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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
17/03/2006 12/01/2006 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
106 minuto(s)

Anjos da Noite - A Evolução
Underworld: Evolution

Dirigido por Len Wiseman. Com: Kate Beckinsale, Scott Speedman, Tony Curran, Derek Jacobi, Bill Nighy, Steven Mackintosh, Shane Brolly, Brian Steele, Zita Görög.

 

Ao que parece, a dupla Len Wiseman e Danny McBride realmente acredita ter concebido uma história interessante que merece ser classificada como “saga” – algo que podemos perceber pelo texto pretensioso que abre esta continuação e que se encarrega de restabelecer o contexto “histórico” do filme que veremos em seguida. O que eles não se dão conta é de que, assim como o original, esta continuação traz um roteiro que desperdiça todas as oportunidades que lhe cruzam o caminho, optando, em vez disso, por atirar-se de cabeça em seqüências de ação corriqueiras e em situações dramáticas diretamente transportadas de outras produções. Mas o mais incrível é o fato de Wiseman e McBride não perceberem que, no fim das contas, Anjos da Noite – A Evolução é um longa terrivelmente aborrecido.

           

Dependendo mais do que o ideal das lembranças que o espectador guarda dos acontecimentos narrados no capítulo anterior, Anjos da Noite 2 inclui, em seu primeiro ato, um longo flashback a fim de refrescar nossas memórias, já que provavelmente tem consciência de que havíamos esquecido tudo o que acontecera em Anjos da Noite: Underworld antes mesmo de sairmos do cinema. A partir daí, o filme passa a contar mais uma daquelas histórias nas quais vários personagens se mostram obcecados em tomar posse de um artefato histórico com significado misterioso e, no processo, utiliza todas as desculpas que se apresentam para incluir seqüências de tiroteio, embates corporais e muitos efeitos visuais envolvendo lobisomens (perdão, lycans) e vampiros.

           

O problema é que, entre uma cena de ação e outra, voltamos a acompanhar uma trama confusa e pouco envolvente que parece não se preocupar em esclarecer exatamente o que está acontecendo: durante a maior parte da projeção, testemunhamos o personagem de Derek Jacobi disparando ordens para um exército particular, mas não conhecemos suas motivações ou mesmo sua índole (ou espécie!). E, quando finalmente recebemos as respostas, o tédio e o desinteresse já nos dominaram quase totalmente. Para piorar, a insistência do roteiro em ocultar (ou adiar) suas explicações não tem justificativa narrativa: o filme jamais se beneficia de suas revelações, já que, por sua própria natureza, não precisa de reviravoltas. Com isso, a impressão que temos é a de que os roteiristas optam por esta estrutura apenas para conferir uma certa aura de interesse ao projeto, já que têm ciência de que a trama que criaram é inequivocamente frágil. Ainda assim, em certos momentos, a dupla ultrapassa o limite, insistindo em flashbacks completamente dispensáveis que servem apenas para aumentar a duração do longa (quando a heroína Selene caminha por um castelo, voltamos freqüentemente a imagens de sua infância que justificam sua familiaridade com o caminho – mas depois do primeiro flashback, estas lembranças se tornam descartáveis, embora o filme insista em utilizá-las).

           

Para evitar que o público durma, Anjos da Noite – A Evolução inclui, de dez em dez minutos, uma seqüência de ação barulhenta, o que é uma decisão sábia: se não fossem as explosões sonoras, acabaríamos mesmo mergulhando no sono, já que as lutas, tiroteios e perseguições são terrivelmente burocráticas, empalidecendo frente ao que já nos acostumamos a ver em filmes como Matrix Reloaded e King Kong, para citar apenas dois exemplos. Além disso, Wiseman, em seu segundo trabalho na direção (o primeiro foi em... Anjos da Noite: Underworld), segue a equivocada convenção estabelecida por Tony Scott de que, quanto mais rapidamente a câmera se mover durante estes instantes, melhor. O resultado é o costumeiro nestes casos: mal conseguimos compreender a lógica do que está ocorrendo ou mesmo a geografia da cena. E o que podemos dizer do tratamento diferenciado que ele oferece a Kate Beckinsale, que, além de protagonista da história, é também sua esposa? Embora mostre os seios siliconados de vampiras figurantes, Wiseman toma extremo cuidado ao comandar a cena de sexo entre Selene e o híbrido “vampirosomem” (ou seria “lobispiro”?) Michael, certificando-se de que braços, pernas e sombras ocultarão qualquer parte mais íntima do corpo da atriz.

           

E isto é, no mínimo, desonesto – afinal, o projeto não esconde que uma de suas principais forças reside justamente no corpo de Beckinsale, que, com seus figurinos de couro colados à pele, estampa cartazes e atravessa o trailer de maneira sempre sensual. Propaganda enganosa? Não sei se chega a tanto, mas é uma pena que o filme sempre se preocupe em preservar a protagonista (embora exponha as figurantes), já que a moça se mostra inexpressiva do início ao fim – e, na falta de talento dramático, uma cena de nudez seria um substituto adequado (e habitual na história de Hollywood, diga-se de passagem). Já Scott Speedman encarna Michael de maneira igualmente apática, sem demonstrar qualquer sinal do carisma exibido em filmes como Minha Vida Sem Mim e A Face Oculta da Lei. Enquanto isso, o veterano Derek Jacobi pouco pode fazer com um personagem pessimamente desenvolvido pelo roteiro, sendo ofuscado até mesmo pela breve, porém divertida, aparição de Bill Nighy durante a seqüência pré-créditos.

           

Repetindo o que fizera no primeiro filme, Anjos da Noite – A Evolução mais uma vez plagia descaradamente O Exterminador do Futuro 2 – desta vez, copiando a narração que Linda Hamilton fazia no desfecho daquele longa e adaptando-a ao seu próprio contexto (aliás, até mesmo o plano final de T2 foi plagiado: a diferença é que, em vez de percorrer uma estrada escura, Wiseman sobrevoa o mar).

           

É triste constatar que qualquer bobagem pode dar origem a uma série caso obtenha um sucesso - mesmo moderado - de bilheteria.
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17 de Março de 2006

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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