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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
09/10/1998 05/06/1998 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
107 minuto(s)

Um Crime Perfeito
A Perfect Murder

Dirigido por Andrew Davis. Com: Michael Douglas, Gwyneth Paltrow, Viggo Mortensen, David Suchet, Sarita Choudhury, Constance Towers.

Refilmar uma história cuja versão original foi dirigida por Alfred Hitchcock não é um trabalho fácil. Disque M Para Matar é, afinal de contas, um típico exemplar da obra do Mestre do Suspense: é tenso, inteligente e envolve dinheiro, crueldade e assassinato. Levando-se em conta que a comparação é inevitável, é preciso muita coragem para encarar um projeto desses. E até que o diretor Andrew Davis não se saiu mal. Na verdade, seu filme chega a surpreender.

Antes de mais nada, é preciso que se deixe claro que Um Crime Perfeito é uma adaptação e não apenas uma refilmagem. Aqui, Michael Douglas interpreta Steven Taylor, um milionário cuja esposa (Paltrow) o trai com um pintor sem dinheiro (Mortensen). Sempre calculista, Steven procura o amante de sua esposa e resolve obrigá-lo a matar sua mulher, sob pena de revelar sua verdadeira identidade: um ex-condenado que está sendo procurado pela polícia. Depois de bolar aquele que considera um plano perfeito para assassinar a esposa, Steven é pego de surpresa quando algo sai errado. A partir daí, um jogo de gato-e-rato tem início entre os principais envolvidos na história.

Aliás, é justamente este `jogo` que torna o filme tão envolvente. O roteiro de Patrick Smith Kelly acerta ao apostar na inteligência de seus personagens. Assim, ao invés de sermos `brindados` com as velhas cenas de perseguição e tiroteios, somos apresentados a uma série de situações intrigantes, onde cada um dos personagens tentará se sobrepor aos demais. Neste aspecto, o filme não para: a todo o momento uma reviravolta tem lugar, obrigando os envolvidos a reverem suas posições a fim de não saírem prejudicados.

No entanto, apesar do bom roteiro, o principal motivo para se ver este filme é a atuação de Michael Douglas. Apesar de estar, na verdade, revisitando o personagem que viveu em Wall Street, o ganancioso Gordon Gekko, Douglas consegue criar uma empatia instantânea com o público. Eu, particularmente, me surpreendi torcendo por ele durante todo o filme. Seu Steven Taylor é um homem inescrupuloso e cruel, sim, mas não há como não admirar a sua inteligência e seu sangue-frio. Sempre atento, o sujeito parece capaz de se safar das situações mais comprometedoras. Sua frieza ao telefone, enquanto escuta sua esposa ser atacada por um assassino, chega a assustar.

Já Gwyneth Paltrow repete, pela milésima vez, o tipo `mocinha sofredora` que já interpretou em Se7en e Grandes Esperanças. Enquanto isso, Viggo Mortensen não aproveita o potencial que seu personagem possui. Se bem explorado, este poderia ter sido um dos destaques do filme: afinal de contas, David Shaw ama ou não Emily Taylor? Ele é um sujeito decente, honesto ou é apenas a escória que Steven o acusa de ser?

A direção de Andrew Davis (O Fugitivo) é segura e aproveita bem o potencial da história. A cena do assassinato é particularmente bem dirigida e bastante tensa. Infelizmente, a resolução do filme deixa a desejar. Chega a ser irritante o fato de Steven Taylor cometer erros tão primários no final da história, depois de passar duas horas convencendo o espectador de que é capaz de bolar o crime perfeito e não cometer erros. Além disso, chega a ser ridícula a forma com que Emily encontra a evidência esclarecedora. Sua desculpa para ter descoberto a combinação do cofre do marido é ridícula, implausível.

Além disso, a resolução de seu conflito com Steven é artificial, hollywoodiana demais. O personagem de Steven Taylor merecia um final à la Gordon Gekko em Wall Street, ao invés de receber o tratamento reservado aos vilões dos filmes de ação. Aliás, por que tantos roteiristas se mostram tão hábeis ao criarem histórias envolventes e tão poucos conseguem terminá-las com um final à altura? Este é o caso de Um Crime Perfeito: a resolução não faz jus às duas primeiras horas de projeção.
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13 de Outubro de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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