Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
10/12/2016 | 21/09/2012 | 5 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Paris Filmes | |||
Duração do filme | |||
102 minuto(s) |
Dirigido e roteirizado por Stephen Chbosky. Com: Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Kate Walsh, Dylan McDermott, Melanie Lynskey, Nina Dobrev, Joan Cusack, Tom Savini, Mae Whitman e Paul Rudd.
O exercício da crítica é um de constante autorreflexão. Como forma de expressão literária, a Crítica depende não só do apuro estético e do conhecimento técnico e histórico de seu autor, mas também de seu referente, daquilo que torna sua voz relevante e única de alguma maneira. Assim, mesmo que não me atreva a considerar-me relevante, aprendi com o tempo a permitir que cada filme me conduza ao texto que exige: alguns se detêm na linguagem; outros, nos temas desenvolvidos; a maioria, em ambos.
Ocasionalmente, contudo, surge uma obra como As Vantagens de Ser Invisível, que, pela força de suas próprias convicções, parece me forçar a ocupar um divã enquanto assume o posto temporário de terapeuta em forma narrativa. Quando isto ocorre, lembro-me do conselho do mestre Roger Ebert, que, citando Robert Warshow em seu livro “A Experiência Imediata”, frequentemente dizia: “Um homem vai ao cinema. O crítico deve ser honesto o bastante para admitir ser aquele homem”.
Assim, peço perdão caso esta breve reflexão inspirada pelo longa escrito e dirigido por Stephen Chbosky (a partir de seu próprio livro) soe pessoal demais, mas muitas vezes o particular é a melhor forma de expressar o universal. Ou ao menos de tentar expressá-lo.
Na realidade, demorei um tempo considerável até decidir assistir a As Vantagens de Ser Invisível, já que alguma coisa em sua sinopse me levava a temer que a obra me remetesse a Para Sempre na Memória, que desempenhou papel importante em minha história pessoal: quando estava no 3o. ano do Ensino Médio, o filme foi usado como uma espécie de terapia coletiva em minha turma depois de termos perdido três amigas em um acidente de carro, em 14 de março de 1992 – e um professor bem intencionado, percebendo a incapacidade de seus alunos adolescentes de lidarem com aquilo, nos reuniu certa manhã e exibiu aquela história esperando… não sei, uma catarse coletiva? Uma cicatrização mais rápida? Sei que funcionou em parte: pudemos chorar, nos abraçar e reconhecer o óbvio: que jamais seríamos os mesmos. Não haveria como.
Alguns destes sentimentos estão em As Vantagens de Ser Invisível, embora este filme seja infinitamente mais otimista e doce que Para Sempre Na Memória – e, como pai de um pré-adolescente (sim, pai; eu, que ontem era o adolescente em luto), experimentei a melancólica sensação de lembrar como a adolescência é uma época de sentimentos de insegurança e inadequação recorrentes e de como é povoada por ansiedades disparadas por desejos tão comuns.
E digo isto mesmo tendo a consciência de que não tive a pior das adolescências. Ao contrário: tinha muitos e bons amigos, me divertia, não me preocupava excessivamente com notas e encontrava maneiras de fazer as coisas que me interessavam, incluindo política (o que me levou a fundar o grêmio de meu colégio e presidi-lo por dois anos). Namorei, briguei, fiz besteiras indizíveis e ri bastante.
Mas, sim, havia sempre aquela inquietação subjacente. “Estou fazendo as coisas certas? Como as pessoas me percebem? Que imagem passo? Que imagem quero passar? Quem eu quero ser? Como quero me tornar quem quero ser?”
Acho que foi George Bernard Shaw quem disse que “a juventude é desperdiçada nos jovens” (alguns atribuem a frase a Oscar Wilde). No contexto original, a frase apontava que os jovens tinham todo o tempo do mundo, mas não a maturidade para fazer algo significativo, ao passo que os velhos, com a sabedoria que haviam acumulado, já não contavam com os anos necessários para fazer alguma diferença. Minha percepção é um pouco diferente, embora acredite que a frase é profundamente verdadeira.
Para mim, o desperdício vem não em função da incapacidade dos jovens (pois são capazes), mas sim da fragilidade emocional e psicológica que atravessam justamente num período no qual poderiam estar vivendo com alegria incontida. Lembro das minhas tolas inseguranças de adolescente (com relação à minha aparência, ao meu intelecto, ao sexo, a tudo) e sinto vontade de voltar no tempo e dizer: “Relaxe. Respire. Aproveite. Viva. Aja. Não irresponsavelmente, arriscando sua vida ou a de outros (que tolice), mas aja. Você tem um tempo indizível diante de si, mas não infindável. Aproveite-o com sabedoria. Aproveite-o para crescer.”
“Você está construindo agora quem você vai ser durante o restante de sua vida.”
Claro que todos os erros cometidos contam nesta construção – e cometi muitos (ainda os cometo) -, mas não precisavam ser tão dolorosos. A idade traz a capacidade de relativizar os tropeços e de perceber que têm seu lado positivo. Para um adolescente, um erro, um embaraço público ou uma rejeição representam um golpe pavoroso; para o adulto, são apenas o que deveriam ser: experiências. Boas, más, neutras, mas experiências. Que ensinam.
Assistir a As Vantagens de Ser Invisível me fez simultaneamente rememorar as inseguranças tolas (mas, ah, tão excruciantes) da adolescência ao mesmo tempo em que me permitia a identificação com o professor vivido por Paul Rudd. Eu pude me sentir como aqueles adolescentes tão vulneráveis e também experimentar a vontade de abraçá-los e dizer que tudo ficaria bem.
Quis dizer que nem sempre se sentiriam “infinitos”, pois não o são, mas que ainda assim poderiam expandir infinitamente suas percepções de mundo e acerca de si mesmos.
E que, como cantou Bowie na música que marca esta produção, poderão experimentar – até mesmo por mais de um dia – a sensação de serem, sim, heróis.
10 de Dezembro de 2016
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