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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
10/11/2000 16/06/2000 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
99 minuto(s)

Shaft (2000)
Shaft

Dirigido por John Singleton. Com: Samuel L. Jackson, Christian Bale, Vanessa Williams, Dan Hedaya, Busta Rhymes, Toni Collette, Philip Bosco, Jeffrey Wright e Richard Roundtree.

Shaft é um filme de `machos`. E, quando digo isso, não tenho a menor intenção de soar sexista ou de sugerir que apenas os homens deveriam assistir a este filme. A verdade, pura e simplesmente, é que esta refilmagem de um dos ícones do gênero blaxploitation, parte essencial da cultura cinematográfica americana nos anos 70, é povoada de personagens que agem de forma instintivamente - por que não dizer? - viril. Aliás, como poderia ser diferente? Afinal de contas, o Shaft original (interpretado por Richard Roundtree, que faz uma pequena participação nesta nova versão) era conhecido por `satisfazer todas as mulheres`.

Desta vez, o policial que `sempre consegue tudo` é interpretado por Samuel L. Jackson, que vive o sobrinho do veterano dos anos 70. Quando o filme tem início, Shaft (o novo) está chegando ao local em que um jovem negro foi assassinado. Logo, o detetive prende o responsável pelo crime, Walter Wade Jr. (Christian Bale): um rapaz racista (e milionário) que não demonstra sentir o menor remorso pelo que fez. Para desespero da família da vítima, no entanto, o assassino é solto depois de pagar a fiança e foge para o exterior. Dois anos se passam. Ainda revoltado com o que aconteceu, Shaft descobre que Wade está retornando aos Estados Unidos e o prende novamente. Infelizmente, outra fiança é estabelecida e o rapaz, agora em liberdade, decide matar a única testemunha de seu crime - e caberá a Shaft encontrá-la e defendê-la.

Apesar do roteiro sem imaginação e repleto de clichês, Shaft acaba tornando-se um filme digno de nota graças ao carisma do personagem-título: um policial cínico e mal-humorado que é capaz de tudo para alcançar seus objetivos (aliás, se Dirty Harry e Shaft não tivessem surgido no mesmo ano, seria fácil acusar um ou outro de plágio). A verdade é que, hoje em dia, os policiais do cinema sempre possuem um lado sensível, antenado ao clima politicamente correto dos anos 90. Assim, não deixa de ser curioso ver o ressurgimento de um `justiceiro` que faria Charles Bronson ficar orgulhoso. Tomemos, como exemplo, a cena em que Shaft é perseguido por um bando de assassinos: em certo momento, um deles coloca a cabeça para fora de uma janela e é surpreendido pelo herói, que está escondido na saída de emergência do prédio. Se estivéssemos lidando com um policial `moderno`, este acertaria a cabeça do bandido, nocauteando-o. Já Shaft simplesmente atira na cabeça do sujeito, à queima-roupa, e continua a fugir. Com ele, não há nada de `Você tem o direito de permanecer em silêncio...`.

Shaft manteve, portanto, o mesmo ar de `ícone` que estabeleceu na década de 70. A própria apresentação do filme estabelece este fato ao introduzir o policial em uma seqüência de créditos iniciais que lembra claramente as aberturas da série James Bond (algo ainda mais enfatizado pelo contagiante tema musical criado por Isaac Hayes - e reaproveitado, nesta nova versão, pelo compositor David Arnold). `Eu posso te prender, mas nunca vou te desapontar`, ouvimos o personagem dizer, tendo, ao fundo, o tema original.

E não há como negar que Samuel L. Jackson foi a escolha perfeita para reviver o mito: não há ator em Hollywood que possua olhar mais ameaçador do que o dele. Ao longo do filme, ele se faz entender em diversas ocasiões apenas através da expressão de seus olhos - e o espectador também sente a ameaça (aliás, praticamente todos os personagens de Shaft se comunicam, em um momento ou outro, através do olhar, o que não deixa de ser curioso). Jackson consegue encarnar com perfeição a personalidade explosiva do personagem, além de sua brutal determinação.

Por outro lado, Christian Bale (o garotinho do excepcional O Império do Sol) assume com competência o papel de vilão, salvando um personagem que, é preciso dizer, foi concebido pelos roteiristas de maneira extremamente estereotipada. Aliás, o mesmo pode ser dito de Jeffrey Wright, que transforma o traficante Peoples Hernandez em um personagem absolutamente fascinante (e que me lembrou enormemente do `Benny Blanco, do Bronx` vivido por John Leguizamo em O Pagamento Final). Alguns dos melhores momentos do filme acontecem, justamente, nas cenas em que os dois vilões aparecem juntos.

É claro que, na vida real, um policial como Shaft seria algo de se temer: afinal de contas, ele não hesita em atirar em qualquer um que lhe pareça ameaçador. Se no filme somos levados a compreender suas atitudes (já que sabemos que ele está atirando nos bandidos), na vida real provavelmente condenaríamos seu comportamento - e é claro que ele acabaria matando alguém inocente, eventualmente. Mesmo assim, Shaft força um pouco a barra ao fazer apologia da teoria sobre `fazer justiça com as próprias mãos` - algo enfatizado (e aprovado pelo personagem através de um discreto sorriso) em um dos momentos finais da trama.

Se não revoluciona o gênero com suas batidas cenas de ação, Shaft consegue, ao menos, resgatar um personagem interessante que, certamente, terá oportunidades futuras de provar seu valor. Afinal de contas, Samuel L. Jackson já merecia ter sido presenteado com uma série há um bom tempo e Shaft é, sem dúvida, `o máximo`!
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18 de Novembro de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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