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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
11/04/2003 10/01/2003 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
95 minuto(s)

Recém-Casados
Just Married

Dirigido por Shawn Levy. Com: Ashton Kutcher, Brittany Murphy, Christian Kane, David Moscow, David Rasche, Raymond J. Barry e Veronica Cartwright.

Depois de bombardear o mundo com o péssimo Sonho de Campeão, de 1993, o roteirista Sam Harper levou dez anos até conseguir ver outra de suas histórias chegar às telonas. Infelizmente, ele deveria ter esperado mais vinte anos, pois Recém-Casados, sua nova `obra-de-arte` é a prova definitiva de que nem todos melhoram com o avançar da idade.

Dirigido por Shawn Levy, Recém-Casados gira em torno do locutor de rádio Tom Leezak (Ashton Kutcher) e da socialite Sarah McNerney (Brittany Murphy), que se conhecem graças a um incidente ocorrido em uma praia. Apaixonados, os dois resolvem morar juntos e, nove meses depois, decidem oficializar a união. Depois de casados, eles partem em lua-de-mel para a Europa e, no processo, se envolvem em inúmeras confusões.

Aqui cabe um aviso: quando digo `confusões`, não estou me referindo a nenhum tipo de mal-entendido ou a qualquer problema que envolva um pingo sequer de criatividade por parte do roteiro. Infelizmente, o máximo que Sam Harper consegue criar são situações nas quais vemos Tom e Sarah batendo suas cabeças em vários objetos, tropeçando, derrubando itens espalhados em vários aposentos, e assim por diante. Porém, as `trapalhadas` do casal jamais conseguem soar autênticas ou engraçadas como aquelas protagonizadas pelo desajeitado Inspetor Closeau, vivido por Peter Sellers na série A Pantera Cor-de-Rosa (para citar um exemplo clássico): ao contrário, cada uma das quedas vistas em Recém-Casados – e são muitas – soam como gags recicladas que já deixaram de ser engraçadas há muito tempo.

Parecendo perceber o problema, o fraco diretor Shawn Levy aparentemente solicitou que seus protagonistas rissem das próprias confusões, na esperança de que o espectador, influenciado pelas gargalhadas, julgasse estar assistindo a uma comédia realmente divertida. Assim, sempre que se envolvem em uma situação supostamente cômica, Tom e Sarah caem na risada. O que Levy parece ignorar é que, em produções deste gênero, o divertido, para a platéia, é testemunhar o embaraço dos personagens diante de situações adversas. Ora, se os próprios protagonistas não parecem se importar com o vexame, por que deveríamos achar graça de seus problemas? (A exceção, obviamente, reside nos casos em que a risada do personagem serve como explosão nervosa, como na clássica cena de Um Dia a Casa Cai em que Tom Hanks, depois de uma série de tropeços, finalmente tem uma crise nervosa e gargalha diante do próprio sofrimento. Porém, não é isso que ocorre em Recém-Casados.)

Aliás, a falta de talento de Harper é tamanha que ele não consegue sequer perceber a regra básica de comédias envolvendo personagens vitimados pelo `destino`: os problemas devem aumentar de gravidade gradualmente, começando com incidentes inofensivos até atingir o caos absoluto (como no divertidíssimo Antes Só do que Mal Acompanhado). No entanto, quando o personagem de Ashton Kutcher perde a paciência e proclama estar vivendo uma `lua-de-mel do inferno`, não sentimos que ele enfrentou tantos contratempos assim, o que confere um ar artificial ao seu desabafo. Para completar, o roteirista ainda procura acrescentar toques dramáticos ao filme, quando, no último ato, o pai de Tom diz para o filho que Sarah não se importa com o fato deste ser pobre. O problema é que, em nenhum momento do filme, a diferença social entre os dois namorados é retratada como um obstáculo real, o que torna o tal discurso completamente incompreensível.

Apesar de tudo, é inevitável reconhecer que o jovem Ashton Kutcher tem carisma. Com sua expressão apatetada e seu jeitão desengonçado, o ator é responsável pelas pouquíssimas risadas presentes no filme, como na cena em que reage apavoradamente ao descobrir que há uma barata andando em seu pescoço. Por outro lado, Brittany Murphy, que já havia oferecido um desempenho sofrível em Refém do Silêncio, volta a provar que só funciona quando assume personagens cujas principais características dizem respeito à sensualidade (como no ótimo 8 Mile – Rua das Ilusões). Em Recém-Casados, a atriz tenta desesperadamente ser engraçada, apelando para inúmeras caretas, olhos arregalados, risos forçados, e por aí afora – mas sem sucesso. A comédia certamente não é sua praia. Ou o problema talvez esteja simplesmente no roteiro e na direção.

Seja como for, a má notícia é que Shawn Levy e Sam Harper vão voltar a trabalhar juntos em Cheaper by the Dozen, comédia que será protagonizada por Steve Martin (de quem sou fã incondicional). O problema é: se Harper levou dez anos para conceber Recém-Casados, imaginem o estrago que ele fará ao gastar apenas 12 meses para escrever um novo roteiro... Pobre Steve Martin – é melhor que ele garanta logo a vaga de apresentador do Oscar do ano que vem. Pelo jeito, ele vai precisar do emprego.
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11 de Abril de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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