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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
25/04/2003 07/02/2003 4 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
116 minuto(s)

Como Perder um Homem em 10 Dias
How to Lose a Guy in 10 Days

Dirigido por Donald Petrie. Com: Matthew McConaughey, Kate Hudson, Adam Goldberg, Celia Weston e Bebe Neuwirth.

Quando escrevi sobre o fraco Doce Lar, há alguns meses, iniciei minha análise comentando a `imutável falta de originalidade` do gênero `comédia romântica`: `Em 99% dos casos, os dois `pombinhos` enfrentam preconceitos, mal-entendidos, desastres e outras artimanhas do destino (leia-se: dos roteiristas), mas acabam vencendo todas as adversidades`. Aliás, já que Hollywood não se cansa de reciclar os mesmos clichês, peço licença para fazer o mesmo, reciclando um outro trecho daquele artigo: `A única diferença entre uma comédia romântica boa e outra ruim reside em sua `embalagem`, e não em seu conteúdo. Em outras palavras: como o roteiro apresentará a história para o público? (...) Filmes como Sintonia de Amor e Quatro Casamentos e um Funeral funcionam graças a artifícios na maneira curiosa com que os casais se envolvem. No geral, porém, a fórmula é sempre a mesma.`.

Pois bem: é aqui que os caminhos de Doce Lar e Como Perder um Homem em 10 Dias se separam. Enquanto o filme protagonizado por Reese Whiterspoon afunda graças a um roteiro pouco inspirado e com péssimos diálogos, esta nova produção estrelada por Kate Hudson e Matthew McConaughey aposta em um humor leve e numa premissa curiosa (a tal `embalagem` que citei acima) para prender o espectador. Aqui, Hudson interpreta Andie, a colunista de uma revista feminina que, certo dia, se propõe a escrever uma matéria sobre os principais erros que as mulheres cometem no início de seus relacionamentos, condenando-os ao fracasso. Para isso, ela decide conquistar um rapaz e, em apenas 10 dias, levá-lo a romper o namoro graças às suas estratégias. Para seu azar, no entanto, a garota escolhe Ben, um publicitário que acaba de se envolver em uma aposta com seu chefe: caso consiga manter um relacionamento por mais de 10 dias, ele poderá assumir a lucrativa conta de uma fabricante de jóias. Obviamente, o antagonismo dos objetivos dos dois dá início a uma série de confusões.

E é aí que reside o ponto forte do filme: baseado em um livro escrito por duas mulheres (Michele Alexander e Jeannie Long), o roteiro arranca gargalhadas ao submeter o mulherengo Ben a uma série de humilhações. E o que é melhor: compreendendo o mecanismo ideal da comédia (ao contrário de Recém-Casados, por exemplo), a história vai aumentando gradualmente os problemas do personagem, atingindo o auge do absurdo ao final do segundo ato: assim, inicialmente Andie faz pequenas maldades, como pedir que o namorado vá comprar refrigerante justamente nos minutos finais de um importante jogo de basquete; mas, com o decorrer dos dias (e como Ben insiste em manter o relacionamento), a moça vai se tornando mais `cruel`, chegando a batizar o pênis do namorado com o nome `Princesa Sofia`. Encontrando sempre novas formas de enlouquecer o rapaz (as quais não pretendo revelar, obviamente), Como Perder um Homem em 10 Dias não se repete, e – o que é sempre bom – não precisa apelar para piadas envolvendo quedas ou gases. Além disso, é interessante observar que o filme registra um fato do qual eu já suspeitava há algum tempo: fechando um curioso ciclo, o ótimo Sintonia de Amor vem assumindo lugar de destaque entre os grandes clássicos do gênero, repetindo a façanha retratada em sua própria trama, onde comentava o sucesso, entre as mulheres, de Tarde Demais para Esquecer.

Outra qualidade do roteiro (escrito por Kristen Buckley, Brian Regan e Burr Steers) é sua capacidade de desenvolver os personagens, levando o público a simpatizar com o casal de protagonistas - caso contrário, como poderíamos torcer por seu relacionamento? (Vide Recém-Casados, Doce Lar, Os Queridinhos da América, entre outros.) Ao mesmo tempo, o cineasta Donald Petrie (que já havia acertado em Miss Simpatia) demonstra conhecer o ritmo adequado da comédia, jamais permitindo que o filme se torne cansativo ou histérico demais. Para completar, o experiente compositor David Newman cria uma trilha sonora inspirada, misturando elementos cômicos e de terror, o que realça o inusitado da situação em que Ben se encontra.

Porém, nada disso funcionaria caso o casal principal falhasse em conquistar o espectador – mas Kate Hudson e Matthew McConaughey fazem um trabalho excepcional. Provando ter herdado o carisma e o jeitinho amalucado de sua mãe (a atriz Goldie Hawn), Hudson faz de Andie uma moça sofisticada, inteligente, sensível e determinada a provar seus argumentos, não se intimidando em submeter sua `cobaia` às suas cruéis experiências. Enquanto isso, McConaughey provoca o riso com suas reações de choque ao que está vivendo (como ao descobrir absorventes femininos em seu banheiro), apostando em gestos sutis que dão um claro indício do que lhe passa pela cabeça (como na cena em que, ao fazer um pequeno movimento com um telefone, deixa o público perceber seu contido desejo de agredir Andie). O curioso é que, ao contrário dos galãzinhos de Hollywood, o ator não procura criar um tipo `charmoso`: em vez disso, ele fala com a boca cheia de comida, insiste em botar a língua para fora enquanto conversa e usa o mesmo sotaque forte que já exibiu em Tempo de Matar (como é texano, este deve ser seu sotaque natural). Aliás, em vários momentos ele me fez lembrar dos trejeitos de Marlon Brando, o que não deixa de ser interessante (como já disse em várias ocasiões, Brando é meu ator favorito).

É uma pena que, em seu terceiro ato, Como Perder um Homem em 10 Dias desista da `embalagem` original e se entregue ao trivial (além disso, os roteiristas poderiam criar uma desculpa melhor para a aposta de Ben. É ridículo acreditar que um grande empresário seria capaz de decidir o destino de uma conta de 50 milhões de dólares a partir de um desafio bobo como este).

Apesar de tudo, estas falhas merecem nosso perdão, já que, pelo menos, o filme nos apresenta a personagens interessantes. Leve e divertida, esta produção serve como prova de que, mesmo carregada de clichês, uma comédia romântica pode funcionar muito bem.
``

25 de Abril de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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