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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
07/07/2006 19/05/2006 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
83 minuto(s)

Os Sem-Floresta
Over the Hedge

Dirigido por Tim Johnson e Karey Kirkpatrick. Com as vozes de Bruce Willis, Garry Shandling, Steve Carell, William Shatner, Nick Nolte, Eugene Levy, Catherine O’Hara, Thomas Haden Church, Wanda Sykes, Allison Janney, Avril Lavigne, Omid Djalili.

 

Divertido e protagonizado por uma galeria de personagens extremamente engraçadinhos, Os Sem-Floresta é uma animação despretensiosa que, eficiente do ponto de vista técnico, substitui a originalidade de obras como Formiguinhaz e Shrek (outros exemplares distribuídos pela mesma DreamWorks SGK) pela tentativa de provocar o riso fácil. E o mais importante: consegue.

           

Inspirado nas tiras criadas por Michael Fry e T. Lewis, o filme conta a história de RJ, um guaxinim solitário que entra numa terrível confusão ao tentar roubar o estoque de comida do ameaçador urso Vincent, resultando na destruição dos mantimentos. Apavorado, ele recebe o prazo de uma semana para reabastecer a caverna do urso, sob pena de ser devorado. Percebendo que não conseguirá realizar a tarefa sozinho, RJ decide convencer um bando de animais liderados pela tartaruga Verne a auxiliá-lo – e, para isso, apresenta-os ao mundo dos humanos (enquanto hibernavam, os bichos deixaram de testemunhar a destruição da maior parte da floresta, que cedeu lugar a um imenso condomínio fechado).  

           

Dirigido por Tim Johnson (do decepcionante Sinbad: A Lenda dos Sete Mares) e pelo estreante Karey Kirkpatrick, Os Sem-Floresta traz, como ponto forte, a divertida caracterização de seus personagens, desde o marsupial Ozzie (cuja especialidade é fingir-se de morto) até o gambá-fêmea Stella, cujo nome foi obviamente escolhido com o objetivo de permitir uma hilária referência a um dos gritos mais famosos da carreira de Marlon Brando (há também uma outra brincadeira envolvendo a palavra mais importante de Cidadão Kane). E se Verne acaba mostrando-se inicialmente não muito simpático (algo eventualmente corrigido pelo roteiro), RJ, com seus esquemas mal-intencionados, revela-se um anti-herói divertido e cativante.

           

Da mesma forma, a escolha do elenco de dubladores se mostra acertada: enquanto William Shatner confere uma dramaticidade hilária a Ozzie, Bruce Willis emprega seu inegável timing cômico para converter RJ em um daqueles canalhas que o público adora acompanhar (já Garry Shandling pouco pode fazer com Verne, que não oferece oportunidades muito claras de fazer humor). E se a voz cavernosa de Nick Nolte potencializa o aspecto ameaçador de Vincent, a cadência típica de Eugene Levy faz do porco-espinho Lou uma criatura insegura e sempre ansiosa para agradar – e entregar o papel de sua “esposa” a Catherine O’Hara é um toque simpático dos diretores, que, assim, recriam o divertido casal do brilhante Os Grandes Músicos, de Christopher Guest. Aliás, admito que gostei até mesmo da dublagem feita por Wanda Sykes, que empresta a Stella um nervosismo mais do que apropriado (e devo dizer que, normalmente, tenho verdadeiro pavor da gritaria sem graça da comediante).

           

Mas o grande astro de Os Sem-Floresta é mesmo o esquilinho Hammy, dublado com uma energia admirável por Steve Carell. Assim como outro esquilo que chegará aos cinemas brasileiros em 2006 (o do divertido Deu a Louca na Chapeuzinho), Hammy é uma criatura que parece estar sempre em velocidade avançada, falando aos saltos como se fosse incapaz de concluir um único raciocínio. De fato, sua atenção é tão dispersa que, em certo momento, RJ precisa utilizar uma caneta laser para mantê-lo focado em uma missão importante – e, exatamente como em Deu a Louca na Chapeuzinho, descobrimos a impressionante conseqüência de permitir que um animal naturalmente tão agitado beba algo contendo cafeína (neste caso, Os Sem-Floresta sai ganhando, pois nos mostra o mundo a partir do ponto de vista do esquilo, que, num dos instantes mais inspirados do longa, parece estar usando o relógio de Clockstoppers - O Filme).

           

Prejudicado por uma trilha que se limita a comentar as passagens do roteiro, Os Sem-Floresta volta a encantar em função de sua interessante crítica ao consumismo da sociedade moderna, retratando os humanos como criaturas que vivem basicamente para comer e gastar, investindo, entre outras coisas, em carros enormes e poluidores que são empregados para o transporte de uma única pessoa. Além disso, há também uma referência ácida ao conservadorismo de extrema-direita do Texas, que se orgulha de ser o Estado que mais executa prisioneiros em todos os Estados Unidos: em determinada cena, um exterminador de “pragas” comenta que inventou um item tão cruel que acabou sendo proibido em todos os Estados, com exceção de um – adivinhem qual?

           

Apesar de ter sido roteirizado por nada menos do que quatro pessoas (geralmente, um péssimo sinal), Os Sem-Floresta traz, ainda, alguns temas que podem render boas discussões com os pequenos que forem ao cinema, como a importância da convivência familiar e o perigo de se julgar alguém pela aparência. E é sempre interessante quando um programa divertido como este também oferece aos pais a oportunidade de conversar com os filhos sobre questões básicas, mas fundamentais na vida em sociedade.

Observação: Há uma cena adicional após os créditos finais.

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06 de Julho de 2006

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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