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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
12/04/2001 12/01/2001 5 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
136 minuto(s)

Direção

Gus Van Sant

Elenco

Rob Brown , Sean Connery , Matt Damon , Anna Paquin , Busta Rhymes , April Grace , F. Murray Abraham

Roteiro

Mike Rich

Produção

Sean Connery

Fotografia

Harris Savides

Montagem

Valdís Óskarsdóttir

Design de Produção

Jane Musky

Figurino

Ann Roth

Direção de Arte

Robert Guerra

Encontrando Forrester
Finding Forrester

Dirigido por Gus Van Sant. Com: Sean Connery, Rob Brown, Anna Paquin, Busta Rhymes, April Grayce e F. Murray Abraham.

Ao menos três grandes atuações foram ignoradas pela Academia no Oscar 2001: as de Michael Douglas, Sean Connery e Rob Brown. Curiosamente, todas as três dizem respeito a personagens com uma grande paixão em comum: a arte de escrever. No ótimo Garotos Incríveis, Douglas interpretava um professor de literatura que, depois de lançar um aclamado livro de estréia, não conseguia terminar seu segundo trabalho em função de sua incapacidade de `fazer escolhas` ao colocar sua idéias no papel (o que resultava em um livro de extensão `épica`, com mais de duas mil páginas).

Já em Encontrando Forrester, somos apresentados a dois indivíduos com personalidades completamente diferentes entre si, mas com talento único para a escrita: Jamal Wallace (Brown), um garoto de 16 anos que, nascido e criado no Bronx, nunca teve muitas oportunidades na vida, apesar de sua paixão (e talento) pela literatura; e William Forrester (Connery), cujo livro de estréia (assim como o de Douglas em Garotos Incríveis) tornou-se um clássico instantâneo, e que resolveu parar de escrever justamente em função da dimensão alcançada por sua obra. Quando estes dois indivíduos se encontram, uma interessante amizade surge e o veterano escritor resolve guiar seu `pupilo` através do inferno que o simples ato de redigir um texto pode se tornar (em contraponto ao sentimento celestial de se concluir satisfatoriamente este mesmo texto).

Na verdade, a grande diferença entre Garotos Incríveis e Encontrando Forrester reside no fato de que o primeiro traduzia a paixão pela simples criação literária, ao passo em que este último centraliza-se no ato da escrita em si. Neste sentido, o autor vivido por Connery é fascinante, já que suas lições são realmente valiosas: em certo momento (só para citar um exemplo), ele percebe que Jamal está com dificuldades para iniciar um texto e dispara o seguinte conselho: `Não pense antes de começar a escrever. Isso vem depois, durante a revisão` (e acreditem-me quando digo que aprendi esta lição da forma mais difícil, já quem nem todos têm a sorte de encontrar um mestre como Forrester).

Aliás, a relação `mestre-aprendiz` ilustrada neste filme é belíssima, nada deixando a desejar a obras como O Despertar de Rita, Sociedade dos Poetas Mortos (ambos sobre o universo literário) e Karatê Kid - A Hora da Verdade (sim, sou fã confesso do sr. Miyagi). Além disso, o filme aborda outros temas interessantes, como a superficialidade das aparências (Jamal comporta-se de maneira completamente diferente quando encontra-se com seus amigos; o choque de classes; o racismo e romances inter-raciais (é impressionante observar que pouca coisa mudou desde Adivinhe Quem Vem para Jantar? - ao menos em Hollywood). É verdade que nenhum destes temas recebe tratamento muito aprofundado, mas ao menos servem para conferir maior complexidade ao universo do jovem aspirante a escritor.

Mas é claro que nada disso adiantaria caso o ator inadequado fosse escolhido para o papel de `pupilo` (basta constatar que a maior fraqueza de Garotos Incríveis reside justamente na monocórdia atuação de Tobey Maguire). Assim, o estreante Rob Brown revela-se uma grata surpresa, já que consegue a proeza de tornar seu personagem vulnerável e confiante ao mesmo tempo. Além disso, ele realmente cativa o espectador, que torce para que tudo dê certo para Jamal. Em contrapartida, F. Murray Abraham repete, ao menos em parte, seu trabalho em Amadeus, já que o professor vivido por ele em Encontrando Forrester poderia perfeitamente ser descrito como um `Salieri da literatura`: um sujeito cuja sensibilidade para a arte equivale-se ao seu rancor (associado à admiração) por aqueles que a praticam com maestria.

Enquanto isso, Sean Connery nos oferece um dos melhores desempenhos de sua carreira ao criar um personagem misterioso e inteligente que, apesar de sua aparente segurança, sente-se incapaz de lidar com a repercussão gerada por sua obra (outra referência me vem à mente: o Terence Mann interpretado por James Earl Jones em Campo dos Sonhos). Através de pequenos atos, como acertar o alinhamento dos livros em sua estante, Connery cria um indivíduo real e complexo, estabelecendo imediata empatia com o espectador através de suas observações precisas (e ácidas).

Apesar de todas as suas virtudes, Encontrando Forrester acaba entregando-se a alguns clichês em seus momentos finais, o que enfraquece um pouco a conclusão da história - falha que o personagem-título certamente se encarregaria de corrigir antes de digitar - energicamente, claro - a versão final do roteiro.
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3 de Maio de 2001

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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