demonstrando o mesmo carisma exibido em Meninas Malvadas, Lindsay Lohan confere peso à personagem, contornando a maneira esquemática com que Maggie foi desenvolvida pelo roteiro – um feito que, de certo modo, o sempre eficiente Michael Keaton também realiza, embora tenha bem menos tempo para fazê-lo. Enquanto isso, Matt Dillon prova seu talento cômico ao interpretar tipos desprezíveis, emprestando a Trip Murphy um ar de vilão de desenho animado e transformando-o numa espécie de Dick Vigarista da Nascar. Em contrapartida, Justin Long permanece apagado ao longo de toda projeção, enquanto Jill Ritchie, como a `melhor amiga` de Maggie, apenas irrita com suas caretas e trejeitos exagerados.

Quanto a Herbie... bom, ele continua o mesmo, o que é um alívio. Em vez de assumir uma personalidade mais `moderna`, o fusquinha permanece incorrigivelmente ingênuo e infantil, chegando a sentir medo ao assistir a um filme de terror. Além disso, não há como não julgar engraçadinhas suas tentativas de chamar a atenção da personagem de Lohan no ferro-velho.

Reside, aí, a grande força deste longa: no charme de Herbie. Lindsay Lohan pode até ser uma atriz renomada da atualidade, mas aqui serve como mera coadjuvante de luxo para o veterano 53.
``

14 de Julho de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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