Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
27/04/2001 12/01/2001 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
109 minuto(s)

Ameaça Virtual
Antitrust

Dirigido por Peter Howitt. Com: Ryan Phillippe, Claire Forlani, Rachael Leigh Cook, Richard Roundtree, Yee Jee Tso, Douglas McFerran e Tim Robbins.

Ameaça Virtual é um filme nada original: reaproveitando descaradamente elementos de produções como O Advogado do Diabo e A Firma, a história salta de um clichê a outro sem a menor hesitação. Cite qualquer convenção do gênero `herói-luta-contra-conspiração` e perceberá que ela aparece neste filme. Portanto, chega a ser surpreendente que Ameaça Virtual funcione tão bem.

Mas veja se você não conhece esta história: jovem promissor em seu ramo de atuação é contratado por uma grande empresa que, para satisfazê-lo, lhe oferece excelente salário, uma casa luxuosa, o carro do ano e possibilidade de ascensão. No entanto, para sua infelicidade, o rapaz logo percebe que por trás de fachada de profissionalismo e sucesso de seus empregadores esconde-se uma realidade sórdida e assustadora. Agora, ele terá que lutar sozinho contra a corporação. E o que é pior: sem poder confiar em ninguém.

Como você certamente percebe, a sinopse acima poderia descrever perfeitamente os dois filmes citados no primeiro parágrafo, além de poder ser relacionada, em maior ou menor grau, a diversos outros títulos, como Cop Land, Os Três Dias do Condor, JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar e O Suspeito da Rua Arlington (Tim Robbins parece ter um fraco por este tipo de produção), para citarmos apenas alguns exemplos. Além disso, o roteiro escrito por Howard Franklin jamais parece se preocupar com a coerência de seus personagens, que são capazes de tomar atitudes completamente absurdas que em nada combinam com o perfil que estes deveriam apresentar. Tomemos, como exemplo, o personagem de Robbins: depois de ser apresentado ao espectador como um sujeito inteligente e ardiloso, ele alterna momentos de brilhantismo intelectual com outros nos quais age como se fosse o irmão caçula de Forrest Gump. Em determinada cena, ele chega a entregar um código de programação ao personagem de Ryan Phillippe apenas um dia depois de tê-lo roubado do melhor amigo do rapaz - que, diga-se de passagem, já conhecia a base do código por ter trabalhado em sua concepção.

Aliás, a atuação de Tim Robbins é justamente um dos pontos fracos de Ameaça Virtual, o que não deixa de ser um choque, considerando-se o imenso talento deste ator/diretor. A verdade é que sua caricatura de Bill Gates (que já é caricato por natureza) é curiosa, mas óbvia demais - isso para não mencionarmos seu histrionismo inadequado em algumas cenas (como naquela em que exorta seus funcionários a `surpreendê-lo`). Além disso, teria sido mais interessante se o roteiro investisse mais no lado Gordon Gekko (aquele investidor inescrupuloso de Wall Street - Poder e Cobiça) de seu personagem, ao invés de transformá-lo em apenas mais um cruel assassino do cinema (e um dos menos marcantes, diga-se de passagem).

Por outro lado, Ryan Phillippe consegue conferir bastante energia ao seu personagem, o que é fundamental em um filme como este, no qual o espectador deve sentir a impotência do herói frente à grandiosidade de seus adversários. Mesmo assim, o ator demora a se decidir se quer compor seu personagem como um sujeito tímido e introspectivo ou de maneira frenética e impetuosa. Seja como for, a partir do segundo ato da história isso se torna irrelevante, já que ele está sempre correndo (embora seja um grande exagero o fato do personagem se revelar não apenas um gênio da informática, mas também da química e da eletrônica).

No entanto, apesar de todas as deficiências em seu roteiro, Ameaça Virtual sobressai-se graças à excelente direção de Peter Howitt, que suga todas as possibilidades apresentadas pela história para criar seqüências tensas que prendem o espectador à cadeira, como aquela em que o herói procura gengibre em sua comida (assista ao filme e entenderá) ou aquela em que várias telas pré-programadas vão alternando as pinturas que exibem à medida em que alguém diferente entra na sala em que se encontram (o único achado realmente original do roteiro). Na verdade, confesso estar curioso para descobrir o que Howitt, que já havia desapontado em De Caso com o Acaso, fará quando tiver um roteiro realmente bom em mãos.

Para completar, Ameaça Virtual merece créditos por utilizar, como pano de fundo de sua trama, um tópico atual e instigante: a corrida pelo desenvolvimento de novas tecnologias e ferramentas de rede. `Qualquer garoto trabalhando na garagem de sua casa pode nos arruinar`, diz o personagem de Tim Robbins em certo momento - e ele está certo. Infelizmente, o filme resolve deixar este tema inexplorado para dar lugar ao corre-corre desenfreado - que, pelo menos, é divertido.
``

3 de Maio de 2001

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!