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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
23/02/1996 23/02/1996 4 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
108 minuto(s)

Direção

Stephen Frears

Elenco

Julia Roberts , John Malkovich , Glenn Close

Roteiro

Christopher Hampton

Produção

Norma Heyman

Fotografia

Philippe Rousselot

Música

George Fenton

Montagem

Lesley Walker

Design de Produção

Stuart Craig

Figurino

Consolata Boyle

Direção de Arte

John King

O Segredo de Mary Reilly
Mary Reilly

Dirigido por Stephen Frears. Com Julia Roberts, John Malkovich, Glenn Close.

O Segredo de Mary Reilly é mais uma versão para a já mais do que conhecida história de Robert Louis Stevenson, O Médico e o Monstro. A inovação reside no fato de que, agora, o roteiro gira em torno da criada do Dr. Jekyll, a Mary Reilly do título, e é narrado a partir do ponto-de-vista desta.

Mary Reilly é uma garota de origem humilde, marcada por um passado violento. Seu pai costumava espancá-la e, certa vez, chegou a trancá-la em um pequeno armário junto com ratos. Quando ela começa a trabalhar na casa de Jekyll, este fica bastante interessado nas profundas cicatrizes que a moça exibe no pescoço e nos braços. Ele indaga sobre a origem das cicatrizes, e ela prefere não responder. Ele não desiste. Em outras ocasiões, volta a perguntar e, enfim, obtém uma resposta. Reilly conta sobre sua infância, sobre o pai e sobre como sua mãe a levou para longe dele. E, então, Jekyll pergunta se ela odeia o pai. E a resposta o surpreende: `Não`.

A partir daí, Jekyll se torna atraído pela garota, sua atração vindo de uma necessidade de ser aceito. E se tem alguém que pode aceitá-lo e ao seu `segredo`, este alguém é Mary Reilly. Ele passa a exigir a presença dela ao seu lado por um tempo cada vez maior. Isso deixa o mordomo Poole enciumado. De onde vem a simpatia de seu patrão por aquela moça vulgar? Ele não entende. E nem Reilly. Mas isso não importa. Ela também está atraída pelo Dr. Jekyll.

É quando o médico anuncia para os empregados que contratou um novo assistente, um tal Mr. Hyde, que deve ter acesso livre à casa e ao laboratório. Jekyll pede que Reilly leve um bilhete até a casa de uma certa Mrs. Farraday, que logo descobrimos ser a cafetina de uma `pensão de mulheres`. Ele quer que a mulher hospede Hyde em um de seus quartos, e ela aceita, somente para se arrepender mais tarde.

Hyde, todos já sabem, é o alter-ego de Jekyll. É um lado mais sombrio e cruel do médico, e que é liberado a partir de uma fórmula por este desenvolvida. Reilly logo tem seu primeiro encontro com Hyde, e fica perturbada pela bizarra personalidade do homem.

A partir daí o filme mostra os encontros e desencontros entre Reilly e as duas personalidades contrastantes de seu patrão, e o efeito que ambas causam na moça. Por Jekyll ela passa a nutrir um carinho cada vez maior, enquanto que por Hyde, uma quase repulsa, associada a um estranho fascínio. Em certas ocasiões ela chega mesmo a defendê-lo, sem saber explicar o porquê.

O Segredo de Mary Reilly é um filme intrigante. O espectador é levado, com Mary Reilly, a descobrir pouco a pouco a verdade sobre o Dr. Jekyll, acompanhando os acontecimentos juntamente com a moça à medida em que eles acontecem. O clima sombrio, mergulhado em escuridão e nas névoas inglesas, contribui, e muito, para que nos sintamos enclausurados, sufocados. Mas não se trata de um filme de terror. É um quase drama sobre as descobertas, decepções e, é claro, os medos da personagem-título. Eu digo `quase` porque o filme falha, como drama, em um importante ponto - talvez o mais importante: o amor de Reilly por Jekyll não é colocado de uma forma convincente. É difícil compreender porque alguém se apaixonaria por aquele homem tão contido, com sua voz sempre baixa e entediada. E assim, consequentemente, fica impossível para o espectador se importar com o sofrimento de Reilly com relação a este amor.

Roberts empresta à Mary Reilly uma personalidade tímida, sofrida e humilde. E, no entanto, capaz de discutir coisas tão complexas quanto ódio e amor-próprio. Aliás, este é um dos pontos destoantes do filme. Chega a ser impossível acreditar que Reilly fosse capaz de responder perguntas do tipo: `Você tem medo de si mesma?`. Enquanto a resposta mais adequada à personagem seria: `Como assim?`, ela responde `Sim` e segue adiante.

Malkovich está perfeito, como sempre. Este é, sem dúvida, um dos melhores atores de Hollywood. Ele dispensa qualquer tipo de efeitos especiais ou maquiagens elaboradas. Para diferencias as duas personas de seu personagem, ele só precisa de um ralo cavanhaque (que Jekyll tem, enquanto Hyde não) e cabelos um pouco mais compridos (que Hyde tem, enquanto Jekyll não). O resto é pura interpretação. Glenn Close também está exuberante como a prostituta Mrs. Farraday. Sua voz forte e seus movimentos bruscos são mais do que adequados. Não espanta que Stephen Frears tenha reunido Malkovich e Close novamente, depois de trabalhar com os dois em Ligações Perigosas.

Um último comentário: O Segredo de Mary Reilly não é um filme movimentado. A maior parte da ação transcorre na alma dos personagens, podemos dizer. Isso é especialmente verdade sobre o Dr. Jekyll, cabe acrescentar. Aliás, o ótimo efeito especial da transformação de Jekyll em Hyde foi extremamente feliz ao unir arte e tecnologia. É principalmente naquele momento que podemos perceber a luta entre estas duas fortes personalidades. E é graças a esta `intensa` ação que este filme, apesar de um pouco cansativo em certos momentos, merece ser visto.
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10 de Janeiro de 1997

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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