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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/03/2002 09/02/2001 1 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
90 minuto(s)

Direção

Dennis Dugan

Elenco

Amanda Peet , Jason Biggs , Jack Black , Steve Zahn , Amanda Detmer , Neil Diamond , R. Lee Ermey

Roteiro

Hank Nelken , Greg DePaul

Produção

Neal H. Moritz

Fotografia

Arthur Albert

Música

Michael Simpson

Montagem

Debra Neil-Fisher

Design de Produção

Michael S. Bolton

Figurino

Melissa Toth

Direção de Arte

James Steuart

Mulher Infernal
Saving Silverman

Dirigido por Dennis Dugan. Com: Amanda Peet, Jason Biggs, Jack Black, Steve Zahn, Amanda Detmer, Neil Diamond e R. Lee Ermey.

Mulher Infernal não é apenas uma comédia mal realizada e sem a menor graça. É, também, uma produção capaz de insultar a inteligência do espectador a todo momento, como se julgasse necessário ridicularizar ao máximo os infelizes que tiveram o azar de entrar no cinema acreditando que aquele poderia ser um bom passatempo. Basta dizer que, em certo momento, um personagem é atingido na perna por um dardo tranqüilizante e começa a mancar – mas não antes de informar ao espectador: `Perna dormente!`. É, ninguém teria percebido.

Neste filme, Jason Biggs interpreta Darren, um sujeito sem sorte no amor que, certo dia, se envolve com uma bela mulher (Peet) depois de conhecê-la em um bar. Para sua infelicidade, porém, Judith (a tal garota) o proíbe de manter contato com seus dois melhores amigos, J.D. (Black) e Wayne (Zahn), com os quais Darren compartilha uma obsessão doentia pelo cantor Neil Diamond. Revoltados com a atitude da moça, J.D. e Wayne resolvem fazer de tudo para separá-la do companheiro – nem que, para isso, precisem raptá-la, simular sua morte e aproximar Darren de sua antiga paixão, Sandy (Detmer), que está prestes a se tornar freira.

Escrito por Hank Nelken e Greg DePaul, o roteiro desta `comédia` já começa a mostrar suas inúmeras falhas em um ponto crucial: por mais que tente retratar Judith como uma mulher demoníaca, não consegue evitar que o espectador concorde, em certo grau, com o julgamento que esta faz dos amigos de Darren: J.D. e Wayne são realmente indivíduos insuportáveis, capazes de irritar qualquer pessoa normal. Por outro lado, Darren também é um sujeito extremamente aborrecido, o que nos leva a questionar o porquê dos outros dois insistirem em tê-lo como amigo – o que, aliás, nos conduz a outro mistério: por que uma mulher belíssima e bem-sucedida profissionalmente gostaria de se casar (mesmo sendo neurótica) com um sujeito fracassado e sem perspectivas de crescimento pessoal? O filme jamais se preocupa em esclarecer este ponto.

Aliás, chega a ser inacreditável que os executivos da Columbia Pictures tenham realmente concordado em produzir este roteiro. Qual é a noção que estes indivíduos têm sobre `senso de humor`? Em suas desesperadas tentativas de provocar o riso, Mulher Infernal consegue tornar-se apenas ridículo, como ao retratar o irmão de Sandy como um `menino-lobo` (`Ele contraiu raiva e pensamos que teríamos de sacrificá-lo`, diz a garota) ou ao criar situações incrivelmente forçadas para inserir uma gague visual pouco inspirada (como aquela em que Darren leva vários choques enquanto dança com a `quase freira`). Isso para não mencionar a `hilária` idéia de retratar irmãs de caridade malhando em uma academia.

Aliás, o roteiro não consegue sequer ser original, como na cena em que plagia descaradamente a luta entre Ben Stiller e um cãozinho, vista em Quem Vai Ficar com Mary? (aqui, a vítima é um guaxinim). E o que dizer da inspirada frase dita por Jason Biggs ao levar o fora de uma garota, `Nunca vou achar a mulher ideal`? E se ainda não consegui convencê-lo(a) do desleixo com que este pseudo-script foi escrito, deixe-me dar um último exemplo: em certo momento, J.D. e Wayne recebem a visita de seu antigo treinador, vivido por R. Lee Ermey, e se apavoram enquanto tentam evitar que este detecte a presença de Judith, presa no porão – sendo que, apenas algumas cenas antes, eles haviam justamente confessado o seqüestro para o sujeito.

Ah, sim, eu realmente disse R. Lee Ermey no último parágrafo: o inesquecível sargento Hartman de Nascido para Matar aparece em Mulher Infernal como um treinador de futebol americano que é preso depois de matar um árbitro. A única explicação que posso encontrar para a presença do ator neste filme: ele devia estar passando fome e precisava desesperadamente do dinheiro – só isso poderia justificar sua disposição de se submeter às situações humilhantes que seu personagem protagoniza aqui (outro que deve estar falido é o cantor Neil Diamond, que interpreta a si mesmo no filme).

A boa notícia (para Diamond e Ermey, bem entendido) é que eles não estão sozinhos: praticamente todo o elenco de Mulher Infernal se sujeita ao ridículo em algum momento da história – e todos estão igualmente ruins em seus papéis. Amanda Peet, em vez de aproveitar o sucesso de seu desempenho em Meu Vizinho Mafioso, tenta destruir a própria carreira como a personagem-título; Jason Biggs prova mais uma vez que só funciona em American Pie; e Steve Zahn repete pela enésima vez o tipo `doidão` que utilizou em Irresistível Paixão e Perseguição (mas, desta vez, sem êxito). Na verdade, o único que consegue se salvar (milagrosamente, diga-se de passagem) é Jack Black, responsável pelas poucas risadas presentes no filme (a seqüência em que ele invade a casa de Judith é um bom exemplo de seu carisma indestrutível).

Dirigido com espetacular incompetência por Dennis Dugan, que já provara sua falta de talento em O Paizão e Um Ninja da Pesada, este Mulher Infernal ainda oferece ao espectador um desfecho completamente absurdo e mal resolvido.

Bom, ao menos o filme se manteve coerente em sua mediocridade até o fim.
``

2 de Março de 2002

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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