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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
16/06/1969 30/07/1969 4 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
113 minuto(s)

Direção

John Schlesinger

Elenco

Jon Voight , Dustin Hoffman , Sylvia Miles , Brenda Vaccaro , Barnard Hughes

Roteiro

Waldo Salt

Produção

Jerome Hellman

Fotografia

Adam Holender

Música

John Barry

Montagem

Hugh A. Robertson

Design de Produção

John Robert Lloyd

Figurino

Ann Roth

Perdidos na Noite
Midnight Cowboy

Dirigido por John Schlesinger. Com Jon Voight, Dustin Hoffman, Sylvia Miles, Brenda Vaccaro, Barnard Hughes.

A edição de Assassinos por Natureza, de Oliver Stone, tem sido considerada uma das grandes responsáveis pelo sucesso do filme. Inventiva, ágil, alucinante, original - estes são alguns dos adjetivos aplicados a ela. Concordo com quase todos - exceto com o `original`. Vários filmes anteriores a NBK (a sigla para Natural Born Killers, o título original de Assassinos...) já utilizaram a técnica de intercalar tomadas feitas em Super 8 com outras em 35mm, preto-e-branco e coloridas, e por aí afora. Um exemplo é este magnífico Perdidos na Noite.

A história, que pode não parecer atraente à primeira vista, é a seguinte: Joe Buck (Voight) é um rapaz que resolve se mudar para Nova York a fim de fazer michê. No entanto, ao chegar na cidade grande, percebe que nem tudo é tão fácil quanto parecia à primeira vista, e ele custa a conseguir sua primeira `cliente`. Quando finalmente consegue, tudo sai errado: ela fica magoada ao descobrir que ele é um garoto de programa e, depois de uma crise de choro, acaba pedindo 20 dólares emprestados para o ingênuo rapaz. É então que ele conhece Enrico `Ratso` Rizzo (Hoffman), um mendigo aleijado que consegue roubar-lhe mais 20 dólares.

Buck afunda de vez: sem dinheiro, acaba sendo expulso do hotel em que estava hospedado e, já desesperado, aceita um `cliente` homossexual - um forte golpe para o conceito de `machão` que tem de si mesmo. Mas novamente tudo sai errado: o assustado rapaz não tem dinheiro para pagar a pequena sessão de sexo oral. Buck reencontra, então, o mendigo Ratso e, ao contrário do esperado, torna-se seu amigo e vai dividir um `quarto` com ele em um edifício abandonado.

Sim, eu sei. Isso não soa nem um pouco como um filme capaz de arrebatar o Oscar de Melhor Filme. Na verdade, Perdidos na Noite foi o único filme considerado X-rated pela censura americana que já ganhou este prêmio. Mas isto em 69. Hoje em dia, provavelmente seria considerado como `censura 14 anos`.

Mas Perdidos... não é um filme sobre sexo. É antes um mergulho nos recantos mais sombrios das grandes cidades: o obscuro universo da pobreza e da mendicância. Ratso é um sobrevivente deste mundo. Quando Buck, depois de ganhar algum dinheiro doando sangue, compra certos itens (não me lembro quais no momento) para Ratso, este diz: `Por que não me disse que queria isso? Eu teria roubado para você`. Viver não é tarefa fácil para estes homens.

Ambas as interpretações são pequenas obras-de-arte. Hoffman, como Enrico Rizzo, brilha com sua voz anasalada, seu andar trôpego e seus olhares sonhadores (a cena em que ele sonha acordado com uma nova vida na Flórida é maravilhosamente comovente). E Voight, como Buck, também acha o tom perfeito: uma mistura de ingenuidade com amarga dureza adquirida durante as experiências na grande cidade. A transição de Buck - de um inofensivo caipira a um agressivo `quase-marginal` - é narrada com tamanha destreza que, quando nos damos conta dela, já ocorreu.

Sylvia Miles, que interpreta a primeira cliente de Buck em Nova York tem uma aparição rápida, porém forte. É tão intensa sua interpretação que Miles foi indicada ao Oscar de Atriz Coadjuvante por seus menos de 10 minutos de participação no filme.

O problema é que, em alguns poucos momentos, a narrativa fica um pouco lenta. Em outros, ligeiramente confusa (como os flashbacks que revelam um pouco do passado de Buck). Fora isso, Perdidos na Noite é um filme exemplar que deve ser visto por todos aqueles que apreciam o bom cinema.
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21 de Janeiro de 1997

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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