Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
30/04/1999 | 15/01/1999 | 2 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
128 minuto(s) |
Dirigido por Irwin Winkler. Com: Val Kilmer, Mira Sorvino, Kelly McGillis, Steven Weber, Bruce Davison, Nathan Lane e Ken Howard.
`Não há lugar onde a natureza exponha mais abertamente seus mistérios secretos do que nos casos em que mostra vestígios de seu funcionamento fora do caminho trilhado.`, escreveu William Harvey no século XVII. Não é à toa que o Dr. Oliver Sacks cita esta frase em sua história Ver e Não Ver - que deu origem a este filme.
Virgil Adamson foi cego durante praticamente toda a sua vida e aos cinqüenta anos submeteu-se a uma cirurgia que lhe restaurou a visão. Sua história e sua dificuldade em enxergar levaram o Dr. Sacks a examiná-lo e a escrever um relato sobre sua experiência (como já havia feito em Tempo de Despertar). Pode soar estranho que uma pessoa tenha `dificuldade em enxergar` e é justamente por essa razão que Ver e Não Ver é a narrativa mais interessante do livro Um Antropólogo em Marte. Para nós, que enxergamos durante toda a vida, `ver` tornou-se uma ação tão corriqueira quanto respirar. Mas o que dizer de um homem que, ao ver o rosto de uma pessoa, não tem a menor idéia do que está a sua frente, que não é capaz de entender que um cachorro visto de frente é diferente de um cachorro visto de lado e que, finalmente, estende a mão para tocar um edifício que está a quilômetros de distância (já que, nunca tendo enxergado, não desenvolveu uma perspectiva de distância)?
Infelizmente, porém, os roteiristas Steve Levitt, Irwin Winkler e Rob Cowan não julgaram esta história suficientemente interessante para ser transformada em um filme. Ao invés disso, fizeram a (péssima) opção de narrar a experiência de Virgil a partir de seu envolvimento amoroso com sua noiva Amy, relegando ao segundo plano o choque que ele vivenciou ao ser apresentado a um estranho mundo de sombras e movimentos.
Já era de se prever que algumas modificações teriam que ser feitas no roteiro, o que é perdoável. A principal delas reside no próprio Virgil - de um cinquentão gordo e feio, ele acabou se transformando em Val Kilmer (afinal de contas, que estúdio bancaria um filme cujo protagonista se adequasse aos atributos físicos do verdadeiro Virgil?). No entanto, outras liberdades tomadas pelos roteiristas são injustificáveis, como as inclusões de um `pai ausente` na vida de Virgil e a de um ex-marido cínico e arrogante que insiste em reatar seu relacionamento com Amy - ambos os personagens não passam de invenções e, o que é pior, são absolutamente estereotipados e dispensáveis à narrativa.
Além disso, ao dotar Virgil de uma irmã super-protetora, o trio de roteiristas acabou destruindo o maior paradoxo existente na história do pobre homem: depois de ter vivido cinco décadas na mais completa independência (apesar de sua cegueira), ele tornou-se inseguro e dependente justamente ao recuperar a visão - sendo esta a prova definitiva de que a maior incomodada por sua `deficiência` era a Sociedade, e não ele.
Aliás, ao analisarmos a estrutura narrativa de À Primeira Vista a coisa se torna ainda pior: a quantidade de `furos` no roteiro chega a assustar, sendo o principal deles a questão do recorte de jornal encontrado por Amy no meio das revistas de Virgil. O artigo em questão trata sobre novas técnicas desenvolvidas para a cirurgia de catarata e é graças a ele que a garota descobre um meio de restaurar a visão do namorado. No entanto, quem colocou o recorte ali? Obviamente, não Virgil (o artigo está, inclusive, sublinhado). Já a irmã deste, Jennie, mostra-se até mesmo irritada com a idéia de submeter seu irmão a uma operação. A única explicação plausível: foram os roteiristas que colocaram o artigo ali a fim de fazer com que a narrativa passasse adiante.
Porém, ao contrário da qualidade do roteiro, as interpretações são de primeira linha, destacando-se o belo trabalho de Val Kilmer. A cena em que seu personagem enxerga pela primeira vez e, assustado, grita `Ver não pode ser isso!` é intensamente dramática. Se o filme tivesse investido mais nos choques das descobertas de Virgil o resultado final seria infinitamente superior. Já Mira Sorvino faz um bom contraponto, alternando momentos de resignação e determinação, enquanto Nathan Lane compõe um personagem que não se adequa ao tom desta história - apesar deste ter sido escrito, obviamente, para atuar como o `alívio cômico` da trama.
Com um final melodramático e inconsistente, À Primeira Vista acaba sendo mais um romancezinho `água-com-açúcar`, desperdiçando o potencial de uma grande - e complexa - história. Com o perdão do trocadilho, era melhor não ter visto este filme.
18 de Maio de 1999