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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
21/08/2009 01/01/1970 4 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
100 minuto(s)

Se Beber, Não Case!
The Hangover

Dirigido por Todd Phillips. Com: Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha, Heather Graham, Sasha Barrese, Ken Jeong, Rachael Harris, Mike Tyson, Mike Epps, Rob Riggle, Cleo King, Jeffrey Tambor.

Judd Apatow (O Virgem de 40 Anos, Ligeiramente Grávidos) estabeleceu, nos últimos anos, um lugar seguro em Hollywood para si mesmo através de comédias que, lidando com as inseguranças e a imaturidade de jovens adultos do sexo masculino, divertem ao mesmo tempo em que ressoam junto ao público (especialmente homens) por tocarem em experiências comuns ao espectador. 2009, aliás, já trouxe dois bons exemplares do gênero: Gente Engraçada, do próprio Apatow, e o surpreendente Eu Te Amo, Cara, de John Hamburg. Aliás, uma correção: três bons exemplares, já que, apesar de mais absurdo do que os outros dois, este Se Beber, Não Case! não deixa de abordar inseguranças típicas desta geração de homens infantilizados – e o melhor: fazendo rir no processo.

Escrito por Jon Lucas e Scott Moore, o filme acompanha quatro amigos em uma viagem a Las Vegas para a celebração da despedida de solteiro de um deles. Depois de iniciarem a noite com um brinde no telhado de um hotel, eles acordam na manhã seguinte sem qualquer lembrança do que ocorreu nas horas anteriores e, portanto, sem entenderem por que o quarto está destruído ou por que há um tigre no banheiro e, não menos importante, sem terem a menor idéia do paradeiro do noivo. Tentando descobrir o que houve a partir de algumas pistas desconexas (um bebê num armário; um dente arrancado; uma pulseira de hospital), os amigos acabam constatando que talvez tenham se metido em encrencas mais graves do que haviam antecipado.

Neste sentido, Se Beber, Não Case! adota uma estrutura curiosa ao investir no mistério representado por aquelas horas perdidas – e não é difícil imaginar que esta mesma premissa poderia ter originado um drama policial pesado e tenso. Aliás, um dos méritos da direção de Todd Phillips reside na maneira com que o cineasta jamais descarta a possibilidade de que algo realmente sério possa ter ocorrido com o noivo desaparecido – o que fica claro quando, por exemplo, um personagem menor é baleado por bandidos que perseguem os heróis. Com isso, Phillips (responsável pelo ótimo Dias Incríveis, pelo bacana Starsky & Hutch e pelo aceitável Caindo na Estrada) confere peso a uma narrativa que, absurda por natureza, acaba assim sendo ancorada em algo parecido com o mundo real, o que a torna ainda mais eficiente.

E quando digo “absurda”, estou usando um eufemismo: se inicialmente a imagem de uma galinha caminhando pelo quarto do hotel pode parecer apenas como um toque ligeiramente surreal, aos poucos Se Beber, Não Case! mergulha o espectador num universo no qual policiais usam suspeitos como cobaias em apresentações estudantis, gângsteres asiáticos misturam gírias de rappers com trejeitos afeminados e Mike Tyson soa uma alma compreensiva e sensata. Ao mesmo tempo, Phillips não se furta de fazer referências apropriadas a filmes que usam Las Vegas como cenário, como Rain Man e Cassino, embora o longa seja agradavelmente econômico em suas citações a outras obras (já que isto vem se tornando um hábito excessivo de muitas comédias).

Mas o mais surpreendente em Se Beber, Não Case! é o cuidado com que o roteiro desenvolve seus três personagens principais (o noivo vivido por Justin Bartha tem relativamente pouco tempo de tela): vivendo o farrista Phil como um homem casado que tenta recuperar sua juventude de festas (não muito diferente, portanto, do Beanie interpretado por Vince Vaughn em Dias Incríveis, do mesmo diretor), Bradley Cooper não tenta fazer graça com o personagem, oferecendo uma performance contida que permite que as piadas surjam de maneira orgânica e natural, ao passo que Ed Helms, como o inseguro Stu, se solta bem mais ao investir na histeria em certos momentos, o que soa apropriado para um dentista certinho e reprimido que, talvez pela primeira vez na vida, enfrenta ameaças reais à sua vida. Porém, é Zach Galifianakis quem acaba se revelando como o grande destaque do filme: encarnando o personagem mais próximo de uma caricatura entre o trio principal, ele evita as armadilhas habituais da unidimensionalidade ao conferir uma importante doçura infantil ao sujeito. Já entre o elenco secundário, Ken Jeong explora ao máximo seu estranho Mr. Chow, roubando todas as cenas em que aparece, enquanto Heather Graham, bela como sempre, encarna de maneira correta o velho tipo da “prostituta com um coração de ouro”.

Reservando algumas de suas imagens mais gráficas para as fotos vistas durante os créditos finais, Se Beber, Não Case! é mais uma grata surpresa em um ano que já rendeu boas experiências para os fãs de comédia. E o melhor: pela primeira vez desde 2003, é possível que nenhuma bomba estrelada por Rob Schneider polua as telas de cinema nesta temporada. Há esperança para o mundo.

21 de Agosto de 2009

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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