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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
22/08/2003 23/10/2003 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
103 minuto(s)

O Preço da Paz
O Preço da Paz

Dirigido por Paulo Morelli. Com: Herson Capri, Giulia Gam, Lima Duarte, José de Abreu, Camila Pitanga, Danton Mello.

Pergunte a qualquer freqüentador de cinema se ele (ou ela) sabe qual é a data da Independência dos Estados Unidos, o que foi a Guerra Civil Americana ou que presidente morreu baleado no Texas e certamente ouvirá a resposta correta. Agora pergunte a este mesmo indivíduo sobre a Coluna Prestes, a Revolta dos Farrapos ou mesmo o nome do presidente substituído pela recente ditadura militar e provavelmente ficará surpreso com as respostas. E como poderia ser diferente? Afinal, todos os anos somos bombardeados com dezenas de filmes que se encarregam de nos apresentar a história, a cultura e o modo de vida dos americanos. Ora, até já nos condicionamos a aceitar que eles sejam os americanos, embora todos nós vivamos nestes continentes!

Assim, é sempre bom quando uma produção nacional se encarrega de popularizar um pouco mais a História de nosso país, como é o caso deste O Preço da Paz, segundo longa-metragem de Paulo Morelli, que aborda o período da Revolução Federalista, quando um grupo de rebeldes (os Maragatos) iniciou uma campanha contra o governo de Floriano Peixoto a fim de garantir maior autonomia para os estados da União. Promovendo sangrentas batalhas contra os Pica-paus (o exército legalista), os revolucionários invadiram (entre outras cidades) Curitiba, cujos governantes haviam fugido pouco antes. Para evitar que o grupo liderado pelo notório Gumercindo Saraiva saqueasse a cidade, o Barão Ildefonso Pereira Correia (também conhecido como Barão do Serro Azul) decidiu negociar com os rebeldes - o que era considerado como traição pelos partidários de Peixoto.

Escrito por Walther Negrão, O Preço da Paz é tecnicamente irrepreensível: dos figurinos aos cenários, o filme faz uma bela reconstituição de época, contando, ainda, com a ótima fotografia de Luís Branquinho. Além disso, a edição de efeitos sonoros e o próprio design de som são impressionantes - especialmente nas seqüências de batalha. Para completar o quadro, Morelli faz um uso eficaz de suas locações, merecendo destaque o tiroteio que acontece em meio a uma imponente formação rochosa.

Por outro lado, o compositor Jaime Zenamon exagera na dimensão e nas intervenções da trilha sonora, que, além de tentar evocar um tom forçadamente épico, ainda procura obrigar o espectador a conferir mais importância do que deveria a certos acontecimentos, como o fraco discurso de Gumercindo e o beijo entre o Barão e sua esposa. Aliás, o próprio diretor comete este mesmo erro ao encarar o material como algo mais grandioso do que o ideal - e a tomada final, por exemplo, poderia ter saído diretamente de ... E o Vento Levou (o que, neste caso, não funciona como elogio). De modo geral, porém, Morelli conduz bem a narrativa e compõe seus quadros de forma inteligente: observem o momento em que a figura do Barão é `abafada` pela presença de dois outros personagens que se encontram em primeiro plano e percebam como o cineasta prenuncia a opressão que se aproxima.

Mas se a parte técnica de O Preço da Paz merece elogios, o mesmo não pode ser dito sobre o elenco excessivamente heterogêneo: a qualidade dos sotaques, em particular, é baixíssima, variando de personagem para personagem. E se a má atuação do jovem que interpreta o irritante Conrado (e cujo nome não consegui descobrir) não pode ser considerada uma surpresa, o mesmo não se aplica ao experiente José de Abreu, excessivamente caricatural. Enquanto isso, o talentoso Lima Duarte (que brilhou em obras como Eu, Tu, Eles e O Auto da Compadecida) parece não encontrar um tom para Gumercindo Saraiva, que, se em alguns momentos é retratado como um homem idealista e de fortes princípios morais, em outros transforma-se num sádico e chantagista (e como um bom comandante pode gastar seu orçamento de guerra com bebidas e prostitutas para seus soldados é algo que não consigo entender). Como se não bastasse, o filme ainda tenta forçar uma subtrama romântica envolvendo os personagens de Danton Mello e Camila Pitanga, falhando vergonhosamente.

Por sorte, a produção tem, em seu centro, duas belas performances de Giulia Gam e Herson Capri. Este último, em particular, representa a verdadeira alma da história, retratando o Barão como um homem pacifista e irremediavelmente otimista. Acreditando (ingenuamente) na honra de seus contemporâneos, o sujeito só percebe seu equívoco quando já é tarde demais - e a expressão de choque, espanto e decepção de Capri é forte e comovente, transformando-se no clímax dramático da narrativa. Uma atuação excepcional que, a bem da verdade, salva todo o filme.

Mesmo que apresente graves defeitos, O Preço da Paz é um projeto bem realizado e interessante, merecendo ser visto. Esta pode até não ser a melhor produção do ano, mas é boa o bastante para fazer jus à memória do corajoso homem que a inspirou.

``23 de Outubro de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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