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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
28/06/2002 21/06/2002 3 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
85 minuto(s)

Lilo e Stitch
Lilo and Stitch

Dirigido por Chris Sanders e Dean Deblois. Com as vozes de Tia Carrere, Jason Scott Lee, Daveigh Chase, Kevin McDonald e Ving Rhames.

Lilo & Stitch é a confirmação de que a Disney resolveu mesmo abandonar (temporariamente, pelo menos) o estilo épico de seus longas animados, substituindo produções grandiosas como A Bela e a Fera, O Rei Leão e Mulan por leves aventuras com toques cômicos, como A Nova Onda do Imperador e Atlantis: O Reino Perdido (não estou levando em consideração os filmes realizados pela Pixar, que são apenas distribuídos pela empresa simbolizada por Mickey Mouse).

Infelizmente, esta simplificação nas tramas e na dimensão dos projetos tem sido acompanhada por uma diminuição na qualidade da própria animação. Não me interpretem mal: a Disney continua a liderar o gênero, mas não há como ignorar o fato de que o design de produção de Lilo & Stitch é bastante inferior ao de O Corcunda de Notre Dame, por exemplo – e por mais divertido que A Nova Onda do Imperador seja, seus traços angulosos não são páreo para o rebuscamento visual de Aladdin.

Dirigido por Chris Sanders e Dean Deblois, este novo filme Disney é estrelado por Stitch, um alienígena azul (criado por um cientista maluco) cujo único objetivo é destruir tudo o que vê. Aprisionado por um conselho intergaláctico, ele foge e cai na Terra, sendo adotado por Lilo, uma garotinha havaiana que o confunde com um cachorrinho. Enquanto é perseguido pelo cientista e por um outro alien atrapalhado, Stitch cria inúmeras confusões que podem levar sua nova dona a ser afastada da irmã, já que um assistente social está investigando as condições em que Lilo é criada.

Aliás, o relacionamento entre a menina e sua irmã, a explosiva Nani, é um dos pontos fortes do filme: ainda que se amem profundamente, elas discutem o tempo todo, tornando-se (ao lado da órfã Penny, de Bernardo e Bianca) duas das personagens mais dramáticas (e reais) já criadas pelos animadores da Disney. Por outro lado, Lilo também executa bem a função de `criança engraçadinha`, já que algumas de suas tiradas são realmente divertidas – e sua `química` com Stitch é perfeita.

E por falar no alienígena, este consegue a proeza de se tornar uma figura infinitamente mais descontrolada do que o gênio dublado por Robin Williams em Aladdin ou do que o dragão Mushu (que tem a voz de Eddie Murphy) de Mulan – e tudo isso sem dizer uma única palavra, já que Stitch emite apenas uma série de sons ininteligíveis (infelizmente, quando `aprende` a falar, o personagem diz apenas frases piegas que visam a arrancar lágrimas do público, o que é decepcionante). Para realçar o lado rebelde da criatura, Sanders e Dublois embalam a história ao ritmo de Elvis Presley, que se torna presença recorrente no filme, ajudando a estabelecer a personalidade do pequeno alien – o que se revela uma decisão acertada.

Portanto, é realmente uma pena que, a partir de certo momento, os cineastas resolvam trocar a anarquia de Stitch pelo melodrama, conferindo maior destaque à subtrama envolvendo a iminente separação de Nani e Lilo e esquecendo os hábitos predadores do personagem. Com isso, outro problema acaba surgindo: o terceiro ato de Lilo & Stitch envolve um falatório sem fim (repleto de lições de moral), o que pode inquietar as crianças mais jovens da platéia. Para piorar, as gags físicas são pouco inspiradas, reciclando velhos clichês do gênero: em certo momento, por exemplo, o pesado cientista Jumba desce de um galho que compartilhava com o magrelo Pleakley, arremessando-o a uma grande distância (esta mesma piadinha apareceu recentemente em Shrek e A Era do Gelo – e já não era novidade).

Com relação à versão em português (algo que sempre faço questão de citar quando escrevo sobre animações), o trabalho dos dubladores é irrepreensível – especialmente o da atriz que empresta sua voz à garotinha Lilo (e cujo nome não consegui descobrir, infelizmente). No entanto, sou obrigado a fazer uma ressalva à adaptação da história: utilizar expressões abrasileiradas como `Tô ligado!` e `Na moral!` é algo perfeitamente compreensível e eficaz. Porém, o mesmo não pode ser dito sobre a estúpida decisão de se alterar a geografia do filme, obrigando Lilo a citar (entre outras coisas) a ponte Rio-Niterói – algo que fica ainda mais incompreensível quando consideramos que alguns personagens insistem em conversar com um forte sotaque gaúcho, utilizando até mesmo expressões como `tche` e ``. Aliás, por que tentar situar a história em nosso país? Será que os tradutores acreditaram que o público brasileiro seria burro a ponto de ignorar os sarongues e até mesmo o mapa que revela que a nave de Stitch caiu no Havaí? Este tipo de alteração não apenas é perfeitamente dispensável, como também é um desrespeito ao próprio filme, tornando-se tão irritante quanto o `Gracinha!` e o `Porca miséria!` ditos por Hebe Camargo e Nair Bello na versão brasileira de Dinossauro.

Apesar disso, Lilo & Stitch ainda consegue se tornar um passatempo aceitável. Não encanta como O Rei Leão nem diverte como A Nova Onda do Imperador, mas ao menos não cansa como Atlantis: O Reino Perdido. Seja como for, uma coisa é certa: a Disney está se tornando cada vez mais negligente com relação às suas animações. A diferença é que, ao contrário do que acontecia há 20 anos, ela agora possui fortes concorrentes – que o digam a DreamWorks e a Fox.
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28 de Junho de 2002

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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