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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
16/08/1991 16/08/1991 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
122 minuto(s)

Um Golpe do Destino
The Doctor

Dirigido por Randa Haines. Com: William Hurt, Christine Lahti, Elizabeth Perkins, Mandy Patinkin, Adam Arkin, Wendy Crewson.

The Doctor é um filme que fala sobre as pessoas e sobre os médicos. Sim, estou traçando uma linha divisória entre o Médico e as Pessoas. Não há nisso nenhum tipo de arrogância ou de desprezo. Há, simplesmente, a constatação do fato de que as pessoas reagem de maneira diferente quando estão em frente a um médico: aquele homem (ou mulher) é o arauto das boas ou das más notícias. Assim sendo, é praticamente impossível encará-lo(a) com indiferença.

Porém, essa linha divisória torna o médico ainda mais responsável por suas atitudes. Afinal, ele está lidando com o bem mais precioso que alguém pode ter: a vida. Neste filme, William Hurt interpreta um médico solitário, egoísta e indiferente que se refere a seus pacientes como números em um papel ou como leitos de hospital. Ou, ainda pior: que os designa pela enfermidade que os acomete. Isso até que um dia ele, que já vinha ignorando uma tossezinha incômoda, cospe sangue. E descobre que tem um câncer na garganta.

Depois de atravessar a tênue linha Paciente/Médico, o Dr. Jack (Hurt) passa a conhecer o outro lado da moeda. Como é enfrentar a burocracia e a indiferença dos médicos. O que é esperar por horas o resultado de um exame ou por uma consulta na qual será informado sobre o andamento de seu tratamento. O que significa ser apenas um número em um papel.

Aos poucos, seu comportamento com seus próprios pacientes vai mudando e ele descobre, para sua própria surpresa, que se importa com eles. Que se preocupa. Que eles são pessoas.

The Doctor é um filme com o qual é fácil se identificar. Todos nós já precisamos de um médico e já experimentamos a angústia de estarmos, de um modo ou de outro, à mercê daquela pessoa.

Mas o roteiro peca por seu um pouco maniqueísta, às vezes. Afinal, não é uma grande felicidade que a médica que passa a atender o Dr. Jack seja, na verdade, igualzinha a ele? (Ou, pelo menos, ao que ele era?) E se fosse o contrário? E se ela fosse uma médica intensamente envolvida com seus pacientes? Será que ele se daria conta, do mesmo jeito, de como é importante ser tratado como pessoa? Ou ele iria considerar que a médica o estava tratando de maneira igualitária apenas por deferência profissional? A cena na qual o Dr. Jack dá uma `lição` em seus residentes é, também, forçada demais. Naquele momento é fundamental se concentrar na lição em si, e não nos meios utilizados.

The Doctor é um filme importante. É um atestado, um tapa de luva na cara dos profissionais da saúde que, não raro, se tornam tão cheios de si que não têm mais espaço para ninguém. Um filme que deveria ser assistido por todos os profissionais da área de Saúde (da qual fiz parte há vários anos).

Me lembrei, agora, de uma cena do filme, na qual o Dr. Jack está sendo conduzido para sala de operações, em uma maca, e os médicos que irão operá-lo estão discutindo detalhes técnicos da cirurgia. Finalmente, ele resolve intervir e participar da discussão, o que leva todos a olharem para ele com ar espantado. E ele diz: `Sim, tem uma pessoa aqui.`

É isso que nós precisamos nos lembrar sempre. Que tem uma pessoa ali. Uma pessoa.
``

4 de Maio de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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